(Rodolphe Bringer)
Era uma vez uma pequena tão gentil, tão gentil, como não é possível explicar.
Para dar uma idéia do que era ela, deve-se dizer que a sua mãe, a propósito de tudo ou sem propósito nenhum, lhe dava de vez em quando um beliscão. Ao contrário, porém, do que faziam as outras meninas, esta não ia, jamais, queixar-se à polícia.
O seu consolo era reclamar:
— Quando eu for grande, e tiver uma filha, hei de dar-lhe, também, uma porção de beliscões!
O tempo ia, porém, passando, e nada da menina ficar moça, para casar-se, ter uma filha, e dar, nesta, os beliscões que a mãe lhe dava.
Um dia, enfim, a menina sentiu-se mulher. Com a resolução de cumprir a promessa feita durante tantos anos, a moça de agora casou-se, por uma semana ou duas, com o açougueiro do canto.
Ao fim de nove meses nasceu-lhe um filho homem.
Desapontada, e disposta a cumprir sua palavra, a rapariga casou-se com o leiteiro, depois com o caixeiro, e ainda com um "chauffeur" e, finalmente, com um empregado do café. E cada um desses lhe deu um filho varão.
— Quem sabe se não é porque eu sempre me tenho, casado com homens, que os filhos nascem homens? — pensou.
E experimentou casar-se com a telefonista.
Desta vez, porém, não lhe nasceu nada.
Há, mesmo, neste mundo, muita gente sem sorte...