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O RABO DO GATO

Era de uma vez um gato que foi ao barbeiro para que lhe fizesse a barba. O barbeiro disse ao gato: — «Se tu tivesses o rabo mais curto ficarias muito mais bonito.» Disse-lhe o gato: — «Pois corta-lhe um bocado.» Cortou o barbeiro o rabo do gato e elle foi-se embora; mas no meio do caminho disse para comsigo: — «E o barbeiro que me ficou com o meu rabo! Deixa-me ir pedir-lh’o.»

Foi ter com o barbeiro e disse-lhe: — «Dá me o meu rabo, senão furto-te uma navalha.» Como o barbeiro lhe não desse o rabo, furtou-lhe a navalha.

Foi-se o gato por ali fóra e viu uma peixeira que não tinha faca para cortar o peixe e disse-lhe: — «Toma lá esta navalha.» Mais adiante voltou atraz e disse á peixeira: — «Dá cá a navalha, senão furto-te uma sardinha.» Como a peixeira lhe não desse a navalha, furtou-lhe a sardinha.

Foi se e mais adiante viu um moleiro a comer pão secco e disse-lhe: — «Toma lá esta sardinha.» Mais adiante voltou atraz e disse ao moleiro: — Dá cá a minha sardinha, senão furto te uma taleiga de farinha.» Como o moleiro já tivesse comido a sardinha, furtou-lhe a taleiga de farinha.»

Foi o gato ter a uma mestra de meninas que não tinha que lhes dar á merenda e disse-lhe: — «Toma lá esta taleiga de farinha para papas.» Mas depois arrependeu-se e voltou atraz e disse á mestra: — «Dá cá a minha taleiga de farinha, senão furto-te uma menina.»

Saiu com a menina e foi ter com uma lavadeira e disse-lhe: — «Tu estás a lavar a roupa sosinha; toma lá esta menina para te ajudar.» Deixou ficar a menina, mas depois voltou atraz a pedil-a á lavadeira, e, como esta lh’a não quizesse dar, furtou-lhe uma camisa.

Foi-se mais para diante; viu um violeiro sem camisa e disse-lhe: — «Coitado estás sem camisa; toma lá, vae-te vestir.« Em quanto elle foi vestir a camisa, furtou-lhe o gato uma viola e depois subiu para cima d’uma arvore e começou a tocar viola e a cantar:

— «Do meu rabo fiz navalha;
Da navalha fiz sardinha;
Da sardinha fiz farinha;
Da farinha fiz menina;
Da menina fiz camisa;
Da camisa fiz viola;
Frum, fum, fum,
Vou para a minha escola.»

(Coimbra)