Coisas do Oeste paranaense. E do Mundo
editarAlceu A. Sperança
editarAcredite: fontes mentem
editarCascavel (PR ) - Quando o jornalista britânico Max Hastings (autor do livro Armageddom) saiu para fazer o primeiro trabalho, ouviu do chefe de redação um conselho que deveria levar sempre em conta ao entrevistar políticos: “Eles mentem, eles mentem, eles mentem”.
Mas não só eles. Fontes, em geral, mentem. E distorcem, enganam-se a si mesmas com suas ilusões e idiossincrasias, trocam as bolas, confundem datas e fatos, tendem a se pôr (e a seus parentes e amigos) no centro da história que contam, mesmo quando são meros coadjuvantes. Pior: não hesitam em inventar mentiras sinceras, como dizia Cazuza, a respeito dos adversários e inimigos.
Nossos jornalistas e historiadores estão constantemente caindo nas lorotas de más fontes. É preciso pôr em xeque, em confronto, em constante estado de dúvida, toda informação proveniente de qualquer fonte, por mais que ela pareça confiável.
A narrativa oral é a que mais se presta a mentiras, algumas até ditas sem mau propósito, causadas pela confusão mental dos entrevistados. Um homem honrado, que tinha um tumor ainda não descoberto no cérebro, sempre que me encontrava na rua lamentava a morte de meu pai, Celso Formighieri Sperança. Que estava bem vivo na época.
Essa fonte no início passava ótimas informações, mas com a manifestação da doença, apesar da convicção, elas eram geralmente falsas. Outra fonte que engana muito é a “inteligente” e “culta”, cuja checagem requer maior rigor. E os que parecem mais sinceros, como os velhinhos, com seus olhos inocentes, são os que mais trapaceiam ou confundem as coisas.
Avenida bajulatória
Os arquivos de jornais são extremamente perigosos. Os jornais dos tempos das ditaduras estão repletos de falsificações e opiniões bajuladoras. Por eles se deduz que foi o primeiro governador do Território do Iguaçu, o paranaense João Garcez do Nascimento, a cometer a bobagem de designar Laranjeiras do Sul como a capital, desprezando a já consolidada Foz do Iguaçu e a promissora Cascavel.
Mas o major Oscar Ramos Pereira, que construía a atual BR-277 naquela época, deixou bem claro que o segundo governador, Frederico Trotta, antes de tomar posse, desde o Rio de Janeiro, manobrava para não ter que levar seus parentes e cupinchas ao “fim de mundo” fronteiriço, onde os paraguaios ou os argentinos poderiam degolar sua gente num ataque noturno. De resto, em 1944 a avenida Brasil de Cascavel não passou a se chamar “Governador João Garcez do Nascimento”, mas “Avenida Major Frederico Trotta” (argh!), e Trotta só assumiu (e caiu) em 1946.
Fontes bibliográficas também induzem a erro, como vimos no caso da “cidade de Cascavel” que o CPDOC da Fundação Getúlio Vargas dá como existente em 1925. Os livros volta e meia perpetuam informações de más fontes, daí a necessidade de checar bem antes de aceitar e passar o dado adiante.
É necessário, a cada máscara que cai, a cada prova corretiva, refazer as teses e reeditar trabalhos acadêmicos que por não checar as fontes ou por tê-las como inquestionáveis foram induzidos a erro. Não é nenhuma vergonha ter sido enganado: vergonhoso é não abrir o olho.
Um queridíssimo personagem de nossa história, em depoimento oral, passou uma informação errada que deu num ridículo engano oficial: a “rua Antônio Leivas”, personagem que nunca existiu. Mas a rua continua com esse nome, teimosamente, e ninguém mais se lembra de Antônio Rodrigues de Almeida, o verdadeiro e esquecido personagem histórico que deveria ser homenageado. Fontes, por mais confiáveis que sejam, mentem, engabelam ou trocam as bolas. Duvide de tudo. A começar pelo que acabou de ler.
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