De noyte à neve, & deſpido,
Chorava amor em Belem,
Tão de vontade, que creyo,
Que chorava por querer.
Eraõ ſeus olhos dous rios,
E taõ caudaloſos, que
Só huma lagryma baſtava[1]
Para a terra enriquecer.
Viamſe de monte a monte,
Eſtes dous rios crecer,
Com as cheas de ſeus carinhos[2],
E as nuvens de alguns deſdens.
Cada lagrima era tal,
No fino, amante, & cortez[3],
Que[4] vendo huma deſpenharſe,
Se deſpenha outra tambem.
Como aſſim ſe vão ſeguindo,
Termo não poderaõ ter,
Porque eſtà iſento o infinito,
De todo o limite às leyes.
Os paſtores que aſſi o viaõ,
Chorar, fundados na fé,
Que era ſeu remedio o pranto,
Lhe começaõ a dizer.
Eſtribillo.[5]
Ay que ſe vae tras o choro[6],
O Menino de Belem.
Mas que lhe farey?
Se ſua Mãy não o acala,
Deyxalo chorar tambem.
Coplas.[7]
Deyxem chorar ao Menino,
Deyxemno chorar, que eu ſey,
Que deſafoga no pranto,
Todas as penas que tem.
Porque?
Porque atè do choro alheyo
Hum grande goſto lhe vem.
Pois que lhe farey?
Se ſua Mãy não o acala,
Deixalo chorar tambem.
Deyxem correr os dous rios,
E as duas fontes crecer,
Que a enriquicer vem a terra,
E a matar a ſede vem.
Porque?
Porque os rios ſaõ de aljofar,
E as fontes nectares tem.
Pois que lhe farei?
Se ſua Mãy não o acala,
Deyxalo chorar tambem.
Eſtribillo.[8]
Notas
editar- ↑ versão de 1700: "baſtara"
- ↑ versões de 1700 e 1703: "Com as cheas de ſeus amores,"
- ↑ versão de 1700: "No fino como o cortès,"; Versão de 1703: "No fino, como cortez,"
- ↑ versão de 1700: "Pois"
- ↑ Em português: Estribilho ou refrão
- ↑ versão de 1700: "Ay que ſe vae, que ſe tras o choro"
- ↑ Estrofes que se alternam com o Estribilho
- ↑ Em português: Estribilho ou refrão