Em Tradução:Tratado da Natureza Humana/Livro 1/Parte I
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Secção I: Da origem de nossas ideias
editarAll the perceptions of the human mind resolve themselves into two distinct kinds, which I shall call Impressions and Ideas. The difference between these consists in the degrees of force and liveliness, with which they strike upon the mind, and make their way into our thought or consciousness. Those perceptions, which enter with most force and violence, we may name impressions: and under this name I comprehend all our sensations, passions and emotions, as they make their first appearance in the soul. By ideas I mean the faint images of these in thinking and reasoning; such as, for instance, are all the perceptions excited by the present discourse, excepting only those which arise from the sight and touch, and excepting the immediate pleasure or uneasiness it may occasion. I believe it will not be very necessary to employ many words in explaining this distinction. Every one of himself will readily perceive the difference betwixt feeling and thinking. The common degrees of these are easily distinguished; tho’ it is not impossible but in particular instances they may very nearly approach to each other. Thus in sleep, in a fever, in madness, or in any very violent emotions of soul, our ideas may approach to our impressions, As on the other hand it sometimes happens, that our impressions are so faint and low, that we cannot distinguish them from our ideas. But notwithstanding this near resemblance in a few instances, they are in general so very different, that no-one can make a scruple to rank them under distinct heads, and assign to each a peculiar name to mark the difference. [2]
Todas as percepções da mente humana dividem-se em duas espécies distintas, que chamarei impressões e ideias. A diferença entre essas consiste nos graus de força e vivacidade com que se imprimem na mente e abrem seu caminho em nosso pensamento ou nossa consciência. Aquelas percepções que entram com mais força e violência podemos denominar impressões; e por esse nome compreendo todas as nossas sensações, paixões e emoções, tal como fazem sua primeira aparição na alma. Por ideias refiro-me às imagens débeis daquelas no pensamento e no raciocínio; tal como são, por exemplo, todas as percepções excitadas pelo presente discurso, exceto apenas aquelas que surgem da visão e do tato e exceto o prazer ou desconforto que possam provocar. Creio que não será necessário empregar muitas palavras na explicação dessa distinção. Qualquer um por si mesmo perceberá prontamente a diferença entre sentir e pensar. Os graus usuais de ambos são facilmente diferençados; embora não seja impossível que em casos particulares possam se aproximar bastante. Assim, no sono, numa febre, na loucura ou em qualquer emoção violenta, nossas ideias podem se avizinhar de nossas impressões; tal como, por outro lado, acontece que nossas impressões sejam tão fracas e sutis que não possamos distingui-las de nossas ideias. Mas, não obstante essa semelhança nuns poucos casos, elas são em geral tão diferentes que ninguém pode ter escrúpulos de elencá-las sob títulos diferentes e atribuir a cada uma um nome peculiar que marque a diferença. [2]
There is another division of our perceptions, which it will be convenient to observe, and which extends itself both to our impressions and ideas. This division is into Simple and Complex. Simple perceptions or impressions and ideas are such as admit of no distinction nor separation. The complex are the contrary to these, and may be distinguished into parts. Tho’ a particular colour, taste, and smell, are qualities all united together in this apple, ‘tis easy to perceive they are not the same, but are at least distinguishable from each other.
Há outra divisão de nossas percepções, que será conveniente observar e que se estende tanto às nossas impressões como às nossas ideias. A divisão é entre Simples e Complexo. Percepções ou impressões e ideias simples são aquelas que não admitem divisão nem separação. As complexas são o contrário, e podem ser dividas em partes. Embora uma cor particular, um gosto, um cheiro sejam qualidades reunidas todas nesta maçã, é fácil perceber que não são as mesmas, e que são pelo menos distinguíveis umas das outras.
Having by these divisions given an order and arrangement to our objects, we may now apply ourselves to consider with the more accuracy their qualities and relations. The first circumstance, that strikes my eye, is the great resemblance betwixt our impressions and ideas in every other particular, except their degree of force and vivacity. The one seem to be in a manner the reflexion of the other; so that all the perceptions of the mind are double, and appear both as impressions and ideas. When I shut my eyes and think of my chamber, the ideas I form are exact representations of the impressions I felt; nor is there any circumstance of the one, which is not to be found in the other. In running over my other perceptions, I find still the same resemblance and representation. Ideas and impressions appear always to correspond to each other. This circumstance seems to me remarkable, and engages my attention for a moment.
Tendo dado por essas divisões uma ordem e um arranjo a nossos objetos, podemos agora nos dedicar a considerar com mais acurácia suas qualidades e relações. A primeira circunstância que me impressiona os olhos é a grande semelhança entre nossas impressões e ideias em todas as suas peculiaridades, exceto por seu grau de força e vivacidade. Uma parece ser de certa forma o reflexo da outra; de modo que todas as percepções da mente dão duplas, e aparecem como impressões e ideias. Quando fecho os meus olhos e penso no meu quarto, as ideias que formo são representações exatas das impressões que senti; nem há qualquer circunstância de uma que não seja encontrada na outra. Ao percorrer minhas outras percepções, encontro sempre a mesma semelhança e representação. Ideias e impressões parecem sempre corresponder umas às outras. Essa circunstância parece-me notável, e prende minha atenção por um momento.
Upon a more accurate survey I find I have been carried away too far by the first appearance, and that I must make use of the distinction of perceptions into simple and complex, to limit this general decision, that all our ideas and impressions are resembling. I observe, that many of our complex ideas never had impressions, that corresponded to them, and that many of our complex impressions never are exactly copied in ideas. I can imagine to myself such a city as the New Jerusalem, whose pavement is gold and walls are rubies, tho’ I never saw any such. I have seen Paris; but shall I affirm I can form such an idea of that city, as will perfectly represent all its streets and houses in their real and just proportions?
Após uma investigação mais acurada descubro que me deixei levar muito longe pela primeira aparência e que devo fazer uso da distinção das percepções em simples e complexas para limitar essa conclusão geral de que todas as nossas ideias e impressões são semelhantes. Observo que muitas dessas nossas ideias complexas nunca tiveram impressões que lhes correspondessem, e que muitas de nossas impressões complexas nunca são exatamente copiadas em idéias. Posso imaginar uma cidade como Nova Jerusalém, cujos pavimentos são de ouro e as paredes de rubi, embora nunca tenha visto algo assim. Eu vi Paris; mas diria que posso formar uma ideia dessa cidade que representasse perfeitamente todas as suas ruas e casas em suas proporções reais e exatas?
I perceive, therefore, that tho’ there is in general a great, resemblance betwixt our complex impressions and ideas, yet the rule is not universally true, that they are exact copies of each other. We may next consider how the case stands with our simple, perceptions. After the most accurate examination, of which I am capable, I venture to affirm, that the rule here holds without any exception, and that every simple idea has a simple impression, which resembles it, and every simple impression a correspondent idea. That idea of red, which we form in the dark, and that impression which strikes our eyes in sun-shine, differ only in degree, not in nature. That the case is the same with all our simple impressions and ideas, ‘tis impossible to prove by a particular enumeration of them. Every one may satisfy himself in this point by running over as many as he pleases. But if any one should deny this universal resemblance, I know no way of convincing him, but by desiring him to shew a simple impression, that has not a correspondent idea, or a simple idea, that has not a correspondent impression. If he does not answer this challenge, as ‘tis certain he can-not, we may from his silence and our own observation establish our conclusion.
Percebo, portanto, que, embora exista geralmente uma grande semelhança entre nossas impressões e ideias complexas, a regra de que sejam cópias exatas umas das outras não é universalmente verdadeira. Podemos considerar a seguir o que se dá com nossas percepções simples. Após o mais acurado exame de que sou capaz, arrisco-me a dizer que aqui a regra vigora sem exceções, e que toda a ideia simples tem uma impressão simples que se lhe assemelha; e toda a impressão simples, uma ideia correspondente. Aquela ideia de vermelho que formamos no escuro e aquela impressão que se grava em nossos olhos à luz do sol diferem apenas em grau, não em natureza. Que o caso seja o mesmo com todas as nossas impressões e ideias simples, isso é impossível provar por uma enumeração exaustiva das mesmas. Qualquer um poderá satisfazer a si mesmo neste ponto percorrendo tantas quanto quiser. Mas, se alguém rejeitasse essa semelhança universal, não saberia outro modo de convencê-lo que não o de lhe requerer que mostrasse uma impressão simples que não tivesse uma ideia correspondente, ou uma ideia simples que não tivesse uma impressão correspondente. Se não responder a esse desafio, como é certo que não possa, poderemos, a partir de seu silêncio e de nossa própria observação, estabelecer nossa conclusão.
Thus we find, that all simple ideas and impressions resemble each other; and as the complex are formed from them, we may affirm in general, that these two species of perception are exactly correspondent. Having discovered this relation, which requires no farther examination, I am curious to find some other of their qualities. Let us consider how. they stand with regard to their existence, and which of the impressions and ideas are causes, and which effects.
Assim descobrimos que todas as ideias e impressões simples assemelham-se entre si; e como as complexas são formadas a partir delas, podemos afirmar genericamente que essas duas espécies de percepção são exatamente correspondentes. Tendo descoberto essa relação, que não requer mais exames, estou curioso por descobrir alguma outra de suas qualidades. Consideremos como se encontram no que diz respeito à sua existência, e quais entre as ideias e impressões são causas e quais são efeitos.
