O cuco era marido da popa e a popa era muito estragada; quando era no principio do anno comia tudo e depois andava a pedir misericordia. Foi pedir uma vez á melra para irem ambas pedirem ás formigas se lhes davam algum soccorro e as formigas disseram para a melra: — «Emquanto tu andaste de silveira em silveira — chelro, merlo, merlo, merlo, chelro — ganháras pão para o inverno.»
O moxo era o rendeiro n’esse tempo; o cuco mandou lá a mulher pedir-lhe um carro de pão. O rendeiro disse-lhe: — «Pois sim; eu empresto-te esse carro de pão, mas has de dormir cá esta noite, que eu amanhã mando-te lá o pão pelos meus moços no meu carro e com os meus bois.»
A popa ficou lá e o moxo mandou-lhe ao outro dia o carro de pão; o cuco assim que o carro lá chegou ficou com carro, bois e tudo, dizendo que a mulher tinha ganho tudo.
N’isto o moxo mandou obrigar o cuco pelos bois e carro; depois foram a juizo e o juiz deu-lhes de sentença — o cuco que andasse a publicar por esse mundo todo que era cuco, porque o quiz o o moxo que andasse de terra em terra em busca dos bois; faz elle —: «Bois, bois»; a popa que havia de andar recommendando ás outras mulheres para pouparem[1] o que tinham a fim de não se verem obrigadas a ir pedir a mariolas como o moxo.
(Ourilhe.)
Notas do autor
editar- ↑ Popa poupar jogo de palavras.