Coluna Sem Prestes editar

Alceu A. Sperança editar

Cascavel (PR) - Por esses dias tão conflituosos, com gente morrendo a toda hora no Iraque e outras regiões ocupadas, povos humilhados pela força das armas ou da grana que ergue e destrói coisas belas, no dizer de Caetano, uma pessoa perguntava dia desses o que é ser revolucionário, hoje.

Pegar em armas para contrariar a força das armas e da grana ou lançar as sementes de uma nova civilização através da cultura, da solidariedade e do diálogo?

Ser revolucionário, hoje, é combater o neoliberalismo de todas as formas possíveis – inclusive com a poesia, o magistério, a passeata, a greve, a ciência humanista, a igreja que realmente cultiva a espiritualidade (sem a combinação caça-níquel/caixa-2) e vai por aí. Não é arma de matar, mas de fazer viver.

Mais revolucionário é ser solidário que rancoroso, propositivo que negativo, amoroso que vingativo – nenhuma novidade quando se sabe que foi mais ou menos desse jeito que Gandhi venceu a força mais poderosa do planeta em seu tempo.

É preciso, no entanto, não se concentrar no restrito, do tipo “Partido Verde”, “Partido Jovem”, “Partido dos Trabalhadores”, pois o primeiro prega, indiretamente que seja, a manutenção do capitalismo e sua compatibilização com alguns mecanismos de proteção ambiental. Ou seja, explore mas não esfole, estupre mas não mate.

 

KARL MARX



Um partido Jovem é uma grande infantilidade, mesmo porque os jovens se tornam adultos e ser adulto não é um mau objetivo. Ser jovem eternamente está mais para a Síndrome de Peter Pan que para uma atitude evolucionária.

E, evidentemente, um “Partido Trabalhista” ou “dos Trabalhadores” quer dizer apenas o seguinte: “Queremos manter o capitalismo desde que os trabalhadores, seus escravos, sejam um pouco melhor tratados do que hoje são. Para compensar a neurose da incerteza de que o emprego será mantido, uma TV de digital e mulher pelada na Internet".

Num regime em que os atuais trabalhadores governassem, eles não seriam trabalhadores, mas cidadãos livres. Ter como norte e objetivo que sigam eternamente trabalhadores não é um fim, pois não visa a evolução.

Para perceber o que é realmente revolucionário, um bom truque é ver se seu inimigo considera a coisa uma “utopia”. Se considera, provavelmente é revolucionária.

Que tipo de arma? editar

Ser revolucionário, respondendo especificamente à questão sobre que tipo de arma se requer prioritariamente para fazer a revolução nos dias de hoje, é estudar pra caramba. Estudar a realidade de forma objetiva, recorrendo a métodos provados e competentes para esse estudo.

Estudar o marxismo é um meio excelente para entender algumas das grandes sacanagens que nos assolam. Compreender coisas que sequer Marx intuía, porque ele é velho demais para o nosso rock and roll.

É, principalmente, tirar algumas conclusões sobre as grandes máquinas de ilusão e enganação que tentam nos dominar a qualquer preço/custo.

Um mínimo estudo da realidade nos mostra que uma campanha como a que está sendo desenvolvida para eleger “deputados de Cascavel” é uma grande safadeza contra nosso povo.

Se essa campanha fosse honesta, ela pregaria o parlamentarismo, pois este permitira o voto distrital e, assim, a eleição de representantes locais de uma determinada região. Como é desonesta, essa campanha visa apenas a favorecer os grandes partidos.

Justamente os partidos que vêm governando o Brasil desde sempre – os herdeiros da ditadura. Justamente os partidos que fizeram os planos fracassados, geradores de alta corrupção, mensalões, cuecões, ovelhas, nepotismo, capivaras etc.

Por aí vemos que ser revolucionário, mais que dar estilingadas por aí, é estudar muito para compreender melhor a realidade e combater com informação e reflexão as terríveis arapucas da ideologia. Ao contrário do que acreditava o bom Cazuza, não precisamos dela pra viver.

(Fonte: jornal O Paraná, abril de 2006)