The full examination of this question is the subject of the present treatise; and therefore we shall here content ourselves with establishing one general proposition, That all our simple ideas in their first appearance are deriv’d from simple impressions, which are correspondent to them, and which they exactly represent.
O exame completo dessa questão é o objeto do presente tratado; e, portanto, vamos nos limitar aqui a estabelecer uma proposição geral: que todas as nossas ideias simples em sua primeira aparição derivam-se de impressões simples, que lhes são correspondentes, e que aquelas representam exatamente.
In seeking for phenomena to prove this proposition, I find only those of two kinds; but in each kind the phenomena are obvious, numerous, and conclusive. I first make myself certain, by a new, review, of what I have already asserted, that every simple impression is attended with a correspondent idea, and every simple idea with a correspondent impression. From this constant conjunction of resembling perceptions I immediately conclude, that there is a great connexion betwixt our correspondent impressions and ideas, and that the existence of the one has a considerable influence upon that of the other. Such a constant conjunction, in such an infinite number of instances, can never arise from chance; but clearly proves a dependence of the impressions on the ideas, or of the ideas on the impressions. That I may know on which side this dependence lies, I consider the order of their first appearance; and find by constant experience, that the simple impressions always take the precedence of their correspondent ideas, but never appear in the contrary order. To give a child an idea of scarlet or orange, of sweet or bitter, I present the objects, or in other words, convey to him these impressions; but proceed not so absurdly, as to endeavour to produce the impressions by exciting the ideas. Our ideas upon their appearance produce not their correspondent impressions, nor do we perceive any colour, or feel any sensation merely upon thinking of them. On the other hand we find, that any impression either of the mind or body is constantly followed by an idea, which resembles it, and is only different in the degrees of force and liveliness, The constant conjunction of our resembling perceptions, is a convincing proof, that the one are the causes of the other; and this priority of the impressions is an equal proof, that our impressions are the causes of our ideas, not our ideas of our impressions.
Ao buscar fenômenos que provem essa proposição, descubro apenas os das duas espécies; mas em cada espécie os fenômenos são óbvios, numerosos e conclusivos. Primeiro renovo a minha certeza com uma revisão do que já afirmei – que toda a impressão simples é acompanhada de uma ideia correspondente; e que toda a ideia simples, de uma impressão correspondente. Dessa constante conjunção de percepções semelhantes concluo imediatamente que há uma ampla conexão entre nossas impressões e ideias correspondentes, e que a existência de umas tem considerável influência sobre a das outras. Essa conjunção constante, nesse número infinito de casos, jamais poderia surgir do acaso; mas claramente demonstra que as impressões dependem das ideias ou as ideias das impressões. Para que possa saber de que lado está a dependência, considero a ordem de sua primeira aparição; e encontro por experiência reiterada que as impressões simples sempre têm precedência em relação a suas ideias correspondentes, e nunca aparecem na ordem inversa. A fim de dar à criança uma ideia do escarlate ou do alaranjado, do doce ou do amargo, apresento os objetos, ou, em outras palavras, submeto-a a essas impressões; e nunca cometo o absurdo de querer produzir as impressões por meio da excitação das ideias. Nossas ideias, após sua aparição, não produzem suas impressões correspondentes, nem percebemos cor nenhuma nem sentimos sensação nenhuma só por nelas pensar. Por outro lado, descobrimos que qualquer impressão, seja da mente, seja do corpo, é constantemente sucedida por uma ideia, que se lhe assemelha, e difere apenas no grau de força e vivacidade. A constante conjunção de nossas percepções similares é uma prova convincente de que umas são causas das outras; essa prioridade das impressões é uma idêntica prova de que nossas impressões são as causas de nossas ideias, e não de que as nossas ideias sejam as causas das nossas impressões.
To confirm this I consider another plain and convincing phaenomenon; which is, that, where-ever by any accident the faculties, which give rise to any impressions, are obstructed in their operations, as when one is born blind or deaf; not only the impressions are lost, but also their correspondent ideas; so that there never appear in the mind the least traces of either of them. Nor is this only true, where the organs of sensation are entirely destroy’d, but likewise where they have never been put in action to produce a particular impression. We cannot form to ourselves a just idea of the taste of a pine apple, without having actually tasted it.
Para confirmá-la, considero outro fenômeno óbvio e convincente: sempre que por algum acidente as faculdades, que fazem surgir todas as impressões, são obstruídas em suas operações, como quando alguém nasce cego ou surdo, não só as impressões se perdem, mas também as suas ideias correspondentes; de modo que nunca aparece na mente o menor vestígio de nenhuma delas. E isso não é verdadeiro somente onde os órgãos de sensação são inteiramente destruídos, mas também onde nunca foram postos em ação para produzir uma impressão particular. Não podemos formar para nós uma ideia do gosto do abacaxi sem nunca o ter provado realmente.
There is however one contradictory phaenomenon, which may prove, that ‘tis not absolutely impossible for ideas to go before their correspondent impressions. I believe it will readily be allow’d that the several distinct ideas of colours, which enter by the eyes, or those of sounds, which are convey’d by the hearing, are really different from each other, tho’ at the same time resembling. Now if this be true of different colours, it must be no less so of the different shades of the same colour, that each of them produces a distinct idea, independent of the rest. For if this shou’d be deny’d, ‘tis possible, by the continual gradation of shades, to run a colour insensibly into what is most remote from it; and if you will not allow any of the means to be different, you cannot without absurdity deny the extremes to be the same. Suppose therefore a person to have enjoyed his sight for thirty years, and to have become perfectly well acquainted with colours of all kinds, excepting one particular shade of blue, for instance, which it never has been his fortune to meet with. Let all the different shades of that colour, except that single one, be plac’d before him, descending gradually from the deepest to the lightest; ‘tis plain, that he will perceive a blank, where that shade is wanting, said will be sensible, that there is a greater distance in that place betwixt the contiguous colours, than in any other. Now I ask, whether ‘tis possible for him, from his own imagination, to supply this deficiency, and raise up to himself the idea of that particular shade, tho’ it had never been conveyed to him by his senses? I believe i here are few but will be of opinion that he can; and this may serve as a proof, that the simple ideas are not always derived from the correspondent impressions; tho’ the instance is so particular and singular, that ‘tis scarce worth our observing, and does not merit that for it alone we should alter our general maxim.
Há, entretanto um fenômeno contraditório, que poderia provar que não é absolutamente impossível às ideias tomar a frente de suas impressões correspondentes. Creio que será prontamente admitido que as várias ideias distintas de cor, que entram pelos olhos, ou aquelas dos sons, que são transmitidas pela audição, realmente são diferentes entre si, embora sejam simultaneamente parecidas. Bem, se isso for verdadeiro em relação a cores diferentes, não deverá ser menos verdadeiro em relação a diferentes tonalidades de uma mesma cor, que cada uma delas produz uma ideia distinta, independente das demais. Pois, se isso fosse rejeitado, seria possível, pela gradação contínua das tonalidades, levar uma cor a se tornar desarrazoadamente o que lhe é muito remoto; e, se não permitires que nenhum dos meios seja diferente, não poderás, sem incorrer num absurdo, rejeitar que os extremos sejam o mesmo. Supõe, portanto, uma pessoa que tenha desfrutado de sua visão por trinta anos e tenha se tornado perfeitamente familiarizada com cores de todas as espécies, à exceção de uma tonalidade particular de azul, por exemplo, a qual nunca teve a sorte de encontrar. Que todas as diferentes tonalidades dessa cor, à exceção daquela única, sejam postas diante dele, numa sucessão gradual que parta das mais escuras e vá até as mais claras; é óbvio que ele perceberá uma lacuna onde falta aquela tonalidade e será sensível ao fato de haver, neste lugar, uma distância maior entre as cores contíguas do que em qualquer outro ponto. Agora pergunto se é possível para ele, com sua própria imaginação, suprir essa deficiência e construir para si mesmo a ideia dessa tonalidade particular, embora essa nunca lhe tenha sido transmitida pelos sentidos. Creio que serão poucos os que não partilharão da opinião afirmativa; e isso pode servir como prova de que as ideias simples nem sempre derivam das impressões correspondentes; embora o exemplo seja tão específico e tão singular que seja de escasso valor observá-lo e não mereça que, só por ele, alteremos nossa máxima geral.
But besides this exception, it may not be amiss to remark on this head, that the principle of the priority of impressions to ideas must be understood with another limitation, viz. that as our ideas are images of our impressions, so we can form secondary ideas, which are images of the primary; as appears from this very reasoning concerning them. This is not, properly speaking, an exception to the rule so much as an explanation of it. Ideas produce the images of themselves in new ideas; but as the first ideas are supposed to be derived from impressions, it still remains true, that all our simple ideas proceed either mediately or immediately, from their correspondent impressions.
Mas, além dessa exceção, não seria impróprio afirmar sob este título que o princípio da prioridade das impressões em relação às ideias deve ser entendido com outra limitação, a saber, que assim como nossas ideias são imagens de nossas impressões, também podemos formar ideias secundárias, que são imagens das primárias; tal como aparenta nesse mesmo raciocínio a seu respeito. Isso não é, propriamente falando, uma exceção à regra, mas uma explicação da mesma. As ideias produzem novas ideias como imagens de si mesmas; mas como as primeiras ideias devem ser derivadas das impressões, permanece ainda verdadeiro que todas as ideias simples procedem mediada ou imediatamente de suas impressões correspondentes.
