Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905)/O romance de Adelina

O ROMANCE DE ADELINA

(FRAGMENTOS DE CARTAS)

Meu pae, minha mãe, as pessoas que me cercam dizem-me continuamente que a vida é triste, que o dever tem sempre um aspecto difficil, que as chiméras da nossa imaginação nunca chegam a realizar-se...

Eu ouço-os, mas affirmo-te que não estou nada convencida.

Supponho ás vezes que vejo a existencia pelo avesso, que tenho um modo muito extravagante de comprehender as cousas.

Ouço por exemplo chamar romanescas a todas as mulheres loucas ou desgraçadas.

Ás que deixam seus maridos para seguir um sujeito de bigode e collete branco que lhes recitou versos ao piano entre dois candelabros; ás que andam toda a vida á procura de um ideal que ora encontram ora deixam, percebendo que se enganaram; ás que usam olheiras e cabellos cahidos, e fallam do seu desespero inconsolado entre uma quadrilha e uma valsa.

Para mim essas mulheres são tudo menos romanescas.

Sabes ao que eu chamo romantismo?

A uma aspiração delicada, a tudo que é bello e bom. A um desejo ardente de perfeição que se não satisfaz facilmente. A uma tendencia para idealisar os deveres e os sentimentos.

Crê, minha boa Thereza, que não ha ninguem mais romantica do que eu!

Chego ás vezes a ter medo de que isto seja um pendor funesto que me arraste a algum desvario.

No outro dia casou aqui uma prima minha.

É uma galante rapariga, bem educada e intelligente.

Encontrou o noivo uma duzia de vezes, elle pediu-lhe licença para confessar aos paes que a amava muito.

D’alli a dous mezes, concluidos os preparativos, casaram-se.

Não se conhecem nada, mas como as fortunas, as idades, e as posições dos paes estavam em harmonia, concluiram que se haviam de dar optimamente.

Aquelle casamento que agradou a toda a gente, consternou-me a mim.

O meu casamento ha de ser o unico romance da minha vida, mas affirmo-te que o quero bem longo, bem completo. Quero que as suas paginas luminosas lidas uma vez me dourem de mysteriosa claridade todo o futuro. Quero amar o meu noivo para adorar eternamente o meu marido.

Dizem que o dever é sempre custoso de cumprir.

Conforme!

Eu tenho dezoito annos, e nunca até hoje liguei á ideia do dever uma ideia que não fosse de satisfação intima.

Sou tão feliz em amar meus paes, em soccorrer os desgraçados, em cultivar o meu espirito, em sacrificar os meus prazeres aos prazeres de alguem!

O sacrificio seja elle de que genero fôr, parece-me uma dôr suave, uma sensação de pungitiva delicia, que nos eleva e nos engrandece.

Só os que sabem sacrificar-se affirmam a sua superioridade.

Tenho medo de ser criminosamente aristocrata.

Parece-me que assim como as pessoas bem educadas nunca se deixam avassallar pela gula, pela violencia dos appetites grosseiros, assim as almas finas não devem entregar-se a uma ambição desregrada de prazeres.

Soffrer é uma condição humana, mas ha soffrimentos que são a mais requintada das doçuras.

Ás vezes olho para minha mãe e lembro-me que se pudesse trocar a minha robustez pela sua debil saude, a minha cabelleira densa e loura pelos seus lindos cabellos brancos, a minha alegria exhuberante pelo seu sorriso meigo e soffredor, conheceria um gráo de felicidade mais puro, mais alto do que todos os gozos que até agora experimentei.

E no emtanto ao dar-lhe a minha mocidade, ao receber em troca a sua velhice, de certo que sentiria infinitas saudades!

Não se renuncia friamente a todas as esperanças do futuro!

Seria, porém, uma das taes dôres que eu amo, uma d’aquellas tristezas divinas que fazem bem á alma e como que a depuram das imperfeições da terra.

Será isto romantismo, Theresa?

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Andam commigo agora de baile em baile, de soirée em jantar.

Imaginam que me enganam, os queridos velhinhos!

Elles que gostam tanto do cantinho do fogão, onde conversam, e se recordam de tudo que passou, fingem um subito e inexplicavel desejo de distrações mundanas.

