- Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
- Por toda a parte das coisas sobrepostas,
- Os andares vários da acumulação da vida...
- Calaram o piano no terceiro andar...
- Não oiço já passos no segundo andar...
- No rés-do-chão o rádio está em silêncio...
- Vai tudo dormir...
- Fico sozinho com o universo inteiro.
- Não quero ir à janela:
- Se eu olhar, que de estrelas!
- Que grandes silêncios maiores há no alto!
- Que céu anticitadino! —
- Antes, recluso,
- Num desejo de não ser recluso,
- Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
- Um automóvel — demasiado rápido! —
- Os duplos passos em conversa falam-me...
- O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...
- Vai tudo dormir...
- Só eu velo, sonolentamente escutando,
- Esperando
- Qualquer coisa antes que durma...
- Qualquer coisa.