This then is the first principle I establish in the science of human nature; nor ought we to despise it because of the simplicity of its appearance. For ‘tis remarkable, that the present question concerning the precedency of our impressions or ideas, is the same with what has made so much noise in other terms, when it has been disputed whether there be any innate ideas, or whether all ideas be derived from sensation and reflexion. We may observe, that in order to prove the ideas of extension and colour not to be innate, philosophers do nothing but shew that they are conveyed by our senses. To prove the ideas of passion and desire not to be innate, they observe that we have a preceding experience of these emotions in ourselves. Now if we carefully examine these arguments, we shall find that they prove nothing but that ideas are preceded by other more lively perceptions, from which the are derived, and which they represent. I hope this clear stating of the question will remove all disputes concerning it, and win render this principle of more use in our reasonings, than it seems hitherto to have been.
Esse, então, é o primeiro princípio que estabeleço na ciência da natureza humana; não devemos desprezá-lo devido à simplicidade de sua aparência. Pois é notável que a presente questão acerca da precedência de nossas impressões ou ideias seja a mesma acerca daquilo que tanto barulho produziu em outros termos, quando se discute se há alguma ideia inata ou se todas as ideias são derivadas da sensação e da reflexão. Podemos observar que, a fim de provar que as ideias de extensão e de cor não são inatas, os filósofos nada fazem além de mostrar que elas são transmitidas por nossos sentidos. Para provar que as ideias de paixão e de desejo não são inatas, observam que temos uma experiência prévia dessas emoções em nós mesmos. Ora, se examinarmos cuidadosamente esses argumentos, descobriremos que não provam nada além de que as ideias são precedidas por outras percepções mais vívidas, das quais são derivadas, e as quais representam. Espero que essa apresentação clara da questão elimine todas as disputas a seu respeito, e torne esse princípio mais útil aos nossos raciocínios do que tem sido até agora.
Seção II: Divisão do assunto
editarSince it appears, that our simple impressions are prior to their correspondent ideas, and that the exceptions are very rare, method seems to require we should examine our impressions, before we consider our ideas. Impressions may be divided into two kinds, those of sensation and those of reflexion. The first kind arises in the soul originally, from unknown causes. The second is derived in a great measure from our ideas, and that in the following order. An impression first strikes upon the senses, and makes us perceive heat or cold, thirst or hunger, pleasure or pain of some kind or other. Of this impression there is a copy taken by the mind, which remains after the impression ceases; and this we call an idea. This idea of pleasure or pain, when it returns upon the soul, produces the new impressions of desire and aversion, hope and fear, which may properly be called impressions of reflexion, because derived from it. These again are copied by the memory and imagination, and become ideas; which perhaps in their turn give rise to other impressions and ideas. So that the impressions of reflexion are only antecedent to their correspondent ideas; but posterior to those of sensation, and deriv’d from them. The examination of our sensations belongs more to anatomists and natural philosophers than to moral; and therefore shall not at present be enter’d upon. And as the impressions of reflexion, viz. passions, desires, and emotions, which principally deserve our attention, arise mostly from ideas, ‘twill be necessary to reverse that method, which at first sight seems most natural; and in order to explain the nature and principles of the human mind, give a particular account of ideas, before we proceed to impressions. For this reason I have here chosen to begin with ideas.
Uma vez que aparentemente nossas impressões simples são anteriores a suas ideias correspondentes e que as exceções são muito raras, o método parece requerer que examinemos nossas impressões antes de considerar as nossas ideias. As impressões podem ser divididas em duas espécies, aquelas da sensação e aquelas da reflexão. As da primeira surgem originalmente na alma por causas desconhecidas. As da segunda são derivadas em grande medida de nossas ideias, e isso na seguinte ordem. Uma impressão primeiramente fere um dos sentidos e nos faz perceber calor ou frio, sede ou fome, prazer ou dor, de uma ou de outra espécie. Dessa impressão há uma cópia tomada pela mente, que permanece depois que cessa a impressão; e a isso chamamos ideia. Essa ideia de prazer ou dor, quando retorna à alma, produz as novas impressões de desejo e aversão, esperança e medo, que podem ser propriamente chamadas impressões de reflexão, pois dela são derivadas. Essas são novamente copiadas pela memória e pela imaginação, e tornam-se ideias; que por sua vez podem provocar outras impressões e ideias. De modo que as impressões da reflexão são antecedentes apenas de suas ideias correspondentes; mas posteriores àquelas da sensação, e delas derivadas. O exame de nossas sensações pertence mais ao anatomista e aos filósofos naturais que à moral; e, portanto, não será presentemente introduzido. E como as impressões da reflexão – paixões, desejos e emoções – que merecem nossa principal atenção surgem principalmente de ideias, será necessário inverter aquele método, que à primeira vista pareceria ser o mais natural; e, a fim de explicar a natureza e os princípios da mente humana, oferecer uma abordagem particular das ideias, antes de passar às impressões. Por essa razão escolhi aqui começar pelas ideias.
Seção III: Das ideias da memória e da imaginação
editarWe find by experience, that when any impression bas been present with the mind, it again makes its appearance there as an idea; and this it may do after two different ways: either when in its new appearance it retains a considerable degree of its first vivacity, and is somewhat intermediate betwixt an impression and an idea: or when it entirely loses that vivacity, and is a perfect idea. The faculty, by which we repeat our impressions in the first manner, is called the memory, and the other the imagination. ‘Tis evident at first sight, that the ideas of the memory are much more lively and strong than those of the imagination, and that the former faculty paints its objects in more distinct colours, than any which are employ’d by the latter. When we remember any past event, the idea of it flows in upon the mind in a forcible manner; whereas in the imagination the perception is faint and languid, and cannot without difficulty be preserv’d by the mind steddy and uniform for any considerable time. Here then is a sensible difference betwixt one species of ideas and another. But of this more fully hereafter.[3]
Descobrimos por experiência que, quando qualquer impressão se faz presente à mente, ela aí novamente aparece como ideia; e pode fazer isso de dois modos: ou quando em sua nova aparição ela retém um grau considerável de sua primeira vivacidade, sendo algo entre uma impressão e uma ideia; ou quando perde inteiramente essa vivacidade, sendo uma ideia perfeita. A faculdade pela qual repetimos nossas impressões naquele primeiro modo é chamada memória; a outra, imaginação. É evidente à primeira vista que as ideias da memória são muito mais vívidas e fortes do que aquelas da imaginação, e que a primeira faculdade pinta os seus objetos com cores bem mais destacadas do que quaisquer umas das empregadas pela última. Quando nos lembramos de algum evento passado, a ideia desse evento inunda a mente de maneira impetuosa; ao passo que na imaginação a percepção é débil e lânguida, e não pode ser preservada pela mente, sem dificuldade e de maneira firme e uniforme, por um intervalo de tempo considerável. Eis então uma sensível diferença entre uma espécie de ideias e a outra. Mas sobre isso, mais será dito depois.[3]
There is another difference betwixt these two kinds of ideas, which is no less evident, namely that tho’ neither the ideas, of the memory nor imagination, neither the lively nor faint ideas can make their appearance in the mind, unless their correspondent impressions have gone before to prepare the way for them, yet the imagination is not restrain’d to the same order and form with the original impressions; while the memory is in a manner ty’d down in that respect, without any power of variation.
Há outra diferença entre aquelas duas espécies de ideias, não menos evidente: embora nenhuma das ideias, sejam da memória ou da imaginação, sejam vívidas ou fracas, possam fazer sua aparição na mente sem que as correspondentes impressões tenham antes entrado e preparado o caminho para elas, a imaginação não está restringida à mesma ordem e à mesma forma das impressões originais; ao passo que, nesse aspecto, a memória está como que amarrada, sem qualquer poder de variação.
‘Tis evident, that the memory preserves the original form, in which its objects were presented, and that where-ever we depart from it in recollecting any thing, it proceeds from some defect or imperfection in that faculty. An historian may, perhaps, for the more convenient Carrying on of his narration, relate an event before another, to which it was in fact posterior; but then he takes notice of this disorder, if he be exact; and by that means replaces the idea in its due position. ‘Tis the same case in our recollection of those places and persons, with which we were formerly acquainted. The chief exercise of the memory is not to preserve the simple ideas, but their order and position. In short, this principle is supported by such a number of common and vulgar phaenomena, that we may spare ourselves the trouble of insisting on it any farther.
É evidente que a memória preserva a forma original em que foram apresentados os seus objetos, e que sempre que nos desviamos dessa forma na recordação de qualquer coisa, isso provém de algum defeito ou imperfeição na faculdade. Um historiador pode, talvez por favorecer a fluência de sua narração, relatar um evento antes de outro, embora ele tenha de fato ocorrido depois; mas o historiador registra essa inversão se for meticuloso; e, desse modo, restitui a ideia a seu devido posto. Acontece o mesmo com nossa recordação daqueles lugares e pessoas com os quais nos familiarizamos anteriormente. O principal exercício da memória não é o de preservar as ideias simples, mas a sua ordem e posição. Em resumo, esse princípio é apoiado por tantos fenômenos comuns e prosaicos que podemos nos poupar o trabalho de insistir nisso.