Eu sigo-os com um sorriso malicioso que ás vezes os assusta.

Sabes as minhas ideias, não é verdade?

Que garantias de futuro me daria a mim um marido apanhado a laço á luz dos lustres dourados, em uma sala de baile frivola e banal?

Não é ahi que eu encontrarei de certo o noivo da minha alma!

Porque é que se não poderá alliar a poesia do coração com os deveres da realidade? Não entendo isto!

Pois só serão deliciosos os amores vedados?

A mim parece-me que a vida com o seu cortejo de dores, de deveres, de sacrificios, de affectos, a vida com a sua manhã purpurea e gorgeada, com o seu meio dia luminoso em que rompe em ondas crystallinas a musica triumphante dos vinte annos, com a sua tarde melancolica d’uma doçura indefinida e dubia, com a sua noite emfim, noite estrellada e calma, em que esmorecem e expiram todos os rumores da terra, é como que um poema completo, uma symphonia em que ha todas as notas, todos os tons, todas as expressões.

Os que amaldiçoam a vida, ou querem fugir das suas commoções naturaes, procurando n’um meio artificial, n’uma atmosphera de estufa outros gozos, outros prazeres, outras angustias, são esses que não entendem a opulencia harmoniosa da criação!

Ser filha, e noiva e esposa e mãe! onde acharemos estados da alma mais completos que aquelles que resultam naturalmente d’estes modos de ser?

Aqui ha tudo! Alegrias, dôres, sobre-saltos, esperanças, sonhos, arrebatamentos, extasis ineffaveis!

Não proscrevamos o romance da vida, pelo contrario identifiquemol-o com a vida!

Ponhamos no nosso modo de sentir a maior porção de ideal, a que sejamos accessiveis.

Pensar que o dever só póde comprehender-se terra a terra é amesquinhar e rebaixar o dever!

A paixão não precisa de ser criminosa para nos dar gozos supremos; creio mesmo que é o crime que a torna amarga aos labios e dolorosa ao coração!

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Perguntavas-me no outro dia maliciosamente se eu faço a minha leitura predilecta da Moral em acção.

Não faço.

Se ha cousa que eu acho desmoralisador é um tratado de moral chaufé à froid.

Sabes quem são os meus mestres do bom e do bello? São Beethoven, Mozart, Hayden, os meus queridos e nobres artistas.

Cada dia me deixo levar mais apaixonadamente por este amor da musica que me consola, e me levanta e por assim dizer me realiza todos os sonhos ambiciosos da minha alma.

Presinto que se chegar na vida para mim uma hora sombria em que veja por terra os meus idolos, a musica me ha de consolar de tudo!

Ha pessoas que choram com a musica. Foge sempre da musica que faz chorar. É enervante, é perigosa e traiçoeira.

Mozart e Beethoven não enfraquecem, fortificam. Dão-nos á alma como um grande banho de ar puro.

Fazem-nos subir ás alturas immaculadas e de lá ver tudo que é pequeno, ephemero, transitorio aos nossos pés.

Ó Beethoven, se eu alguma vez fôr trahida envolve-me nas tuas azas de luz!

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Não te disse eu que o meu romance existia algures, n’um mysterioso recanto onde eu ainda não déra com elle?

Não me enganei.

Existe.

Tem vinte e cinco annos, ha muita gente que diz que elle é feio. Eu acho-o simplesmente adoravel.

Tem uns bellos olhos escuros que a paixão illumina, de que a ironia faz chispar faiscas sombrias, e que em horas de embevecimento e de ternura tem segredos doces de uma bondade ineffavel! Tem uma testa larga e pensativa, e uma boca desdenhosa como se o sarcasmo a houvesse affeiçoado.

Acham-lhe innumeros defeitos, eu acho-lhe sómente alguns.

Mas é para aquelles que a vida endureceu e azedou, que as almas moças devem abrir os mananciaes da sua fé.

Hontem disse-me, depois de me ter ouvido tocar piano durante tres horas, que eu lhe fizera tanto bem, que se esquecia por amor de mim do mal que todos os outros lhe tinham feito.

Estas palavras que em outra boca seriam uma banalidade, na boca d’elle pareceram-me um juramento que vinculava para sempre as nossas duas vidas.

