Por preguiça pecam os religiosos cada vez que adormecem no mosteiro ou são moles ao serviço de Deus, ou quando lhe anoja o longo serviço, ou quando perdem algumas horas ou quando vêm tarde por dormir ou por sua própria vontade; especialmente quando por preguiça deixam a seu ciente de dizer suas horas canônicas ou de Santa Maria, eles pecam mortalmente.

E saibam que, se por as coisas que são de graça ou de vontade, deixam ou tardam de dizer suas horas, a que são teúdos, ou deixam a igreja à direita hora, ou se homem diz suas horas escondidamente por dizer algumas orações especiais , ou quando homem é na igreja, que deve cantar e ajudar os outros, e o deixa de fazer por outras orações, em todos estes casos pecam os homens religiosos gravemente, que São Bernardo diz: "Deus não faz conta nem lhe praz de coisa que seja oferecida de vontade, até que lhe seja pagada a direita dívida". Em isto são enganados aqueles que são diligentes a fazer o que não são teúdos e são negligentes e preguiçosos a fazer o que são obrigados.

E por isto disse Salomão: "Aí há um caminho que aos homens parece bem direito, mas, no fim[1], leva-os ao inferno". Ca, muitas aí há de gentes, de que é de haver dó, que cuidam estar em caminho de saúde, e são aviados a perdição. E estes são aqueles e aquelas que fazem seus caminhos sem discrição e que não querem crer conselho. Mas quando homem tem pagado o que deve, então pode fazer e dizer o que quiser e puder de bem, especialmente a Madre de Deus saudar amiúde, e servir e amar, que quem bem a amar e servir não morrerá má morte.

  1. "Na fim", no original.