The same evidence follows us in our second principle, of the liberty of the imagination to transpose and change its ideas. The fables we meet with in poems and romances put this entirely out of the question. Nature there is totally confounded, and nothing mentioned but winged horses, fiery dragons, and monstrous giants. Nor will this liberty of the fancy appear strange, when we consider, that all our ideas are copy’d from our impressions, and that there are not any two impressions which are perfectly inseparable. Not to mention, that this is an evident consequence of the division of ideas into simple and complex. Where-ever the imagination perceives a difference among ideas, it can easily produce a separation.
A mesma evidência leva-nos ao nosso segundo princípio, o da liberdade da imaginação de transpor e alterar suas ideias. As fábulas com que deparamos nos poemas e romances deixam-no completamente fora de questão. A natureza aí é inteiramente revirada, e sobram cavalos alados, dragões flamejantes e gigantes monstruosos. Nem parecerá estranha essa liberdade da fantasia quando consideramos que todas as nossas ideias são copiadas de nossas impressões, e que não há duas impressões que sejam perfeitamente inseparáveis. Sem mencionar que isso é uma consequência evidente da divisão das ideais em simples e complexas. Sempre que a imaginação percebe uma diferença entre as ideias, ela pode produzir facilmente uma separação.
Seção IV: Da conexão ou associação de ideias
editarAs all simple ideas may be separated by the imagination, and may be united again in what form it pleases, nothing wou’d be more unaccountable than the operations of that faculty, were it not guided by some universal principles, which render it, in some measure, uniform with itself in all times and places. Were ideas entirely loose and unconnected, chance alone wou’d join them; and ‘tis impossible the same simple ideas should fall regularly into complex ones (as they commonly do) without some bond of union among them, some associating quality, by which one idea naturally introduces another. This uniting principle among ideas is not to be consider’d as an inseparable connexion; for that has been already excluded from the imagination: Nor yet are we to conclude, that without it the mind cannot join two ideas; for nothing is more free than that faculty: but we are only to regard it as a gentle force, which commonly prevails, and is the cause why, among other things, languages so nearly correspond to each other; nature in a manner pointing out to every one those simple ideas, which are most proper to be united in a complex one. The qualities, from which this association arises, and by which the mind is after this manner convey’d from one idea to another, are three, viz. Resemblance, Contiguity in time or place, and Cause and Effect.
Como todas as ideias simples podem ser separadas pela imaginação e podem ser unidas novamente sob a forma que lhe aprouver, nada seria mais inabordável que as operações dessa faculdade se não fosse ela governada por alguns princípios universais, que, em certa medida, fizessem-na uniforme em si mesma por todos os tempos e lugares; se o acaso somente reunisse ideias inteiramente soltas e desconexas. É impossível que essas mesmas ideias simples resultem em ideias complexas (como normalmente fazem) sem alguma cola entre elas, sem alguma qualidade associante, por meio da qual uma ideia naturalmente introduzisse outra. Esse princípio unificador entre as ideias não deve ser considerado como uma conexão indissolúvel; pois isso já foi excluído da imaginação. Nem devemos concluir que sem ela a mente não possa juntar duas ideias; pois nada é mais livre que essa faculdade; mas devemos somente reconhecê-la como uma força sutil, que geralmente prevalece, e que é a causa por que, entre outras coisas, as línguas correspondem umas às outras tão estreitamente; pois a natureza, de certa maneira, aponta para todos aquelas ideias simples que são mais apropriadas à conjunção numa ideia complexa. As qualidades, das quais surge essa associação, e pelas quais a mente é levada de uma ideia a outra, são três, a saber: semelhança, contiguidade de espaço ou tempo e causa e efeito.
I believe it will not be very necessary to prove, that these qualities produce an association among ideas, and upon the appearance of one idea, naturally introduce another. ‘Tis plain, that in the course of our thinking, and in the constant revolution of our ideas, our imagination runs easily from one idea to any other that resembles it, and that this quality alone is to the fancy a sufficient bond and association. ‘Tis likewise evident that as the senses, in changing their objects, are necessitated to change them regularly, and take them as they lie contiguous to each other, the imagination must by long custom acquire the same method of thinking, and run along the parts of space and time in conceiving its objects. As to the connexion, that is made by the relation of cause and effect, we shall have occasion afterwards to examine it to the bottom, and therefore shall not at present insist upon it. ‘Tis sufficient to observe, that there is no relation, which produces a stronger connexion in the fancy, and makes one idea more readily recall another, than the relation of cause and effect betwixt their objects.
Creio que não será muito necessário demonstrar que essas qualidades produzem uma associação entre ideias, e que, após a aparição de uma ideia, introduzem outra naturalmente. É óbvio que no curso de nosso pensar e no constante revolutear de nossas ideias, nossa imaginação passa facilmente de uma ideia a outra que se lhe assemelhe, e que somente essa qualidade é para a fantasia uma cola e uma associação suficientes. É igualmente evidente que, como os sentidos, ao mudar os objetos, precisam alterá-los regularmente e tomá-los tal como se encontram em sua contiguidade mútua, a imaginação deve, por longo costume, adquirir o mesmo método de pensamento, e percorrer as partes do espaço e do tempo ao conceber seus objetos. Quanto à conexão feita pela relação de causa e efeito, teremos mais tarde ocasião de examiná-la a fundo, e por isso não insistirei sobre ela agora. Basta observar que não há relação que produza uma conexão mais forte na fantasia, e faça uma ideia mais prontamente evocar outra, que a relação de causa e efeito entre seus objetos.
That we may understand the full extent of these relations, we must consider, that two objects are connected together in the imagination, not only when the one is immediately resembling, contiguous to, or the cause of the other, but also when there is interposed betwixt them a third object, which bears to both of them any of these relations. This may be carried on to a great length; tho’ at the same time we may observe, that each remove considerably weakens the relation. Cousins in the fourth degree are connected by causation, if I may be allowed to use that term; but not so closely as brothers, much less as child and parent. In general we may observe, that all the relations of blood depend upon cause and effect, and are esteemed near or remote, according to the number of connecting causes interpos’d betwixt the persons.
Para que possamos compreender plenamente essas relações, devemos considerar que dois objetos estão conectados na imaginação não somente quando um for imediatamente semelhante, contíguo a outro ou causa de outro, mas também quando estiver interposto entre eles um terceiro objeto que mantenha com ambos alguma dessas relações. Isso pode ser levado a grandes extensões; embora, ao mesmo tempo possamos observar que a cada passo se enfraqueça consideravelmente a relação. Primos em quarto grau estão conectados por causação, se me permitem usar esse termo; mas não tão estreitamente quanto irmãos, muito menos como pais e filho. Em geral podemos observar que todas as relações de sangue dependem de causa e efeito, e são consideradas próximas ou remotas, conforme o número de causas conectoras interpostas entre as pessoas.
Of the three relations above-mention’d this of causation is the most extensive. Two objects may be considered as plac’d in this relation, as well when one is the cause of any of the actions or motions of the other, as when the former is the cause of the existence of the latter. For as that action or motion is nothing but the object itself, consider’d in a certain light, and as the object continues the same in all its different situations, ‘tis easy to imagine how such an influence of objects upon one another may connect them in the imagination.
Das três relações acima mencionadas, a de causação é a mais extensiva. Pode-se considerar que dois objetos foram postos nessa relação tanto quando um for a causa de qualquer das ações ou movimentos do outro, como quando o primeiro for a causa da existência do último. Pois, como essa ação ou movimento nada mais é do que o próprio objeto, considerado sob certa luz, e como o objeto continua o mesmo em todas as suas diferentes situações, é fácil imaginar como essa influência mútua entre os objetos pode conectá-los na imaginação.
We may carry this farther, and remark, not only that two objects are connected by the relation of cause and effect, when the one produces a motion or any action in the other, but also when it has a power of producing it. And this we may observe to be the source of all the relation; of interest and duty, by which men influence each other in society, and are plac’d in the ties of government and subordination. A master is such-a-one as by his situation, arising either from force or agreement, has a power of directing in certain particulars the actions of another, whom we call servant. A judge is one, who in all disputed cases can fix by his opinion the possession or property of any thing betwixt any members of the society. When a person is possess’d of any power, there is no more required to convert it into action, but the exertion of the will; and that in every case is considered as possible, and in many as probable; especially in the case of authority, where the obedience of the subject is a pleasure and advantage to the superior.
Podemos levar isso adiante e observar que, não só esses dois objetos estão conectados pela relação de causa e efeito quando um deles produz algum movimento ou alguma ação no outro, mas quando também tem o poder de produzi-lo. E essa, podemos observar, é a fonte de todas as relações de interesse e obrigação, pelas quais os homens influenciam-se mutuamente na sociedade e são inseridos nos laços de governo e subordinação. Um mestre é alguém que, por sua situação, resultante da força ou da concordância, tem o poder de dirigir em certas particularidades as ações de outro, a quem chamamos servo. Um juiz é alguém que, em todos os casos de disputa, pode estabelecer por sua opinião a posse ou a propriedade de qualquer coisa entre os membros da sociedade. Quando uma pessoa possui algum poder, nada mais se requer para convertê-lo em ação do que o exercício da vontade; e isso se considera , em qualquer caso, possível, e em muitos, provável; especialmente no caso da autoridade, onde a obediência do sujeito é um prazer e uma vantagem para o superior.
