Carta de Álvares de Azevedo à sua irmã (1851)

12 de agosto.

Minha irmã,

No dia de teus annos que queres que eu te diga?

Que os annos da virgem são como as manhãs das flores? E que na aurora da vida flores e donzellas, scintillantes do orvalho de Deos, tem mais pureza e perfume?

Não. Dir-te-hei somente uma cousa. É que lá no Rio vale talvez a pena fazer annos. Numa tarde de primavera, e d’esperança, vivendo e sentindo-se viver, é doce por ventura sentir que mais um anno passou como um sonho, mais um anno de saudade e felicidade.

Aqui não accontece assim. O céo tem nevoas, a terra não tem verdura, as tardes não tem perfume. É uma miseria! É para desgostar um homem toda a sua vida de ver ruinas! Tudo aqui parece velho e centenario... até as moças! São insipidas como a mesma velhice!

O dia 12 de Setembro está para chegar. Estou quasi não fasendo annos d’esta vez.

Adeos, minha irmã. A pagina nova da vida que se abrio hoje seja tão feliz como a que se fechou hontem. O dia seja bello como a aurora, — o futuro tão suave como a saudade é doce. Adeos!

É a palavra que de entre as taipas em ruinas da nossa terra te envia


teu irmão do C.

Azevedo.