O encarecimento da vida havia tornado delicada a situação dos Pereira Claro. Os vestidos de Dona Beatriz, que eram comprados nas grandes casas de modas, passaram a ser feitos em casa, pelas mãos impecáveis da encantadora senhora. Os chapéus, começaram a ter a mesma proveniência: a moça adquiria os enfeites, a forma, o forro, e fazia tudo entre o almoço e o jantar, ou nos serões até meia-noite, enquanto o marido, fazendo-lhe companhia, fumava pacificamente o seu cigarro, lendo os jornais.

Essa mudança de vida havia impressionado vivamente a Luizinha, linda bonequinha de quatro anos, único fruto daquele grande amor do casal.

— Agora, minha filhinha, — dizia-lhe a mãe, — tudo tem de ser feito em casa. Os meus vestidos, os teus, as camisas de teu pai... Não se compra mais nada feito...

Foi por esse tempo que o dr. Pereira Claro, vendo a filhinha tão só, acompanhando o serão materno, lembrou, rindo, a Dona Beatriz, na presença da pequenita:

— Agora, Bibi, vamos arranjar uma maninho para a nossa filhinha, que está tão sozinha... Vamos comprar um irmãozinho para ela... Estás ouvindo?

A essas palavras, a pirralha interveio:

— Ah, papai, não! Não gasta dinheiro por minha causa!

E passando-lhe as mãozinhas pelo rosto, muito meiga, muito terna, muito carinhosa:

— Façam mesmo em casa... Sim?