These are therefore the principles of union or cohesion among our simple ideas, and in the imagination supply the place of that inseparable connexion, by which they are united in our memory. Here is a kind of Attraction, which in the mental world will be found to have as extraordinary effects as in the natural, and to shew itself in as many and as various forms. Its effects are every where conspicuous; but as to its causes, they are mostly unknown, and must be resolv’d into original qualities of human nature, which I pretend not to explain. Nothing is more requisite for a true philosopher, than to restrain the intemperate desire of searching into causes, and having established any doctrine upon a sufficient number of experiments, rest contented with that, when he sees a farther examination would lead him into obscure and uncertain speculations. In that case his enquiry wou’d be much better employ’d in examining the effects than the causes of his principle.
Esses são, portanto, os princípios de união ou coesão entre nossas ideias simples, que na imaginação ocupam o lugar daquela conexão indissolúvel pela qual estão unidas em nossa memória. Aqui é uma espécie de atração, que se descobrirá ter no mundo mental efeitos tão extraordinários quanto no natural, e mostrar-se-á em muitas e variadas formas. Seus efeitos são conspícuos em todos os lugares; mas, quanto a suas causas, são na maioria desconhecidas, e devem ser consideradas qualidades originais da natureza humana, que não pretendo explicar. Nada é mais pertinente a um verdadeiro filósofo que refrear o desejo imoderado de buscar causas; e, tendo estabelecido alguma doutrina a partir de um número suficiente de experimentos, contentar-se com isso ao ver que inquirições ulteriores conduzi-lo-iam a especulações obscuras e incertas. Nesse caso, sua investigação seria mais bem empregada na inquirição dos efeitos que das causas do seu princípio.
Amongst the effects of this union or association of ideas, there are none more remarkable, than those complex ideas, which are the common subjects of our thoughts and reasoning, and generally arise from some principle of union among our simple ideas. These complex ideas may be divided into Relations, Modes, and Substances. We shall briefly examine each of these in order, and shall subjoin some considerations concerning our general and particular ideas, before we leave the present subject, which may be consider’d as the elements of this philosophy.
Entre os efeitos dessa união ou associação de ideias, nenhum há mais notável que aquelas ideias complexas que são objetos comuns de nossos pensamentos e raciocínios, e geralmente surgem de algum princípio de união entre nossas ideias simples. Essas ideias complexas podem ser divididas em relações, modos e substâncias. Examinaremos brevemente cada uma delas e adicionaremos algumas considerações concernentes a nossas ideias gerais e particulares, antes de deixar o presente assunto, que pode ser considerado como os elementos desta filosofia.
Seção V: Das relações
editarThe word Relation is commonly used in two senses considerably different from each other. Either for that quality, by which two ideas are connected together in the imagination, and the one naturally introduces the other, after the manner above-explained: or for that particular circumstance, in which, even upon the arbitrary union of two ideas in the fancy, we may think proper to compare them. In common language the former is always the sense, in which we use the word, relation; and ‘tis only in philosophy, that we extend it to mean any particular subject of comparison, without a connecting principle. Thus distance will be allowed by philosophers to be a true relation, because we acquire an idea of it by the comparing of objects: But in a common way we say, that nothing can be more distant than such or such things from each other, nothing can have less relation: as if distance and relation were incompatible.
A palavra relação é comumente usada em dois sentidos consideravelmente diferentes. Ou para se referir àquela qualidade pela qual duas ideias são conectadas na imaginação, e uma introduz naturalmente a outra, como explicado acima; ou para se referir àquela circunstância particular em que, apesar da união arbitrária de duas ideias na fantasia, podemos achar apropriado compará-las. Na linguagem comum, o primeiro é sempre o sentido em que usamos a palavra relação; e é só na filosofia que o estendemos para significar qualquer objeto particular de comparação, sem um princípio de conexão. Assim, os filósofos admitirão que a distância seja uma verdadeira relação, pois adquirimos uma ideia a seu respeito pela comparação de objetos; mas, de maneira bastante comum, dizemos que nada pode estar mais distante de tal coisa, nada pode ter menos relação com tal coisa, como se a distância e a relação fossem incompatíveis.
It may perhaps be esteemed an endless task to enumerate all those qualities, which make objects admit of comparison, and by which the ideas of philosophical relation are produced. But if we diligently consider them, we shall find that without difficulty they may be compriz’d under seven general heads, which may be considered as the sources of all philosophical relation.
Pode-se considerar, talvez, que seja uma tarefa infindável enumerar todas aquelas qualidade que tornam os objetos suscetíveis de comparação, e por meio das quais as ideais de relações filosóficas são produzidas. Mas, se as considerarmos diligentemente, descobriremos sem dificuldade que elas podem ser reunidas sob sete títulos gerais, que podem ser considerados os das fontes de todas as relações filosóficas.
(1) The first is resemblance: And this is a relation, without which no philosophical relation can exist; since no objects will admit of comparison, but what have some degree of resemblance. But tho’ resemblance be necessary to all philosophical relation, it does not follow, that it always produces a connexion or association of ideas. When a quality becomes very general, and is common to a great many individuals, it leads not the mind directly to any one of them; but by presenting at once too great a choice, does thereby prevent the imagination from fixing on any single object.
1. O primeiro é semelhança; e essa é uma relação sem a qual nenhuma relação filosófica pode existir, uma vez que os objetos não serão suscetíveis de comparação a menos que tenham algum grau de semelhança. Mas, embora a semelhança seja necessária a todas as relações filosóficas, não decorre daí que ela sempre produza uma conexão ou associação de ideias. Quando uma qualidade se torna muito geral e comum a uma grande quantidade de indivíduos, ela não conduz a mente diretamente a nenhum deles; mas, apresentando de uma vez só uma vasta quantidade de opções, impede assim que a imaginação se fixe num único objeto.
(2) Identity may be esteem’d a second species of relation. This relation I here consider as apply’d in its strictest sense to constant and unchangeable objects; without examining the nature and foundation of personal identity, which shall find its place afterwards. Of all relations the most universal is that of identity, being common to every being whose existence has any duration.
2. A identidade pode ser considerada uma segunda espécie de relação. Essa relação é aqui considerada tal como é aplicada em seu sentido estrito a objetos constantes e inalteráveis; sem examinar a natureza e o fundamento da identidade pessoal, que terá lugar adiante. De todas as relações, a mais universal é essa de identidade, sendo comum a todos os seres cuja existência tenha alguma duração.
(3) After identity the most universal and comprehensive relations are those of Space and Time, which are the sources of an infinite number of comparisons, such as distant, contiguous, above, below, before, after, etc.
3. Depois da relação de identidade, as mais universais e abrangentes são as de espaço e tempo, que são a fonte de inúmeras comparações, tais como distante, contíguo, acima, abaixo, antes, depois etc.
(4) All those objects, which admit of quantity, or number, may be compar’d in that particular; which is another very fertile source of relation.
4. Todos os objetos suscetíveis à quantidade ou ao número podem ser comparados nesse aspecto, que é outra fonte muito fértil de relações.
(5) When any two objects possess the same quality in common, the degrees, in which they possess it, form a fifth species of relation. Thus of two objects, which are both heavy, the one may be either of greater, or less weight than the other. Two colours, that are of the same kind, may yet be of different shades, and in that respect admit of comparison.
5. Quando dois objetos possuem a mesma qualidade em comum, os graus em que a possuem formam uma quinta espécie de relação. Assim, de dois objetos que sejam ambos pesados, um pode ser mais, ou menos, pesado que o outro. Duas cores da mesma espécie podem ter diferentes tons, e ser suscetíveis a comparações sob esse aspecto.
(6) The relation of contrariety may at first sight be regarded as an exception to the rule, that no relation of any kind can subsist without some degree of resemblance. But let us consider, that no two ideas are in themselves contrary, except those of existence and non-existence, which are plainly resembling, as implying both of them an idea of the object; tho’ the latter excludes the object from all times and places, in which it is supposed not to exist.
6. A relação de contrariedade pode à primeira vista ser considerada como exceção à regra de que nenhuma relação de qualquer espécie pode subsistir sem algum grau de semelhança. Mas consideremos que duas ideias nunca são em si mesmas contrárias, exceto as de existência e não-existência, que são obviamente semelhantes por implicar ambas uma ideia do objeto; embora a última exclua o objeto de todos os tempos e lugares, em que se supõe que não exista.
(7) All other objects, such as fire and water, heat and cold, are only found to be contrary from experience, and from the contrariety of their causes or effects; which relation of cause and effect is a seventh philosophical relation, as well as a natural one. The resemblance implied in this relation, shall be explain’d afterwards.
7. O fato de que todos os outros objetos, tais como o fogo e a água, o calor e o frio, são contrários é descoberto pela experiência, e pela contrariedade de suas causas e efeitos; essa relação de causa e efeito é a sétima relação filosófica, bem como uma relação natural. A semelhança envolvida nessa relação será explicada posteriormente.
