Contos Populares Portuguezes/A romanzeira do macaco
Era uma vez um macaco que estava emcima de uma oliveira a comer uma romã; succedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e passado pouco tempo nasceu uma romanzeira. Quando o macaco viu a romanzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe: — «Arranca a tua oliveira para crescer a minha romanzeira. «Responde o homem: — «Não estou para isso.» Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe: — «Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira, para crescer a minha romanzeira.» Responde a justiça: — «Não estou para isso.» Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe: — «Rei, tira a vara á justiça, para ella prender o homem, para elle arrancar a oliveira, para crescer a minha romanzeira.» Responde o rei: — «Não estou para isso.» Foi o macaco ter com a rainha: — «Rainha, poê-te mal com o rei, para elle tirar a vara á justiça, etc.» Responde a rainha: — «Não estou para isso.» Foi-se ter com o rato: — «Rato, roe as fraldas á rainha para ella se pôr de mal com o rei, etc. «Responde o rato: — «Não estou para isso.» Foi-se ter com o gato: — «Ó gato come o rato, para elle roer as fraldas á rainha, etc. «Responde o gato: — «Não estou para isso.» Foi-se ter com o cão: — «Ó cão morde o gato, para elle comer o rato, etc. «Responde o cão: — «Não estou para isso.» Foi ao pao e disse-lhe: — «Pao, bate no cão, para o cão morder o gato, etc.» — «Não estou para isso.» Foi ter com o lume: — «Lume, queima o pao, para elle bater no cão, etc.» — «Não estou para isso.» Foi ter com a agua: — «Ó agua, apaga o lume para elle queimar o pao, etc.» — «Não estou para isso.» Foi ao boi: — «Ó boi, bebe a agua para ella apagar o lume, etc.» — «Não estou para isso.» Foi ao carniceiro: — «Carniceiro, mata o boi para elle beber a agua, etc. — «Não estou para isso.» Foi ter com a morte: — «Ó morte, leva o carniceiro, para elle matar o boi, etc. — «A morte ia para levar o carniceiro e elle disse-lhe: — «Não me leves que eu mato o boi. «Disse o boi: — «Não me mates que eu bebo a agua.» Disse a agua: — «Não me bebas que eu apago o lume.» Disse o lume: — «Não m’apagues que eu queimo o pao.» Disse o pao: — «Não me queimes que eu bato no cão.» Disse o cão: — «Não me batas que eu mordo o gato.» Disse o gato.«: — «Não me mordas que eu como o rato.» Disse o rato: — «Não me comas que eu roo as fraldas á rainha.» Disse a rainha: «Não me roas as fraldas que eu ponho-me de mal com o rei.» Disse o rei: — «Não te ponhas mal commigo que eu tiro a vara á justiça.» Disse a justiça: — «Rei, não me tires a vara que prendo o homem.» Disse o homem: — «Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira.» E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romanzeira.
(Coimbra)