Tu, Elisa, te vais e me deixas,
E me deixas profunda saudade;
Sem querer, despedaças o peito,
Que te vóta a mais santa amisade.
Quando penso que vais, minha Elisa,
Habitar tão distante de mim,
Eu pergunto ao meu Deos: «Que te hei feito
«Para iroso punires-me assim?
«Tu, Senhor, qu’és tão bom, porque roubas
«O consôlo de minha existencia?
«Porque fazes que misera eu soffra
«O terrivel martyrio da ausencia?
«Não me leves a amiga sincera,
«Que me tem extremosa affeição;
«Esta amiga, que irmã considero,
«Bem querida, do meu coração.
«Ah! consente, Senhor, que ella fique,
»E que viva p’ra sempre a meu lado;
«Que de perto eu adore as virtudes
«De que tens a su’alma adornado.
Eis, Elisa adorada, as palavras,
Que dirijo incessante ao Senhor,
Tendo o rôsto de pranto inundado,
Tendo o peito partido de dor.
Mas ainda me anima a esperança
De que Deus minha prece ouvirá,
E das lagrimas tristes que verte
Meu amor, piedade terá.
E si a minha oração fervorosa
Pelo Eterno não fôr attendida;
Si, apezar d'imploral-o, chorando,
Ordenar tua dura partida;
Eu te juro que sempre hei de amar-te
Co'a mais terna e profunda affeição;
Eu te juro, fiel, tua imagem
Guardar sempre no meu coração.
12 de Novembro de 1850.