Otaviano Cabreira Rocha andava pelos quarenta e cinco anos quando, fatigado daquela vida de solteiro, resolveu montar, também, a sua casa. Estava cansado de mundanismo, daquela existência de conquistas e sustos, e como, para o soldado dessas batalhas elegantes, a reforma é o lar, a sua idéia foi, logo, aquela, de constituir família.
A experiência havia-lhe dito que, em matéria de fidelidade matrimonial, tudo depende do esposo. E como estava certo de que nenhum esposo seria mais vigilante, casou-se com Leléa Borges, rapariga de vinte e dois anos, que andava, também, à procura de marido.
— Olha, minha filha — confessou o Cabreira, dois meses depois do casamento: — nós casamos em igualdade de condições: tu eras, já, uma rapariga experiente; eu, com a existência que levei, um homem perfeitamente vivido. Temos, pois, todos os elementos para ser felizes.
— Isto era quando nos casamos, Otaviano! — protestou a moça, fazendo-lhe uma festo no rosto cavado pelo tempo. — Hoje, a nossa situação é muito diferente.
E com um biquinho de zanga, num amuo gracioso:
— Tu enganas por aí muito marido; e eu?
E concluiu, queixosa:
— Eu, pobresinha de mim! Só engano um...