It might naturally be expected, that I should join difference to the other relations. But that I consider rather as a negation of relation, than as anything real or positive. Difference is of two kinds as oppos’d either to identity or resemblance. The first is call’d a difference of number; the other of kind.
Naturalmente poderiam esperar que eu adicionasse a diferença às demais relações; mas considero essa antes uma negação da relação que alguma coisa real ou positiva. A diferença é de duas espécies, conforme a oposição à identidade ou à semelhança. A primeira é chamada de uma diferença de número; a outra, de espécie.
Seção VI: Dos modos e substâncias
editarI wou’d fain ask those philosophers, who found so much of their reasonings on the distinction of substance and accident, and imagine we have clear ideas of each, whether the idea of substance be deriv’d from the impressions of sensation pr of reflection? If it be convey’d to us by our senses, I ask, which of them; and after what manner? If it be perceiv’d by the eyes, it must be a colour; if by the ears, a sound; if by the palate, a taste; and so of the other senses. But I believe none will assert, that substance is either a colour, or sound, or a taste. The idea, of substance must therefore be deriv’d from an impression of reflection, if it really exist. But the impressions of reflection resolve themselves into our passions and emotions: none of which can possibly represent a substance. We have therefore no idea of substance, distinct from that of a collection of particular qualities, nor have we any other meaning when we either talk or reason concerning it.
Eu perguntaria àqueles filósofos que baseiam grande parte de seus argumentos sobre a distinção de substância e acidente e imaginam que tenhamos ideias claras sobre cada uma dessas coisas se a ideia de substância seria derivada de impressões de sensação ou de impressões de reflexão. Se ela nos for transmitida pelos sentidos, pergunto, qual deles e de que maneira? Se for percebida pelos olhos, ela deve ter uma cor; se pelos olhos, um som; se pelo paladar, um gosto; e o mesmo vale para os demais sentidos. Mas creio que nenhum deles dirá que a substância seja uma cor ou um som ou um gosto. A ideia de substância deve, portanto, ser derivada de uma impressão de reflexão, se é que existe. Mas as impressões de reflexão dividem-se em nossas paixões e emoções; nenhuma delas pode representar uma substância. Não temos, portanto, nenhuma ideia de substância senão aquela de uma coleção de qualidades particulares, nem atribuímos qualquer outro significado quando falamos ou raciocinamos sobre ela.
The idea of a substance as well as that of a mode, is nothing but a collection of Simple ideas, that are united by the imagination, and have a particular name assigned them, by which we are able to recall, either to ourselves or others, that collection. But the difference betwixt these ideas consists in this, that the particular qualities, which form a substance, are commonly refer’d to an unknown something, in which they are supposed to inhere; or granting this fiction should not take place, are at least supposed to be closely and inseparably connected by the relations of contiguity and causation. The effect of this is, that whatever new simple quality we discover to have the same connexion with the rest, we immediately comprehend it among them, even tho’ it did not enter into the first conception of the substance. Thus our idea of gold may at first be a yellow colour, weight, malleableness, fusibility; but upon the discovery of its dissolubility in aqua regia, we join that to the other qualities, and suppose it to belong to the substance as much as if its idea had from the beginning made a part of the compound one. The principal of union being regarded as the chief part of the complex idea, gives entrance to whatever quality afterwards occurs, and is equally comprehended by it, as are the others, which first presented themselves. themselves.
A ideia de substância, assim como a de modo, não é nada além de uma coleção de ideias simples, que são reunidas pela imaginação e a que se atribui um nome particular, por meio do qual somos capazes de evocar, para nós mesmos ou aos outros, essa coleção. Mas a diferença entre essas ideias consiste nisto: que as qualidades particulares, que formam uma substância, são comumente referidas a um algo, no qual se supõe que estejam aderidas; ou, admitindo-se que essa ficção não tome lugar, supõe-se ao menos que estejam íntima e inseparavelmente conectadas pelas relações de contiguidade e causação. O efeito disso é que, qualquer que seja a nova qualidade simples que descubramos ter a mesma conexão com o restante, nós a encerramos entre elas, mesmo que não tenha entrado na primeira concepção da substância. Assim, nossa ideia de ouro pode ser, num primeiro momento, uma cor amarela, um peso, uma maleabilidade, uma fusibilidade; mas após a descoberta de sua dissolubilidade na acqua regia, juntamos essa às outras qualidade e supomos que pertença à substância tal como se sua ideia tivesse feito parte desde o início da ideia composta. O princípio de união, por ser considerado a parte principal da ideia complexa, permite que qualquer qualidade ocorra mais tarde e seja igualmente envolvida por ele, assim como as demais, que se apresentaram antes.
That this cannot take place in modes, is evident from considering their mature. The simple ideas of which modes are formed, either represent qualities, which are not united by contiguity and causation, but are dispers’d in different subjects; or if they be all united together, the uniting principle is not regarded as the foundation of the complex idea. The idea of a dance is an instance of the first kind of modes; that of beauty of the second. The reason is obvious, why such complex ideas cannot receive any new idea, without changing the name, which distinguishes the mode.
Que isso não possa acontecer nos modos é evidenciado pela consideração de sua natureza. As ideias simples que constituem os modos ou representam qualidades, que não são unificadas por contiguidade nem por causação, mas estão dispersas em diferentes objetos; ou, se forem de fato unificadas, o princípio unificador não é reconhecido como fundamento da ideia complexa. A ideia de uma dança é um exemplo da primeira espécie de modo; a da beleza, da segunda. É óbvia a razão pela qual essas ideias complexas não podem receber nenhuma ideia nova sem que também se altere o nome que distingue o modo.
Seção VII: Das ideias abstratas
editarA very material question has been started concerning abstract or general ideas, whether they be general or particular in the mind’s conception of them. A great philosopher[4] has disputed the receiv’d opinion in this particular, and has asserted, that all general ideas are nothing but particular ones, annexed to a certain term, which gives them a more extensive signification, and makes them recall upon occasion other individuals, which are similar to them. As I look upon this to be one of the greatest and most valuable discoveries that has been made of late years in the republic of letters, I shag here endeavour to confirm it by some arguments, which I hope will put it beyond all doubt and controversy.
Tem-se discutido uma questão bastante substancial acerca das ideias abstratas ou gerais: se elas seriam gerais ou particulares na concepção que delas faz a mente. Um grande filósofo questionou a opinião aceita a esse respeito e afirmou que todas as ideias gerais não são nada além de ideias particulares anexadas a um termo que lhes dá significação mais ampla. Como considero essa descoberta uma das mais importantes e valiosas feitas nos últimos anos na república das letras, empreenderei aqui confirmá-la por alguns argumentos, que, assim espero, assentá-la-ão além de qualquer dúvida e controvérsia.
‘Tis evident, that in forming most of our general ideas, if not all of them, we abstract from every particular degree of quantity and quality, and that an object ceases not to be of any particular species on account of every small alteration in its extension, duration and other properties. It may therefore be thought, that here is a plain dilemma, that decides concerning the nature of those abstract ideas, which have afforded so much speculation to philosophers. The abstract idea of a man represents men of all sizes and all qualities; which ‘tis concluded it cannot do, but either by representing at once all possible sizes and all possible qualities, or by, representing no particular one at all. Now it having been esteemed absurd to defend the former proposition, as implying an infinite capacity in the mind, it has been commonly infer’d in favour of the letter: and our abstract ideas have been suppos’d to represent no particular degree either of quantity or quality. But that this inference is erroneous, I shall endeavour to make appear, first, by proving, that ‘tis utterly impossible to conceive any quantity or quality, without forming a precise notion of its degrees: And secondly by showing, that tho’ the capacity of the mind be not infinite, yet we can at once form a notion of all possible degrees of quantity and quality, in such a manner at least, as, however imperfect, may serve all the purposes of reflection and conversation.
É evidente que, ao formar a maioria de nossas ideias gerais, se não todas, abstraímos de todos os graus particulares de quantidade e qualidade, e que um objeto não deixa de pertencer a uma determinada espécie devido a qualquer alteração mínima de sua extensão, duração e outras propriedades. Pode-se pensar, então, haver um dilema notório em relação à natureza das ideias abstratas – que tenta especulação tem proporcionado aos filósofos. A ideia abstrata de um homem representa homens de todos os tamanhos e todas as qualidades. Conclui-se que isso só seria possível se a ideia abstrata representasse de uma só vez todos os tamanhos possíveis e todas as qualidades possíveis, ou se não representasse nada particular. Ora, dado que se considera absurdo defender a primeira proposição, pois implicaria uma capacidade infinita da mente, conclui-se comumente em favor da última; e supõe-se que nossas ideias abstratas não representam nenhum grau particular, seja de quantidade, seja de qualidade. Mas tentarei evidenciar que essa é uma conclusão errônea; em primeiro lugar, demonstrando ser completamente impossível conceber qualquer quantidade ou qualidade sem formar uma noção precisa de seus graus; em segundo lugar; mostrando que, embora a capacidade da mente não seja infinita, podemos formar de uma só vez uma noção de todos os graus possíveis de quantidade e qualidade, de uma maneira que, embora imperfeita, pode servir a todos os propósitos da reflexão e da conversação.
