O céu está sombrio e vemos a silhueta de um rapaz em cima de um prédio e a silhueta da cidade ao fundo. O rapaz exclama:
- Chegou a hora!
Um ser, de cabelos longos e olhos sem pupilas, aparece questionando:
- Você tem certeza disso?
O rapaz, espantado e amedrontado, pergunta:
- Mas quem é você?
O ser responde:
- Eu sou Tânatos!
O rapaz, espantado e amedrontado:
- Quem?
De costas para o leitor numa pose dramática e a cidade, mais detalhada, ao fundo, Tânatos fala:
- Também sou conhecido como o ceifeiro da humanidade, o condutor das almas -- o assassino perfeito, o melhor amigo daqueles que sofrem, o...
O rapaz, recuperando seu equilíbrio e ainda surpreso, interfere:
- Tá bom! Eu já entendi!
Triste e de olhos fechados, o rapaz fala:
- Mas você não acha que tá um pouco adiantado, não?
O fundo escurece, representando seu estado de espírito e o rapaz continua, olhando para o chão, bem deprimido:
- Eu nem saltei ainda!
O rapaz está de costas para o leitor e vemos Tânatos, feliz, respondendo:
- Oh não! Não vim buscá-lo!
O rapaz, sem entender, pergunta:
- Não?
Tânatos, como o rapaz, com mais detalhes e a cidade ao fundo com o céu estrelado, responde:
- Não! Vim para convencê-lo a não saltar.
Em silhueta simplificada, o rapaz não entende:
- Hã??
Tânatos, no mesmo estilo simplificado, explica com naturalidade:
- Como esta é a minha noite de folga, resolvi aproveitá-la para ensaiar com a minha banda de metal.
Com a mão na camisa e aturdido por tudo, o rapaz questiona:
- Banda de metal?
Tânatos, de pé com sua capa e cabelos esvoaçando, responde:
- Death metal par ser mais exato. E se você saltar, terei que voltar ao serviço e não poderei ensaiar!
O rapaz sentado na borda do prédio e com a mão segurando a cabeça pergunta:
- Calma ai! Deixa ver se eu entendi. Você quer que não me mate, é isso?
Usando seus poderes, Tânatos faz seu instrumento, um híbrido de guitarra com foice aparecer, enquanto responde e rapaz olha em surpresa e descrença para os eventos acontecendo ao seu lado:
- Sim. Eu sei que estou sendo um pouco egoísta, mas é que não ensaio com a minha banda há séculos! Inclusive, minha guitarra está toda empoeirada. Olha só!
Ambos os personagens estão sentados no parapeito, com as pernas ao ar e de costas para o leitor. A guitarra está encostada e o rapaz pergunta:
- Bem. Então me diga! O que existe neste mundo que faça a vida valer a pena?
Tânatos pergunta:
- Sinceramente?
Para qual é respondido:
- Claro!
Com um leve sorriso de derrota sublinhando seus olhos sem pupilas, ele responde:
- Não faço a mínima ideia.
Por não ser a resposta esperada, o rapaz, ainda com um humor deprimido, pergunta:
- Tem certeza que você não quer que eu salte?
De pé, com os cabelos e a capa ao vento e a cidade ao fundo, Tânatos discursa:
- É que apenas você pode saber a resposta para a sua pergunta. Muitas vezes é algo simples. Para alguns, pode ser a amizade. Para outros, pode ser o sexo. Pode ser apenas um gostoso sorvete de flocos num dia quente de verão-- ou chegar em casa e encontrar seu gatinho esperando por você.
Tânatos continua:
- Quem sabe seja escutar um bom Rock'n'Roll ou uma bela peça de Mozart. Talvez seja fazer o Pentakill com o Heimerdinger no LOL. Ou talvez seja tentar chegar ao final de River Raid... Se é que aquele jogo tem final.
Em desespero representado por olhos sem pupilas, o rapaz rebate:
- Tá! Isso tudo é muito legal. Mas e quando se é alguém como eu, que não tem muitos amigos e pra quem as mulheres não dão a mínima? Porra! Eu tenho 19 anos e ainda sou virgem. Que merda de vida é essa?
