Correspondência ativa de Euclides da Cunha em 1906

Rio, 23 de janeiro de 1906

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Dilermando
Não querendo demorar a resposta à sua carta de ontem, escrevo-lhe neste papel, certo de que me desculpará. A minha resposta é simples: há grande, absoluto engano no que imagina. A questão é muito outra ― e você é inteiramente estranho a ela. Veja o inconveniente de se tirarem deduções de atos e palavras isoladas. Além disso, apesar de aborrecido por um sem número de contrariedades, julgo que não o tratei mal. Na sua idade nunca se é um homem baixo. Não creia que lhe houvesse feito uma tal injustiça. A minha casa continua aberta sempre aos que são dignos e bons. Não poderá fechar-se para você. Quando souber a razão do meu aborrecimento, avaliará a injustiça que fez a si próprio e a mim. Até sábado. Estude, seja sempre o mesmo rapaz de nobres sentimentos e disponha dos poucos préstimos do amº., crdo., obdo

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Euclides da Cunha

Rio, 23 de maio de 1906

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Meu ilustre amo dr. Oliveira Lima,

Saúdo-o muito afetuosamente, desejando-lhe felicidades e a sua Exma. sra. Neste momento o José Veríssimo entregou-me a sua prezada carta. li-a e reli-a, lamentando ao mesmo tempo que os meus muitos trabalhos me houvessem impedido escrever-lhe há mais tempo. É que não queria mandar-lhe apenas meia dúzia de linhas incolores. Ainda hoje, porém, tenho de escrever-lhe a carreira ― Falham-me ainda os últimos retoques da Comissão. Somente mais tarde conversaremos melhor.

Não preciso dizer-lhe que o seu nome aparece sempre a intermitência nas nossas palestras, principalmente quando nos artigos do Estado rebrilham as suas observações destemerosas sobre a vida americana. Entretanto, se eu pudesse aconselhar-lhe, diria que não destacasse enquanto tão incisivamente certos aspectos da existência ianque… posso ir além desta reticência que entrego à sua sutileza. Não sei se Venezuela. Vontade, tenho-a de sobra, a mais decidida boa vontade. o barão nada me disse ainda a esse respeito. Assim considero problemática a empresa em que teria como companheiro e mestre o dr. Firado, tanto merece da sua simpatia pelos nobilíssimos conceitos que dele mudou. Pois é pena! Uma estadia nas montanhas em que se levantou dia a miragem do “Eldorado”― compensaria bem os longos dias tristonhos que passei na infinita monotonia do Purus. Aguardemos o futuro.

Creio que a minha recepção será em julho ― em pleno Panamericanismo. Acho a ideia desastrada.

Deviam escolher outro, menos por atender à plástica. Felizmente me responderá o Arinos: os meus escassos decímetros de envergadura corrigi-los-ão os 2 metros alentados do Titã!

Que pena não poder continuar! Felizmente diz-me que aqui estará breve. Então lhe contarei algo desta minha vida erradia e desassossegada.

Respeitosas recomendações à Exma. sra. um aperto de mão ao dr. Firado, a quem estimo pela sugestão da sua simpatia, e creia sempre e sempre no


Euclides da Cunha
Rua Humaitá, 67

[julho de 1906]

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[bilhete postal]

[Anverso:]

Destinatário: Ilmo. sr. ― Francisco de Escobar

Endereço: Jaguari ― Sul de Minas

[Reverso:]

Dizeres:

Escobar, felicidades. Vou indo melhor de saúde. Recebi a tua carta; e não respondi logo porque ando de novo às voltas com outros mapas atrapalhados. Vou ver se consigo os Monthly's bulletins a que te referiste. Todos de casa, bons. Saudades nossas aos teus

Do

Euclides

Rio, 10 de novembro de 1906

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Exmo. sr. barão do Rio Branco

Sendo-me impossível sair hoje, ― por não deixar um filhinho doente, envio a V. Exa. sinceras felicitações pela justa manifestação a que inteiramente me associo.

Subscrevo-me sempre com o mais elevado apreço

De V. Exa. com., atº. crdo. abrdo.

Euclides da Cunha