To begin with the first proposition, that the mind cannot form any notion of quantity or quality without forming a precise notion of degrees of each; we may prove this by the three following arguments. First, We have observ’d, that whatever objects are different are distinguishable, and that whatever objects are distinguishable are separable by the thought and imagination. And we may here add, that these propositions are equally true in the inverse, and that whatever objects are separable are also distinguishable, and that whatever objects are distinguishable, are also different. For how is it possible we can separate what is not distinguishable, or distinguish what is not different? In order therefore to know, whether abstraction implies a separation, we need only consider it in this view, and examine, whether all the circumstances, which we abstract from in our general ideas, be such as are distinguishable and different from those, which we retain as essential parts of them. But ‘tis evident at first sight, that the precise length of a line is not different nor distinguishable from the line itself. nor the precise degree of any quality from the quality. These ideas, therefore, admit no more of separation than they do of distinction and difference. They are consequently conjoined with each other in the conception; and the general idea of a line, notwithstanding all our abstractions and refinements, has in its appearance in the mind a precise degree of quantity and quality; however it may be made to represent others, which have different degrees of both.
A começar com a primeira proposição, a de que a mente não pode formar noção alguma de quantidade ou qualidade sem formar uma noção precisa dos graus de cada uma, podemos prová-la com os três argumentos seguintes. Primeiro, observamos que quaisquer objetos diferentes são distinguíveis, e quaisquer objetos distinguíveis são separáveis pelo pensamento e pela imaginação. E podemos aqui acrescentar que essas proposições são igualmente verdadeiras em ordem inversa, e que quaisquer objetos que sejam separáveis são também distinguíveis, e que quaisquer objetos que sejam distinguíveis são também diferentes. Pois como seria possível que pudéssemos separar o que não é distinguível ou distinguir o que não é diferente? Portanto, a fim de saber se a abstração implica uma separação, precisamos apenas considerá-la nessa perspectiva, e examinar se todas as circunstâncias que abstraímos em ideias gerais são distinguíveis e diferentes daquelas que mantemos como suas partes essenciais. Mas é evidente, logo ao primeiro olhar, que o comprimento preciso de uma linha não é diferente nem distinguível da própria linha; nem o grau preciso de qualquer qualidade é distinguível da própria qualidade. Essas ideias, portanto, não admitem mais separação que distinção e diferença. Elas estão, consequentemente, juntas na concepção; e a ideia geral de uma linha, não obstante todas as nossas abstrações e refinamentos, tem, em sua aparição à mente, um grau preciso de quantidade e qualidade; muito embora possa ser empregada para representar outras que tenham graus diferentes de ambas.
Secondly, ‘tis contest, that no object can appear to the senses; or in other words, that no impression can become present to the mind, without being determined in its degrees both of quantity and quality. The confusion, in which impressions are sometimes involv’d, proceeds only from their faintness and unsteadiness, not from any capacity in the mind to receive any impression, which in its real existence has no particular degree nor proportion. That is a contradiction in terms; and even implies the flattest of all contradictions, viz. that ‘tis possible for the same thing both to be and not to be.
Em segundo lugar, admite-se que nenhum objeto pode aparecer aos sentidos; ou, em outras palavras, que nenhuma impressão pode se tornar presente à mente sem estar determinada em seus graus de quantidade e qualidade. A confusão em que às vezes se envolvem as impressões procede apenas de sua debilidade e inconstância, não de alguma capacidade da mente de receber impressões que, em sua existência real, não tenham nenhum grau particular ou nenhuma proporção. Isso é uma contradição em termos; e implica mesmo a mais flagrante de todas as contradições, isto é, a de que seja possível para uma mesma coisa tanto ser como não ser.
Now since all ideas are deriv’d from impressions, and are nothing but copies and representations of them, whatever is true of the one must be acknowledg’d concerning the other. Impressions and ideas differ only in their strength and vivacity. The foregoing conclusion is not founded on any particular degree of vivacity. It cannot therefore be affected by any variation in that particular. An idea is a weaker impression; and as a strong impression must necessarily have a determinate quantity and quality, the case must be the same with its copy or representative.
Ora, uma vez que todas as ideias são derivadas das impressões, e não são nada mais do que cópias e representações dessas últimas, o que quer que seja verdadeiro a respeito de umas deverá ser admitido em relação às outras. Impressões e ideias diferem apenas em força e vivacidade. A conclusão acima não está fundada em nenhum grau particular de vivacidade. Ela não pode, portanto, ser afetada por nenhuma variação nesse particular. Uma ideia é uma impressão mais fraca; e, como uma impressão forte deve necessariamente ter uma quantidade e qualidade determinadas, o caso deve ser o mesmo em relação às suas cópias ou representantes.
Thirdly, ‘tis a principle generally receiv’d in philosophy that everything in nature is individual, and that ‘tis utterly absurd to suppose a triangle really existent, which has no precise proportion of sides and angles. If this therefore be absurd in fact and reality, it must also be absurd in idea; since nothing of which we can form a clear and distinct idea is absurd and impossible. But to form the idea of an object, and to form an idea simply, is the same thing; the reference of the idea to an object being an extraneous denomination, of which in itself it bears no mark or character. Now as ‘tis impossible to form an idea of an object, that is possest of quantity and quality, and yet is possest of no precise degree of either; it follows that there is an equal impossibility of forming an idea, that is not limited and confin’d in both these particulars. Abstract ideas are therefore in themselves individual, however they may become general in their representation. The image in the mind is only that of a particular object, tho’ the application of it in our reasoning be the same, as if it were universal.
Em terceiro lugar, é um princípio geralmente aceito na filosofia o de que qualquer coisa na natureza é individual, e seria completamente absurdo supor um triângulo realmente existente que não tenha proporções exatas de lados e ângulos. Se, portanto, isso é absurdo de fato e na realidade, também deve ser absurdo na ideia; pois nada daquilo que podemos formar uma ideia clara e distinta é absurdo ou impossível. Mas formar a ideia de um objeto e simplesmente formar uma ideia são a mesma coisa; sendo a referência da ideia a um objeto um adendo supérfluo, do qual ela não traz, em si mesma, nenhuma marca ou característica. Ora, como é impossível formar uma ideia de um objeto que possua quantidade e qualidade sem que aquela possua nenhum grau determinado de quantidade ou qualidade, segue-se que se impõe uma impossibilidade equivalente de se formar uma ideia que não esteja limitada e confinada nesses dois aspectos. As ideias abstratas, portanto, são em si mesmas individuais, embora possam se tornar gerais ao exercer representação. A imagem na mente é somente aquela de um objeto particular, embora a aplicação da mesma em nosso raciocínio ocorra como se ela fosse universal.
This application of ideas beyond their nature proceeds from our collecting all their possible degrees of quantity and quality in such an imperfect manner as may serve the purposes of life, which is the second proposition I propos’d to explain. When we have found a resemblance[5] among several objects, that often occur to us, we apply the same name to all of them, whatever differences we may observe in the degrees of their quantity and quality, and whatever other differences may appear among them. After we have acquired a custom of this kind, the hearing of that name revives the idea of one of these objects, and makes the imagination conceive it with all its particular circumstances and proportions. But as the same word is suppos’d to have been frequently applied to other individuals, that are different in many respects from that idea, which is immediately present to the mind; the word not being able to revive the idea of all these individuals, but only touches the soul, if I may be allow’d so to speak, and revives that custom, which we have acquir’d by surveying them. They are not really and in fact present to the mind, but only in power; nor do we draw them all out distinctly in the imagination, but keep ourselves in a readiness to survey any of them, as we may be prompted by a present design or necessity. The word raises up an individual idea, along with a certain custom; and that custom produces any other individual one, for which we may have occasion. But as the production of all the ideas, to which the name may be apply’d, is in most eases impossible, we abridge that work by a more partial consideration, and find but few inconveniences to arise in our reasoning from that abridgment.
Essa aplicação das ideias que ultrapassa a sua natureza, provém de nossa coleta de todos os seus possíveis graus de quantidade e qualidade de um modo que imperfeitamente pode servir aos propósitos da vida; e essa é a segunda proposição que me proponho explicar. Quando descobrimos uma semelhança entre vários objetos, o que frequentemente nos ocorre, aplicamos o mesmo nome a todos eles, independentemente das diferenças que possamos observar nos graus de suas quantidades e qualidades, e independentemente de outras diferenças que possam aparecer entre eles. Depois de termos adquirido um costume dessa espécie, o evento de ouvir esse nome revive a ideia de um desses objetos, e faz a imaginação concebê-lo com todas as circunstâncias e proporções particulares. Mas, como a mesma palavra deve ter sido frequentemente aplicada a outros indivíduos que são diferentes em muitos aspectos daquela ideia que está imediatamente presente na mente, a palavra, não sendo capaz de reviver a ideia de todos esses indivíduos, apenas toca o espírito, se me permitem falar assim, e revive aquele costume que adquirimos ao inspecioná-los. Eles não estão realmente e de fato presentes na mente, mas apenas em potencial; nem os figuramos todos distintamente na imaginação, mas mantemo-nos de prontidão para inspecionar qualquer um deles, já que podemos ser a isso impelidos por um desígnio ou necessidade presente. A palavra faz surgir uma ideia individual junto com certo costume, e esse costume produz qualquer um dos outros indivíduos para o qual se apresente a ocasião. Mas, como a produção de todas as ideias para as quais o nome pode ser aplicado é na maioria das vezes impossível, abreviamos esse trabalho por meio de uma consideração mais parcial, e deparamos com apenas umas poucas inconveniências ao raciocinar a partir dessa abreviação.