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Tres annos de silencio! Como é que tu has de perdoar-me, Thereza!

Mas se eu te disser uma cousa, só uma cousa, perdôas-me de certo.

Sou muito infeliz.

Quiz talvez realizar o impossivel, quiz achar no amor de meu marido o conjuncto de todos os amores de que eu me sentia capaz.

Fiz tudo para conservar a felicidade, e a felicidade fugiu-me.

Elle vê em mim um pezo, uma prisão, talvez que um grande desapontamento.

Nunca me queixo. Para que?

A gente não deve queixar se, porque é uma humilhação escusada e inutil.

Procuro convencer-me de que na vida de todas as mulheres ha d’estes cilicios occultos que ellas supportam ageitando nos labios um sorriso heroico.

Não renego nenhuma das minhas ideias. O dever consola, o dever compensa.

Não comprehendo que, porque um faltou ao contrato ideal que fez com a consciencia, o outro deva faltar tambem.

Emquanto elle me quizer junto de si, hei de dar-lhe toda a minha vida, feliz d’este sacrificio sem paga.

Illudi-me porque lhe quiz muito, e perdôo-lhe por que me illudi.

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Hontem, minha mãe, a pobre velhinha que succumbe ás agonias da sua recente viuvez, dizia-me diante do berço de meu filho desamparado, do meu orphãozinho, cujo pae vive ainda: — Acabou-se tudo! Naufragámos todos tres!

Pelo contrario! Agora é que tudo começa!

Não imaginas a coragem e a energia que eu sinto em mim!

Sou eu, minha mãe e meu filho.

Uma quasi que perdeu a consciencia, o outro não a tem ainda. Sou eu que preciso pensar e trabalhar por todos tres.

Na grande desgraça que me feriu, a ideia de que sou necessaria, de que me tornei indispensavel aos entes a quem mais quero, inoculou-me no espirito dilacerado uma força superior.

Mas como foi que tudo isto succedeu? perguntas tu cheia de pasmo.

Não sei! Uma mulher que passou, uma artista que tinha em talento o que lhe faltava em coração e que o levou atrás de si, satelite desprezivel, de um astro cahido.

Não tenho saudades d’elle, crê que não tenho.

O homem que eu amei era uma nobre e digna creatura, incapaz de transigir com a honra, e de submetter-se á tyrannia dos appetites brutaes.

Tinha defeitos, era violento, apaixonado, irascivel, mas era honesto.

Esse homem morreu, ou não existiu nunca.

O que fugiu não se parecia com elle.

Quando estou só, estremeço ás vezes com um asco intraduzivel de mim propria.

Quem é que se consola das maculas de um tal amor?

Não te disse eu, que se tudo me faltasse, os meus velhos mestres, os meus amigos, as almas sonoras e transparentes que sabem traduzir em sons tudo que ha de bello na natureza, as côres, os perfumes, as linhas, o mundo da materia e o mundo do espirito; não te disse eu que elles me consolariam e me haviam de amparar?!

Chegou o momento supremo.

Chamei os e não faltaram ao meu apello.

Mostrei-lhes o meu coração partido, o meu orgulho machucado, as minhas illusões desfeitas e disse-lhes: Consolai-me! Mostrei-lhes o meu filho pequenino, e a minha mãe decrepita, e disse-lhes: dae-lhes pão!

E ouviram-me as almas adoraveis!

Sinto em mim a virilidade augusta dos fortes.

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O meu Arthur tem hoje quinze annos.

É um formoso adolescente, louro e timido como uma virgem.

Vivemos eu e elle n’uma casinha de um bairro tranquillo e retirado.

De dia elle frequenta o lyceu, e eu dou as minhas lições de musica, á noite lemos, conversamos e tocamos juntos.

Todos os annos, n’um dia certo, fazemos uma romagem piedosa.

Vamos visitar ao cemiterio o tumulo de pedra, pobre e modesto, onde dorme o seu tranquillo somno a minha querida mãe.

Foram serenos e doces os ultimos dias que ella viveu na terra.

Ajudou a crear o meu Arthur, que era tão endiabrado e travesso como hoje é tranquillo e scismador!

Eu sahia de casa muito cedo, e deixava-os a ambos juntos a papaguearem alegremente, porque não ha nada que illumine a tristeza dos velhos como a alegria dos netos.

