</poem> I Campa no campo agora A mãe das flores belas, Brilham de Febo os raios nas estrelas, Que em lindos resplandores Alternam, como irmãos, ledos candores. Ledo o candor se adora: Que se a luz não se ignora, Porque o candor, e o ledo se conceda, Do Cisne filhos são, filhos de Leda.
II Pintor Maio luzido Em diversos primores Tantas tintas mistura, quantas cores; Sendo do lindo Maio Pincel valente o matutino raio; E em quadros repartida A pintura florida, Maio pintor alegre, em cópias tantas De flores quadros faz, sombra das plantas.
III O campo reverdece, Os cravos purpureiam, As açucenas de candor se asseiam, As violetas fermosas Vestem diversas cores por lustrosas: A Vênus reconhece, Quando a rosa amanhece Com tanta ostentação, que é nos verdores Mais que de Vênus flor, Vênus das flores.
IV O tronco florescente Forma com duros laços Vegetativos de seus ramos braços, E seus verdes cabelos Lascivamente se penteiam belos: Que o vento reverente O serve cortesmente, E para ser galã na mocidade Buço nas flores tem, verdor na idade.
V Celebra alegremente O volátil concento Da Primavera o verde nascimento, (Sendo os rios sonoros Instrumentos gentis a vários coros) Cantando brandamente, Saltando airosamente, Nas doces vozes, desiguais mudanças, Cantos se entoam, e se alternam danças.
VI O Sol Rei luminoso Entre o estrelado Império Entroniza esplendores no Hemisfério, Vendo com luz amada A província do giro dilatada; Despendendo piedoso Favores de lustroso, Ficando por rebelde, e por querida A sombra desterrada, a luz valida.
VII Oh como alegre Flora De flores adornada Jaz no leito das ervas recostada! Oh que beijo amoroso Favônio lhe repete deleitoso. Se o prado ri, se chora Vitais perlas Aurora, (Dando de vário estado mudo aviso) Da Aurora o pranto vê, do prado o riso. Canção, na bela Nise Quando em seus Maios seu verdor se esmera, Podes ver retratada a Primavera. </poem>