Diccionario Bibliographico Brazileiro/Ignacio José de Alvarenga Peixoto

Ignacio José de Alvarenga Peixoto — Filho de Simão de Alvarenga Braga e dona Angela Michaella da Cunha, nasceu no Rio de Janeiro em fins de 1748, como diz o doutor Teixeira de Mello, ou em 1744, como dizem outros; foi casado com dona Barbara Heleodora Guilhermina da Silveira, de quem já fiz menção, e falleceu a 1 de janeiro de 1793 no presidio de Ambaca, em Angola. Formado em leis pela universidade de Coimbra, serviu o cargo de juiz de fóra de Cintra, donde passou para o de ouvidor do Rio das Mortes, cargo que deixou apoz seu casamento para dedicar-se á lavoura e á mineração, sendo depois nomeado coronel de cavallaria de milícias. Compromettendo-se na conspiração mineira de 1789, de que foi um dos principaes chefes seu cunhado Francisco de Paula Freire de Andrade, foi preso, conduzido em algemas para a Ilha das Cobras onde esteve incommunicavel, sentenciado com o mesmo seu cunhado e outros á pena de morte, que lhe foi commutada em degredo perpetuo no presidio em que morreu, ao cabo de poucos mezes, acabrunhado de desgostos e de saudades da patria e da família, que era seu idolo e que não menos soffreu, principalmente depois da infamia que em nome da lei lhe atiraram á face seus nobres juizes. Sua esposa morreu louca com a noticia dessa sentença, como já o disse, e sua filha dona Maria Eufemia, menina de uma belleza tão rara, que a denominavam de princeza do Brazil, não pôde sobreviver aos pais! Diz-se que no dia immediato á sentença de morte os cabellos de Alvarenga, de louros que eram, se apresentaram inteiramente brancos. Era sacio da Arcadia, com o nome de Eureste Phenicio, e escreveu muitas producções em verso, como:

Merope: tragedia de Maffey. Traducção, 1776 — Foi pelo autor offerecida, em sua chegada de Lisboa ao Rio de Janeiro, ao Marquez de Lavradio de quem elle conquistara amizade e estima.

Eneas no Lacio: drama em verso, composto em Minas Geraes — Foi enviado ao mesmo marquez. Não ha delle noticia, mas as pessoas que o leram, o applaudiram geralmente.

Obras poeticas, de Ignacio José de Alvarenga Peixoto, colligidas, annotadas, precedidas de um juizo de escriptores nacionaes e estrangeiros e de uma noticia sobre o autor e suas obras, com documentos historicos, por J. Norberto de Souza e Silva, Pariz, 1865, 290 pags. in-8º — Pertence esse livro á elegante collecção com o titulo: « Brasila, bibliotheca nacional dos melhores autores antigos e modernos », publicada por L. B. Garnier. Em todas as collecções de poesias brazileiras, como os dous Parnazos e o Florilegio, e em varias revistas se acham composições poeticas de Alvarenga, a quem foi tambem dada a autoria das Cartas chilenas. (Veja-se Claudio Manoel da Costa.)