Porque estás tão apressado,
Coração, a palpitar?
Queres, deixando meu peito,
Por esses ares voar?
Queres do meu pensamento
A carreira acompanhar?
Queres, misero insensato,
Este desejo cumprir?
Intentas da phantasia
Os amplos vôos seguir?
Buscas, vencendo a distancia,
Tua saudade extinguir?...
Esta saudade tão funda,
Tão viva, tão pertinaz,
Que te faz tão desgraçado,
Que tão ditoso te faz?
Que tanto te amarga ás vezes
Que ás vezes tanto te apraz?
Pretendes tu, pobre louco,
Tuas dores augmentar?
Desejas ao lado — d’Elle —
De martyrios te fartar?
Queres nos olhos, que adoras
Mais desenganos buscar?
Si ao excesso do tormento
Tivesses de succumbir,
Quem tanto havia de amal-o,
Deixando tu de existir?
Quem ousaria comtigo
Em firmeza competir?
E elle, onde poderia
Tão soberano reinar?
Onde iria sua imagem
Obter tão devóto altar,
E tão desvelado culto,
Tão fervoroso, encontrar?
Deixa ir só meu pensamento,
De seus vôos na amplidão;
Quem sabe si ao lado d'outra
O acharás, coração?
Morre embora de saudade;
Porem de ciume... não!
31 de Dezembro de 1851.