CORNEILLE (dramaturgo do Neoclassicismo francês) → Tragédia
O primeiro grande drama do teatro clássico francês é Le Cid, escrito em 1636 por Pierre Corneille (1606-1684). A peça tem como referente remoto a epopéia espanhola EI cantar de mio Cid() e como fonte próxima a obra Las mocedades del Cid, de Guillén de Castro, publicada em 1631. No texto corneliano, o herói Rodrigo, apaixonado por Ximena, para salvar a honra de seu pai, é obrigado a matar seu futuro sogro num duelo. Para fugir ao remorso, Rodrigo procura a morte no campo de batalha, mas acaba tendo uma grande vitória sobre os mouros invasores. Ximena, para vingar a morte do pai, deseja a destruição de Rodrigo e induz um seu pretendente a desafiar o herói. Mas, quando percebe que Rodrigo quer morrer no duelo não se defendendo, o amor vence o ódio e acaba suplicando o jovem amado a lutar pata obter a vitória. O que acontece. A peça termina com o casamento de Rodrigo e Ximena. Essa peça acirrou as discussões sobre a obediência ou não aos preceitos da confecção da obra teatral conforme se encontram na Poética de Aristóteles, pois Corneille não obedece ao princípio clássico da unidade de ação, de tempo e de lugar, o que levou Racine a afirmar que suas peças acumulam “tal quantidade de incidentes que precisariam de um mês para ser representadas”. Além de infringir o princípio da verossimilhança no palco, também o final feliz de Le Cid contraria a definição aristotélica da tragédia: “a passagem da felicidade para a infelicidade”. Daí que a academia francesa, solicitada a dar sua opinião sobre esta obra de Corneille, a define como uma “tragicomédia”, relevando a mistura do gênero trágico com o cômico; negando-lhe, assim, o estatuto de obra clássica. Mas, acima dessas questões técnicas, permanece eterna a concepção corneliana de herói. O protagonista deste drama, como de outros do mesmo autor (Cinna, Medéia, Horácio, Polieucte), configura a representação artística de um protótipo ideológico: o homem, em conflito entre o dever e a paixão, encontra no sentimento da “honra” e na aspiração á “glória” a sua realização existencial. É a concepção de uma ética aristocrática, individualista, profundamente eufórica, em consonância com o aspecto renascentista da cultura clássica francesa.