Contos paraenses/Poemetos em prosa/IV

IV
Ao Sol[1]

A Fernando A. da Silva
 
Ó tu, que rolas por cima de nossas cabeças, resplandecente como o escudo de nossos paes; d’onde saem os teus raios, ó sol? D’onde vem a tua luz? Caminhas em tua magestosa formosura. Vendo-te, escondem-se as estrellas no firmamento; pállida e fria, a lua afoga-se nas ondas do occidente. Ficas sosinho, ó sol: quem poderia acompanhar-te o curso?

Caem os carvalhos das montanhas; as proprias montanhas são minadas pelos annos; o oceano eleva-se e abaixa-se alternadamente; a lua eclipsa-se no fundo dos céus; só tu és sempre o mesmo.

Alegras-te sem cessar em tua brilhante carreira. Quando o mundo está sombrio pelas tempestades, quando o trovão ribomba e vôa o raio, saes radiante do meio das nuvens e ris do furacão!

Mas, ai! em vão brilhas para mim! O velho bardo já te não vê os raios, quer fulja a tua doirada cabelleira entre as nuvens do oriente, quer trema ás portas do poente a tua luz bruxoleante.

Mas talvez, como eu, só possuas uma estação e teus annos terão um termo: virá talvez um dia em que empallideças no meio da carreira e a aurora proxima em vão esperará o teu regresso.

Regosija-te, portanto, ó sol, na força da tua juventude! A velhice é triste e abhorrecida: parece-se com as tíbias claridades da lua, as quaes perdem-se entre nuvens dilaceradas pelo vento norte, quando este semeia ao longe as estevas murchas, quando o humido nevoeiro envolve a collina e o viajante transido tirita nos caminhos desertos....

  1. Vertido de Ossian.