Diccionario Bibliographico Brazileiro/José Pedro Xavier Pinheiro

 

José Pedro Xavier Pinheiro — Filho de Manoel Xavier Pinheiro e dona Josepha Perpetua Xavier Pinheiro, nasceu na cidade da Bahia a 12 de outubro de 1822 e falleceu no Rio de Janeiro a 20 de outubro de 1882. Apenas com os primeiros estudos começou a viver para sua familia, que era pobre, ensinando primeiras letras em varias fazendas do reconcavo de sua provincia natal; mas, intelligencia lucida, avida de cultivo, procurando bons livros, estudava sempre, e fez-se conhecido, redigiu diversos folhetos politicos e deu-se ao jornalismo. Estudou tambem tachigraphia com applicação tal, que contractou-se para tomar os debates da assembléa provincial. Vindo depois para o Rio de Janeiro, abraçou o funccionalismo publico, entrando como segundo official, na secretaria de justiça donde passou como primeiro para a secretaria da agricultura, commercio e obras publicas, e ahi foi elevado a chefe de secção. Antes, porém, da transferencia de repartição, convidado para fazer parte do quadro do serviço tachigraphico, serviu na camara dos deputados e depois no senado. Exerceu as funcções de official de gabinete de alguns ministros, como Souza Dantas e Visconde de Cavalcanti. Era official da real ordem da Corôa da Italia, sacio do antigo Instituto historico da Bahia e escreveu:

Epitome da historia do Brazil desde seu descobrimento até 1841 para uso das escolas. Bahia, 1854, in-8º — Teve diversas edições, com accrescimos. Assim a segunda, que abrange factos até 1857, é de 1860 com 426 pags. in-8°; a terceira é de 1864; a quarta, augmentada até a guerra do Paraguay, é de 1870; a quinta, até a conclusão desta guerra, é de 1873, com 527 pags. a sexta, de 1876, com 531 pags.; a oitava é de 1884, e a nona, de 1887, e ha outra revista, correcta e augmentada pelo litterato Raul Villa-Lobos, de quem hei de occupar-me, até a promulgação da constituição da Republica; é de 1892. As edições que seguiram á primeira são do Rio de Janeiro.

Tratado da eloquencia sagrada pelo cardeal J. Sufrier Maury, traduzido em portuguez. Bahia, 1850, dous vols. in-8º — Este livro foi adoptado para uso do seminario archiepiscopal da Bahia.

Importação de trabalhadores chins: memoria apresentada ao ministerio da agricultura, etc. Rio de Janeiro, 1869, 167 pags. in-4º — Acompanham a essa memoria, com o titulo de «Emigração chim», diversos documentos, como: Regulamento do governo hespanhol para a introducção de colonos chins na ilha de Cuba: cópia e traducção do contracto que se celebra entre o colono e o ensaiador, etc.

Tratado da cultura na canna de assucar por Alvaro Reynoso, traduzido do hespanhul e impresso por ordem do ministerio da agricultura. Rio de Janeiro, 1868, 317 pags. in-8º — Publicou-se sem o nome do traductor.

O fazendeiro de café em Ceylão, por Guilherme Sabonadière: publicação official do ministerio da agricultura. Rio de Janeiro, 1877, in-8º

Dante Allighiere. A Divina comedia: Traducção. Inferno, Rio de Janeiro, 1888, 487 pags. in-8º — É uma publicação posthuma, feita pelo dr. José Luiz de Freitas, genro do traductor, da primeira parte apenas da grande trilogia, da epopéa christã do bardo florentino. Xavier Pinheiro traduziu vernaculamente para nossa lingua os 34 cantos do Inferno, os 33 do Purgatorio e os 33 do Paraizo. Artista como era na verdadeira accepção da palavra, não admittia impurezas de linguagem, e fanatico pelo genio de Dante, não poupou esforços para legar ás nossas lettras um trabalho digno de admiração. Além da traducção, annotou todos os cantos e na introducção da obra, que verteu com verdadeiro amor á fórma, vasou todos os conhecimentos e mostrou modestamente quanto era seu cerebro educado, quanto éra elle erudito. Ahi deixo uns tercetos sobre o encontro de Virgilio, canto 1°:

Tanto que o vejo nesse grão deserto,
— «Tem compaixão de mim! — bradei transido
Quem quer que sejas, sombra ou homem certo! »

— «Homem não sou» — tornou-me — «mas hei sido;
Paes lombardos eu tive; sempre amada
Mantua lhes foi; haviam là nascido.

«Nasci de Julio em éra retardada,
Vivi em Roma sob o bom Augusto,
Quando em deuses havia a crença errada.

«Poeta, decantei feitos do justo
Filho de Anchises que de Troya veio,
Depois que Illiou soberbo foi combusto;

«Mas, por que tornas da tristeza ao meio?
Por que não vais ao deleitoso monte,
Que o prazer todo encerra no seu seio? »

— «Oh! Virgilio, tu és, aquella fonte
D’onde em rio caudal brota a eloquencia? »
Fallei, curvando vergonhoso a fronte.

Xavier Pinheiro publicou na Bahia trabalhos poeticos, como:

A desventurada: romance — no Musaico, periodico da sociedade Instructiva, Bahia, 1846, ns. 1, 3 e 4.

— Taboca Eleitoral. O Vigario e o recruta-Não me recordo onde li. São duas satyras de costumes politicos. Collaborou e fez parte da redacção de algumas folhas da Bahia e do Rio de Janeiro, nas quaes seus artigos sobre immigração formariam um grosso volume, si fossem coordenados. Deixou finalmente ineditos:

Constancia e resignação: drama em cinco actos, representado no theatro S. Pedro de Alcantara.

O novo tartufo: comedia em cinco actos. Emancipação das mulheres: comedia em um acto, representada no antigo theatro Cassino.

Uma historia verdadeira: romance — escripto na Bahia.