Nice, 14 de dezembro de 1887

Caro e ilustre amigo,

Durante os últimos anos a veêmencia das minhas vibrações internas foi assustadora. Agora que eu tenho de mudar para uma nova e elevada forma de expressão, preciso antes de tudo de um novo senso de alienação, uma despersonalização ainda maior.

Na Alemanha reclamam muito da minha "excentridade". Mas, como não se sabe onde repousa meu centro, torna-se difícil saber onde ou quando eu fui "excêntrico". Que eu seja um filólogo, por exemplo, significa que estou fora do meu centro ( o que por sorte não quer dizer que eu seja um filólogo fraco ). Da mesma forma, eu agora considero que ter sido um wagneriano foi uma excetridade. Foi uma experiência altamente perigosa; agora que estou ciente isso não me arruina. Sei também o significado que isso teve para mim - foi o mais severo teste de caráter que passei.

[...] Ninguém passou perto de ter a coragem e a inteligência para me revelar aos meus estimados alemães. Meus problemas são novos, meu horizonte psicológico assustadoramente largo, minha linguagem forte e clara. Talvez não haja nenhum livro escrito em alemão que seja tão rico de idéias e tão independente quantos os meus. [...]