Nice, 14 de novembro de 1886
Querido amigo, [...]A antinomia da minha situação atual, da forma da minha existência, consiste nisto: tudo que eu preciso para ser um philosophus radicalis – a liberdade profissional, esposa, filhos, sociedade, pátria, fé, etc. etc. – é da mesma forma minha privação, na medida em que tenho a boa sorte de ser uma criatura viva e não meramente uma máquina de análise ou um aparelho objetivador. Eu devo acrescentar que esta justaposição de necessidades e privações é levada a extremos pela falta de uma saúde ao menos moderamente estável. Porque nos meus momentos de saúde eu sinto a privação de forma menos aguçada. Além disto, eu não sei absolutamente nada sobre como reunir as cinco condições que poderiam devolver minha delicada saúde para o mínimo tolerável. Finalmente, seria a pior situação possível se, para conseguir estas cinco condições de saúde, eu tivesse de me privar das oito liberdades do philosophus radicalis. Isto me atinge como o preço mais concreto da minha situação especialmente delicada… Perdoe-me! Ou melhor, pode gargalhar disto![...]