Contos em verso/Duas palavras do editor

DUAS PALAVRAS DO EDITOR
 

Mal pensavamos que, aceitando os originaes dos Contos em Verso do glorioso homem de letras que desappareceu dentre nós a 22 de outubro de 1908, com grande magua e enorme tristeza de todos os intellectuaes, que o queriam e prezavam, seriam os ultimos da sua penna brilhante, querida e invejada. Longe estavamos que tamanha desgraça viesse enlutar as letras bràsileiras que tinham em Arthur Azevedo um dos seus mais eminentes vultos, um dos seus mais populares cultores.

O nome querido do escriptor maranhense jámais será olvidado por nós, que sempre o prezámos com reverencia e admiração, editanto os seus trabalhos que o publico intelligente aprecia e admira.

Nenhum escriptor brasileiro gozou de maior popularidade que o extincto e os seus trabalhos hão de ser sempre lidos com prazer pelos vindouros , porque elle comprehendeu a sociedade como um fino e delicado psychologo.

Como escriptor theatral, ninguem o excedeu: a sua bagagem é grande, variada, escolhida, invejavel. 0 theatro brasileiro teve n'elle o seu mais ardoroso e extrenuo defensor, e não fosse a sua morte tão brusca e repentina, Arthur Azevedo triumpharia, seria um victorioso na campanha que abriu em pról da arte dramatica nacional. Foi um voloroso e foi um convencido.

A sua penna traçou, os mais primorosos e delicados contos e nós tivemos a felicidade de edital-os, tirando edições duplas, cousa difficil e rara entre os livros escriptos em lingua portugueza.

Escriptor dramatico, conteur e poeta, o saudoso morto deixou entre os intellectuaes do Brasil um grande vacuo.

Do poeta, poucos mezes antes da tremenda desgraça que feriu as letras brasileiras, a sua familia e a seus amigos dedicados e admiradores, recebemos os primorosos originaes que constituem o presente volume —uma preciosidade que põe em evidencia o alto merito do poeta simples, singello, inspirado, expontaneo e cheio de verve.

Os contos que ora apparecem, foram publicados em jornaes e revistas e outros são ineditos e é de esperar que o publico, que tanto se deliciou quando os leu, dê o devido valor a esta obra que editámos, lamentando que o seu autor não possa receber os applausos a que tinha direito.

A casa Garnier aproveita o ensejo que tem para, lamentando profundamente o lutuoso acontecimento que infelicitou as letras brasileiras, prestar á memória do illustre autor do presente livro, a sua homenagem de profundo respeito e de admiração ao seu grande talento.

Abril de 1909.