Compreensivo, Tânatos responde:
- Realmente... Se fosse em outra ocasião, eu mesmo já teria te jogado lá embaixo.
A distância, vemos os dois sentados no parapeito com os cabelos de Tânatos esvoaçando e uma Lua acima da cidade. O rapaz continua:
- Pois então...
Tânatos pergunta no momento em que ele passa a usar seus poderes para desafiar a gravidade ao parapeito:
- Mas você não está exagerando?
Ele continua:
- Talvez você não esteja dando oportunidade para que as pessoas te conheçam direito e saibam quem você é realmente.
O rapaz responde de braços para o ar:
- Mas esse é o problema. As pessoas que eu conheço não gostam de quem eu sou realmente. Para ser aceito, sou obrigado a agir como alguém que não sou.
Tânatos, desafiando a gravidade ao "escalar" a parede com a ponta dos pés, responde:
- Então você não está andando com as pessoas certas. Chegou a hora de você se aventurar e conhecer novas pessoas! Tenho certeza de que encontrará alguém em algum lugar deste mundo que goste de você.
Cabisbaixo, o rapaz responde de olhos fechados:
- Só que o mundo é muito grande.
Tânatos, com os cabelos esvoaçando, pega seu celular:
- Bem! Pra isso inventaram a internet. Não é só para ver pornografia e vídeos de gatinhos que ela serve.
O rapaz, ainda do mesmo jeito, responde:
- Mas eu tenho medo de sofrer mais rejeição.
Tânatos responde:
- Este é um risco que você tem que correr. E o que você tem a perder? A longo prazo estaremos todos mortos. Menos eu, é claro!
O rapaz quase de joelhos em cima do parapeito olha para baixo olhando Tânatos e continua:
- Sinceramente, não sei por que estou te dando atenção. Afinal, o que a morte pode saber sobre a vida?
Se virando, Tânatos responde:
- Ora. A vida não seria nada se não fosse eu!
Ele continua:
- É a consciência de que eu existo que faz com que as pessoas vivam.
Segurando os braços do rapaz que ainda se porta de forma entristecida, Tânatos diz de forma otimista:
- Vai por mim. Só se vive uma vez. Então, se você não aproveitá-la agora, não terá outra oportunidade.
De olhos fechados, o rapaz diz:
- Ah, como eu gostaria que a vida tivesse um manual de instruções...
Ele continua:
- Afinal, qual o sentido da vida, do universo e de tudo mais?
Apontando para o rapaz, Tânatos responde:
- Nenhum.
De costas para o leitor, o rapaz pergunta:
- Mas como pode não ter nenhum?
Tânatos continua:
- Acontece que nada possui sentido por si próprio. Cabe a você dar sentido às coisas. Eu, pessoalmente, acredito que a vida não passa de uma grande piada.
Ele continua:
- Uma piada nonsense, aliás. E também de um certo humor negro. Mas certamente muito engraçada. Claro, se você é uma pessoa que ri de si mesmo.
Olhando para cima, o rapaz começa a aceitar:
- É, acho que você tem razão.
Como silhuetas brancas contra o céu noturno, as roupas de ambos estão esvoaçando e Tânatos responde:
- Mas é claro. Eu sempre tenho razão, mesmo que a maioria não reconheça isso.
O rapaz responde:
- Ok. Vou dar mais uma chance à vida. Vamos ver no que vai dar.
Tânatos responde:
- Grande garoto! É assim que se fala.
Ele continua enquanto faz seu instrumento aparecer:
- Agora tenho que ir rápido! Talvez ainda dê tempo de tocar uma música ou outra.
Eles apertam as mãos e Tânatos diz:
- Até a próxima.
O rapaz:
- Até!
Ao se preparar para sair, Tânatos comete um trágico erro e acaba empurrando o rapaz contra o seu instrumento, que exclama:
- OUCH!
O rapaz está em queda livre, não tendo nada além do prédio, Tânatos e o céu estrelado como sua última visão na tragédia final da história. Ele grita:
- UUUA AAAHHH HHH! ! !
Tânatos, levando sua mão até a cabeça enquanto segura seu instrumento com a outra, percebe:
- Droga! Acho que o meu ensaio já era!
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