Esta novena é como Santa Maria fez em Sardonay, preto de Domas, que a sa omagem, que era pintada en uma tavoa, se fizesse carne e manass’ oyo.
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Em esta cidade, que vos hei já dita,
ouv’ i uma dona de mui santa vida,
mui fazedor d’algu’ e de todo mal quita,
rica e mui nobre e de bem comprida.
Mas, por que sabíamos
como non queria
do mundo gabança,
como fez digamos
um’ albergaria,
u filhou morança.
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
E ali morand’ e muito bem fazendo
a toda-las gentes que per i passavam,
veio i um monge, segund’ eu aprendo,
que pousou com ela, com’ outros pousavam.
Diss’ ela: « Ouçamos
u tenhedes via,
se ides a França. »
Diss’ él: « Mas cuidamos
dereit’ a Soria
log’ ir sem tardança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Log’ entón a dona, chorando dos olhos,
muito lhe rogava que per i tornasse,
des que él ouvesse fito-los genolhos
ant’ o San Sepulcro e en él beijasse.
« E mais vos rogamos
que, se vos prazia,
uma semelhança
que d’alá vejamos
da que sempre guia
os seus sem errança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Pois que foi o monge na santa cidade,
u Deus por nos morte ena cruz prendera,
comprido seu feito, ren da magestade
non lhe veio a mente, que él prometera;
mas disse: « Movamos, »
a sa companhia,
« que gran demorança
aqui u estamos
bõa non seria
sem haver pitança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Quand’ est’ ouve dito, cuidou-s’ir sem falha;
mas a voz do ceo lhe disse: « Mesquinho,
e como non levas, assi Deus te valha,
a omagem ’tigo, e vas teu caminho?
Esto non loamos;
ca mal ch’estaria
que, per obridança,
se a que amamos
monja non havia
da Virgem sembrança.»
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Mantenent’ o frade os que com él iam
leixou ir, e logo tornou sem tardada
e foi buscar u as omages vendiam,
e comprou end’ a, a melhor pintada.
Diss’ el: « Bem mercamos;
e quem poderia
a esta osmança
põer? E vamos
a noss’ abadia
com esta gaança.»
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
E pois que o monge aquesto feit’ ouve,
foi-s’ entón sa vi’, a omagen no seio.
E log’ i há preto um león, u jouve,
achou, que correndo pera ele veio
de so uns ramos,
non com felonia,
mas com homildança;
por que bem creamos
que Deus o queria,
guardar sem dultança.
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Des quando o monge do león foi quito,
que, macar se fora, non perdera medo
dél, a pouca d’ora um ladrón maldito,
que Romeus roubava, diss’ aos seus quedo:
« Por que non matamos
este, pois desvia?
Dar-lh-ei com mia lança,
e o seu partamos,
logo sem perfia
todos per iguança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Quand’ est’ ouve dito, quis em él dar salto,
dizendo: « Matemo-lo ora, irmãos. »
Mas a voz do ceo lhes disse mui d’alto:
« Sandeus, non ponhades em ele as mãos;
ca nos lo guardamos
de malfeitoria
e de malandança,
e bem vos mostramos
que Deus prenderia
de vos gran vingança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Pois na majestade viu tan gran virtude,
o mong’ entón disse: « Como quer que seja,
bõa será esta, asse Deus m’ajude,
em Costantinoble na nossa eigreja;
ca, se a levamos
alhur, bavequia
e gran malestança
será, non erramos. »
E ao mar s’ia
com tal acordança.
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
E em uma nave com outra gran gente
entrou, e gran peça pelo mar singraron;
mas uma tormenta veio mantenente,
que do que tragiam muit’ en mar deitaron,
por guarir, osmamos,
e ele prendia
com desesperança,
a que aoramos,
que sigo tragia,
por sa delivrança,
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Por no mar deita-la. Que a non deitasse
uma voz lhe disse, ca era pecado,
mas contra o ceo suso a alçasse,
e o tempo forte seria quedado.
Diz: « Prestes estamos. »
Entón a ergia
e diz com fiança:
« A ti graças damos
que es alegria
noss’ e amparança. »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
E log’ a tormenta quedou essa ora,
e a nav’ a Acre entón foi tornada;
e com sa omagem o monge foi fora
e foi-se à casa da dona honrada.
Ora retraiamos
quan grand’ arteria
fez per antolhança;
mas, como pensamos,
tanto lhe valrria
com’ uma garvança,
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
O monge da dona non foi conhoçudo,
onde prazer ouve, e ir-se quisera;
logo da capela u era metudo
non viu end’ a porta nem per u venhera.
« Por que non leixamos. »
contra si dizia,
« e sem demorança,
esta que compramos,
e Deus tiraria
nos desta balança? »
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.
Él esto pensando, viu a port’ aberta
e foi à dona contar sa fazenda,
e deu-lh’ a omagem, ond’ ela foi certa,
e sobelo altar a pos por emenda.
Carne, non dultamos,
se fez e saya
dela, mas non rança,
grossain, e sejamos
certos que corria
e corr’ abondança.
Por que nos hajamos
sempre, noit’ e dia,
dela renembrança,
em Domas achamos
que Santa Maria
fez gran demostrança.