Alvor da lua nas eiras,
       Nem linhos de fiandeiras,
       Nem veos de noivas ou freiras,
       Nem rendas d'ondas do mar!...
Sobre espigas d'ouro bailam as ceifeiras,
Na aleluia argentea do clarão do luar!...

       Bailae sob as lagrimosas
       Estrellinhas misteriosas,
       Scintilações, nebulosas,
       Fremitos vagos d'empyreos!...

Deos golpeia a aurora p'ra dar sangue ás rosas,
Deos ordenha a lua p'ra dar leite aos lirios!...

       Ai, medas de prata e oiro,
       De lua branca e pão loiro,
       Malhadas no malhadoiro,
       A enfeitiçar e a fulgir!...
Oh, bailae á volta d'esse bom tesoiro,
Que é a codea negra que ceaes a rir!...

       Quem nas ladeiras e prados,
       Com as lanças dos arados,
       Abriu sulcos e valados
       Na terra gelida e nua?
Oh, bailae á volta desses bois deitados,
Que estão d'olhos tristes adorando a lua!...

       Que bandos de passarinhos,
       Vem lá de campos maninhos,
       De fraguedos, de caminhos,
       Jantar aqui, merendar!...
Oh, bailae em volta de milhões de ninhos!
Oh, bailae cantando para os acordar!...

       Entre as palhas do centeio,
       Quantas esmolas no meio,
       Que deixam lirios no seio
       E as mãos escorrendo luz!...
Oh, bailae em volta do celeiro cheio!
Oh, bailae á volta dos mendigos nus!...

Quanta hostia consagrada,
– Pão da ultima jornada! –
Dorme na meda encantada
Ao luar tão leve e tão lindo!...

Oh, bailae em volta d'essa mó doirada,
Que bailaes á volta de Jesus dormindo!...

       Alvor da lua nas eiras,
       Nem linhos de fiandeiras,
       Nem veos de noivas ou freiras,
       Nem rendas d'ondas do mar!...
Oh, bailae ceifeiras, lindas feiticeiras,
Na aleluia argentea do clarão do luar!...

Setembro – 91.