Colégio Rio Branco se transforma em Marista

Maristas, um novo avanço

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A escola pioneira do professor Cid foi negociada pela Prefeitura com o Colégio Marista

O padre Marcelino Champagnat, fundador dos Irmãos Maristas e santo desde 1999, nasceu em plena Revolução Francesa, em maio de 1789, e ao começar a estudar estava longe de ser o melhor da classe. Com muita aplicação, conseguiu se destacar no estudo do Latim e se ordenou padre em 1816, criando o germe de sua organização – a Congregação dos Irmãozinhos de Maria (daí serem chamados de “maristas”). Os primeiros irmãos maristas vieram da França ao Brasil em de outubro de 1897, começando seu trabalho educacional em Congonhas do Campo (MG).

Os maristas chegaram ao Paraná em 1925 e seu “namoro” com Cascavel começou em 28 de setembro de 1956, quando se deram os primeiros contatos entre o Irmão Provincial Marista, João de Deus, e o prefeito José Neves Formighieri. Desse encontro resultou a doação, por parte do Município de Cascavel, de uma área de 71.487 m² para as obras do Colégio Marista. Era uma área enorme, um grande patrimônio para os Irmãos Maristas no interior do Paraná, mas não estava localizado no centro da cidade. Essa área, seis anos depois, começaria a receber as obras do Estádio Ruy Gândara (depois Ciro Nardi). Hoje, ali se encontra o Complexo Esportivo Ciro Nardi. Mesmo com essa fantástica doação oficial por parte do Município, porém, os Irmãos Maristas não vieram imediatamente a Cascavel. O irmão João de Deus se assustou com o clima de guerra política existente em Cascavel e ficou com um pé atrás, mas é provável que recusou vir logo a Cascavel em função da distância, pois a área do atual Ciro Nardi era considerada “longe” do centro, havia a necessidade de recursos para as obras e o alunado na época era extremamente reduzido. O Município teria que oferecer mais para ter os Irmãos Maristas.

Mas a essa altura, já estava em Cascavel o professor Antônio Cid, cuja vinda ao Oeste do Paraná é uma história à parte. Era uma época em que juiz algum queria assumir a direção da Comarca de Cascavel. O primeiro juiz titular deu uma volta pela cidade e saiu correndo de volta ao aeroporto: sequer chegou a assumir devido ao clima tenso e à criminalidade reinante. Quando foi cogitado para vir a Cascavel para assumir a espinhosa função, o juiz Aurélio Feijó também não gostou muito da idéia, mas afirmou que viria sob a condição de que houvesse uma escola de grau médio para seus filhos. Coube ao banqueiro Alceu Barroso (Banquiri) a missão dar um encaminhamento favorável à exigência do juiz. O Banquiri tinha muito interesse em que as questões legais começassem a se resolver na lei e não na bala, através de jagunços. Assim, Barroso entrou em contato com um professor que ele conheceu no interior paulista. Ele se chamava Antônio Cid e na época lecionava em Santo Antônio da Platina. Cid concordou em vir a Cascavel para criar uma nova escola – a primeira de grau médio.


Cid chegou em abril de 1954 justamente com esse objetivo, mas uma escola não surge do nada. O juiz Aurélio Feijó veio efetivamente para assumir o Fórum da Comarca, iniciando atividades em junho de 1954, mas devido à inexistência de uma escola funcionando ele ficou apenas um mês em Cascavel e pediu remoção para outra Comarca. Mas Feijó já havia deixado sua grande contribuição histórica, pois o professor Cid se entrosou com a comunidade e além de prestar serviços ao Cartório da Comarca, recebeu incentivo para formar a escola que foi a origem de sua vinda a Cascavel.

A construção do Colégio Estadual de Segundo Grau Rio Branco aconteceu em 1956, época em que os Irmãos Maristas começaram a se interessar em vir para Cascavel. Era um prédio de madeira com quatro salas de aula, localizado na atual rua Paraná, esquina com a atual travessa Padre Champagnat. O estabelecimento abrigava o Ginásio Rio Branco e a Escola Técnica de Comércio: as duas escolas funcionavam num prédio de quatro salas que ainda tinha a metade de sua capacidade livre. O educandário foi oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura em 12 de março de 1957. Quando a Comarca foi “despejada” de seu prédio alugado, o professor Cid acolheu o Fórum em sua modesta escola: “Como não havia outro lugar para se colocar, na minha escola eu tinha duas salas disponíveis, cada uma com 48 metros quadrados. Ficou ali funcionando até que se arrumou outro lugar para colocá-lo, na travessa Willy Barth, hoje denominada Jarlindo João Grando”.

Além do professor Cid, lecionaram naquela escola os professores Celso Formighieri Sperança, primeiro secretário municipal da Educação, e o advogado José Bernardo Bertoli, proprietário da Rádio Colméia. O educandário chegou a ter funcionando, além das duas escolas, o Fórum, depois do “despejo” da Comarca, a Prefeitura e a Câmara Municipal, depois do incêndio da Prefeitura, em dezembro de 1960, e o Cartório Cid. Por isso se dizia que Cid “apadrinhava” os “quatro poderes”: Executivo, Legislativo, Judiciário e a Educação.

Um estádio no lugar da escola

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Em 1961 a Escola Técnica de Comércio Rio Branco foi declarada de utilidade pública pelo Município de Cascavel e passou a receber uma “subvenção anual”. Era o início do processo de absorção do educandário, então particular, pelo Município, o que veio a facilitar os entendimentos com os Irmãos Maristas para sua vinda a Cascavel, rejeitada em setembro de 1956, apesar da doação da área onde hoje está o Complexo Ciro Nardi.

No início de janeiro de 1962 chegava a Cascavel o irmão marista Carlos Leone, que viria a ser o primeiro diretor do Colégio Marista, para negociar entre a ABEC (Associação Brasileira de Educação e Cultura), mantenedora dos colégios maristas, e a Prefeitura a transferência de todo o patrimônio das escolas do professor Cid aos Irmãos Maristas em troca da área doada em 1956 pelo prefeito José Neves Formighieri. Assim, os Irmãos Maristas começavam a lecionar no antigo Colégio Rio Branco e o Município começou a construir na antiga área dos padres o Estádio Municipal Ruy Gândara (depois Ciro Nardi).

No dia 20 de janeiro de 1962 os Irmãos Maristas receberam do prefeito Octacílio Mion as chaves do Colégio Rio Branco. Mais: a Prefeitura ajudou o Colégio Marista abrindo crédito para pagar bolsas de estudo a alunos carentes. As matrículas foram abertas no dia 22 de janeiro e as aulas começaram a 24 de março, já sob a direção do irmão Carlos Leone, que permaneceu no cargo até 1966, sendo substituído pelo irmão Amadeos Borcardin.

Em 1964, com os Irmãos Maristas dando plenamente conta de suas responsabilidades, o Município transferiu definitivamente o antigo Colégio Rio Branco à ABEC. O Colégio Marista esteve presente no movimento comunitário para a conquista do ensino superior, na década de 70, através da participação direta do diretor Amadeos Boscardin. E em abril de 2003 o Colégio Marista deu mais um importante e decisivo passo em sua história ao inaugurar o novo Complexo Educacional de Cascavel e assim iniciar uma trajetória que a conduzirá a uma estrutura universitária.

(Fonte: Alceu A. Sperança, jornal O Paraná, janeiro de 2006)