Sils Maria, 2 de julho de 1885
[...]Eu tenho feito ditados quase todos os dias por três ou quatro horas. Mas a minha “filosofia” – se é que eu tenho o direito de chamar o que atormenta as raízes mais fundas do meu ser com este nome, não é mais comunicável, ao menos com o propósito de ser imprimida. [...]Além do mais, nossa época é infinitamente superficial, e eu de vez em quando tenho vergonha de mim por já ter me pronunciado tanto a um público o que, em nenhum momento, mesmo em épocas mais importantes e profundas, teria sido apropriado para consumo “público”. A desavergonhada “imprensa livre” deste século é suficiente para arruinar os instintos e o bom gosto de qualquer um. Eu seguro diante de mim as imagens de Dante e Spinoza, que foram melhores em aceitar a sua carga de solidão. Claro que seu modo de pensar, comparado ao meu, é do tipo que faz a solidão ser tolerável; e no final, para todos aqueles que ainda tem um “Deus” para companhia, o que experimento como “solidão” ainda não existe na verdade. Minha vida consiste agora no desejo de que as coisas que eu comprendo talvez sejam de outra forma, e que alguém pode fazer minhas “verdades” tornarem-se inacreditáveis para mim.