Ao principio era-me doloroso aquelle monotono trabalho de ensinar os principios de musica, mas quando vi desenvolver-se em casa o conforto devido aos meus pertinazes esforços, cobrei nova coragem e alentos novos.

Sahia com mais animo e voltava com mais alegria.

Em mim faziam-se dous trabalhos: Procurava afazer-me á minha nova existencia e apagar da memoria o meu passado enganoso.

Tivera o meu romance, e o romance deixára-me na boca o travor amargo das cousas insalubres!

Em todo o caso nunca me arrependi de ter aspirado a saciar a minha sêde de ideal nas fontes puras do coração.

Era mais feliz na minha infelicidade que os outros nas suas alegrias!

A minha vida de professora, fazendo-me penetrar em muitas casas diversas, deu-me ensejo para conhecer melhor o mundo.

Encontrei muita gente alegre e satisfeita que me causou profundo dó.

Marido e mulher separados pelas ideias moraes, pelas crenças religiosas, pelas occupações, pelas indoles diversas, pelo modo antithectico de encarar as cousas; unidos sómente por um laço, o habito; por uma força, as conveniencias sociaes.

Oh! antes o meu desamparo, antes o abandono em que eu fiquei na flôr da vida!

Conheci muitas mulheres que procuravam no turbilhão mundano consolação para intimas tristezas; outras, que me confessaram chorando, que a ingratidão e a inconstancia do marido as arrastára á perdição, ao desprezo de si proprias.

Não as repelli, porque não tinha direito para ser implacavel; lamentei-as, não porque as achasse dignas de lastima, mas porque me pareciam dignas de desdem!

Como se o crime posterior da mulher não fosse a justificação do crime anterior do marido!

Ser boa e digna e virtuosa, quando tudo nos ajuda a isso, grande milagre!

Na solidão, no abandono, na injustiça do mundo, é que a honestidade da mulher se acrisola!

Se meu marido não houvesse fugido de mim, deixando-me nos braços uma creancinha de mezes, como poderia eu conhecer as luctas da vida e ter sahido triumphante das provações da desgraça?

Não imaginas, querida amiga, como hoje é doce e tranquillo o meu outomno!

Em primeiro lugar o querido anjo que eu eduquei sósinha, depois a musica, as flôres e os bons livros. Falta-me a minha mãe querida, mas essa morreu abençoando-me!

Ao domingo, quando eu e Arthur nos achamos bem sós, no nosso pequeno gabinete de trabalho, chego a conceber a beatitude do paraizo.

Sento-me ao piano e toco, toco até me sentir sem forças.

Converso longamente com os amigos da minha mocidade, com os que me vestiram a alma da crystallina armadura que resistiu a todos os attrictos da miseria humana.

Conto-lhes as luminosas aspirações da minha adolescencia, a ideia que eu fazia da abnegação, do amor, do sacrificio; e os esforços que empreguei para me cingir sempre a essa ideia levantada e superior.

Conto-lhes o bello instante radioso em que na minha vida desabrochou a flôr mysteriosa que elles me haviam ensinado a julgar o premio mais dôce de um coração cheio de fé. E com que extremos eu cultivei essa flôr que um dia se desfez em cinzas nas minhas tremulas mãos! E como a doce illusão de a possuir me fizera melhor!

Depois conto-lhes a tempestade que subitamente fez sobre mim a sua explosão sinistra, e o meu desamparo e a minha dôr fulminadora, e a vacillação tremenda em que eu vi tudo que julgara immutavel prestes a desabar, deixando-me só ruinas!

Foi então que o amor d’elles me salvou, foi então que as suas vozes divinas me chamaram, e que, na esphera elevada em que elles moram, eu me senti penetrar da calmaria adormecedora de todas as paixões ruins!

No outro dia, depois de tocar duas horas, esquecida de tudo, procurei meu filho e achei-o de joelhos ao pé de mim.

Tinha a gentil cabeça loura mergulhada nos meus vestidos, e, quando levantou os olhos cheios de lagrimas, disse-me com uma voz em que se fundiam todas as musicas:

— Ó mãe, Deus te abençôe, porque foste ultrajada e trahida, e eu posso amar-te e respeitar-te.

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