For this is one of the most extraordinary circumstances in the present affair, that after the mind has produc’d an individual idea, upon which we reason, the attendant custom, reviv’d by the general or abstract term, readily suggests any other individual, if by chance we form any reasoning, that agrees not with it. Thus shou’d we mention the word triangle, and form the idea of a particular equilateral one to correspond to it, and shou’d we afterwards assert, that the three angles of a triangle are equal to each other, the other individuals of a scalenum and isosceles, which we overlooked at first, immediately crowd in upon us, and make us perceive the falshood of this proposition, tho’ it be true with relation to that idea, which we had form’d. If the mind suggests not always these ideas upon occasion, it proceeds from some imperfection in its faculties; and such a one as is often the source of false reasoning and sophistry. But this is principally the case with those ideas which are abstruse and compounded. On other occasions the custom is more entire, and ‘tis seldom we run into such errors.
Pois esta é uma das mais extraordinárias circunstâncias do presente assunto: que após a mente ter produzido uma ideia individual, a partir da qual raciocinamos, o respectivo costume, revivido pelo termo geral ou abstrato, prontamente sugere qualquer outro indivíduo se por acaso formarmos algum raciocínio que não concorde com a primeira ideia individual. Assim, se mencionarmos a palavra triângulo e formarmos a ideia de um triângulo equilátero particular para lhe corresponder, e afirmarmos depois que os três ângulos de qualquer triângulo são iguais, os outros indivíduos dos escalenos e isósceles, que antes desconsideramos, impor-se-ão imediatamente a nós e far-nos-ão perceber a falsidade dessa proposição, embora ela seja verdadeira a respeito daquela ideia que formamos. Se a mente não sugerir sempre essas ideias conforme a ocasião, isso advirá de alguma imperfeição em suas faculdades, de uma espécie que é frequentemente a fonte do raciocínio falso e do sofisma. Mas isso é o caso sobretudo com aquelas ideias que são abstrusas e compostas. Em outras ocasiões o costume é mais completo, e raro é que incorramos em tais erros.
Nay so entire is the custom, that the very same idea may be annext to several different words, and may be employ’d in different reasonings, without any danger of mistake. Thus the idea of an equilateral triangle of an inch perpendicular may serve us in talking of a figure, of a rectilinear figure, of a regular figure, of a triangle, and of an equilateral triangle. AR these terms, therefore, are in this case attended with the same idea; but as they are wont to be apply’d in a greater or lesser compass, they excite their particular habits, and thereby keep the mind in a readiness to observe, that no conclusion be form’d contrary to any ideas, which are usually compriz’d under them.
Tão completo é o costume que a mesma ideia pode ser anexada a várias palavras diferentes, e pode ser empregada em diferentes raciocínios, sem qualquer risco de erro. Assim, a ideia de um triângulo equilátero com uma polegada de altura pode nos servir para falar de uma figura, de uma figura retilínea, de uma figura regular, de um triângulo e de um triângulo equilátero. Todos esses termos, portanto, estão associados nesse caso à mesma ideia; mas, conforme sejam usualmente aplicados numa amplitude maior ou menor, excitarão seus hábitos particulares, e assim manterão a mente em prontidão para observar se nenhuma conclusão será formada em oposição a alguma das ideias que estão geralmente neles envolvidas.
Before those habits have become entirely perfect, perhaps the mind may not be content with forming the idea of only one individual, but may run over several, in order to make itself comprehend its own meaning, and the compass of that collection, which it intends to express by the general term. That we may fix the meaning of the word, figure, we may revolve in our mind the ideas of circles, squares, parallelograms, triangles of different sizes and proportions, and may not rest on one image or idea. However this may be, ‘tis certain that we form the idea of individuals, whenever we use any general term; that we seldom or never can exhaust these individuals; and that those, which remain, are only represented by means of that habit, by which we recall them, whenever any present occasion requires it. This then is the nature of our abstract ideas and general terms; and ‘tis after this manner we account for the foregoing paradox, that some ideas are particular in their nature, but general in their representation. A particular idea becomes general by being annex’d to a general term; that is, to a term, which from a customary conjunction has a relation to many other particular ideas, and readily recalls them in the imagination.
Antes que esses hábitos se tornem completamente perfeitos, talvez a mente possa não ficar satisfeita com a formação de apenas um indivíduo, mas percorra vários, a fim de fazer com que ela mesma compreenda seus próprios significados e a amplitude dessa coleção, que ela tenciona expressar com o termo geral. Para que possamos fixar o significado da palavra “figura,” podemos revolver em nossa mente as ideias de círculos, quadrados, paralelogramos, triângulos, de diferentes tamanhos e proporções, e talvez não nos detenhamos em nenhuma imagem ou ideia. Apesar disso, é certo que formamos ideias de indivíduos sempre que usamos algum termo geral; que raramente ou nunca podemos esgotar esses indivíduos; e que aqueles que permanecem são representados apenas por meio daquele hábito pelo qual os evocamos sempre que alguma ocasião presente assim o requerer. Essa, então, é a natureza de nossas ideias abstratas e termos gerais; e é dessa maneira que tratamos do seguinte paradoxo: algumas ideias são particulares em sua natureza, mas gerais em sua representação. Uma ideia particular torna-se geral por ser anexada a um termo geral; isto é, a um termo que, a partir de uma conjunção costumeira, tem relação com muitas outras ideias particulares, e prontamente as evoca na imaginação.
The only difficulty, that can remain on this subject, must be with regard to that custom, which so readily recalls every particular idea, for which we may have occasion, and is excited by any word or sound, to which we commonly annex it. The most proper method, in my opinion, of giving a satisfactory explication of this act of the mind, is by producing other instances, which are analogous to it, and other principles, which facilitate its operation. To explain the ultimate causes of our mental actions is impossible. ‘Tis sufficient, if we can give any satisfactory account of them from experience and analogy.
A única dificuldade que pode permanecer nesse assunto deve estar relacionada àquele costume que tão prontamente evoca cada ideia particular cuja ocasião se nos apresente, e é excitado por quaisquer palavras ou sons que comumente lhe são associados. O método mais adequado, na minha opinião, de explicar satisfatoriamente esse ato da mente é produzir outros exemplos que sejam análogos e outros princípios que facilitem sua operação. Explicar as causas últimas de nossos atos mentais é impossível. É suficiente que possamos dar alguma abordagem satisfatória deles a partir da experiência e da analogia.
First then I observe, that when we mention any great number, such as a thousand, the mind has generally no adequate idea of it, but only a power of producing such an idea, by its adequate idea of the decimals, under which the number is comprehended. This imperfection, however, in our ideas, is never felt in our reasonings; which seems to be an instance parallel to the present one of universal ideas.
Em primeiro lugar, então, observo que, quando mencionamos algum número grande, tal como mil, a mente geralmente não tem uma ideia adequada dele, mas somente um potencial de produzir tal ideia por meio de sua ideia adequada dos decimais, em que esse número está envolvido. Essa imperfeição, entretanto, em nossas ideias, nunca é sentida em nossos raciocínios, que parece ser um caso paralelo ao das ideias universais.
Secondly, we have several instances of habits, which may be reviv’d by one single word; as when a person, who has by rote any periods of a discourse, or any number of verses, will be put in remembrance of the whole, which he is at a loss to recollect, by that single word or expression, with which they begin.
Em segundo lugar, temos vários exemplos de hábitos que podem ser revividos por uma única palavra; tal como quando uma pessoa que sabe de cor o trecho de um discurso ou certo número de versos será levada a se lembrar de toda a parte que não consegue recordar se lhe lembrarem daquela única palavra ou expressão que a inicia.
Thirdly, I believe every one, who examines the situation of his mind in reasoning’ will agree with me, that we do not annex distinct and compleat ideas to every term we make use of, and that in talking of government, church, negotiation, conquest, we seldom spread out in our minds all the simple ideas, of which these complex ones are compos’d. ‘Tis however observable, that notwithstanding this imperfection we may avoid talking nonsense on these subjects, and may perceive any repugnance among the ideas, as well as if we had a fall comprehension of them. Thus if instead of saying, that in war the weaker have always recourse to negotiation, we shou’d say, that they have always recourse to conquest, the custom, which we have acquir’d of attributing certain relations to ideas, still follows the words, and makes us immediately perceive the absurdity of that proposition; in the same manner as one particular idea may serve us in reasoning concerning other ideas, however different from it in several circumstances.
Em terceiro lugar, creio que todo aquele que examinar a situação de sua mente durante o seu raciocínio concordará comigo sobre isto: não anexamos ideias distintas e complexas a todos os termos que usamos; e ao falar de governo, igreja, negociação, conquista raramente se impregna nossa mente de todas as ideias simples das quais são compostas essas ideais complexas. É, entretanto, observável que, apesar dessa imperfeição, evitamos falar contrassensos sobre esses assuntos e percebemos certa repugnância entre as ideias, tal como se tivéssemos plena compreensão delas. Assim, se, em vez de dizer que na guerra o mais fraco sempre pode recorrer à negociação, disséssemos que ele sempre pode recorrer à conquista, o costume que adquirimos de atribuir certas relações às ideias acompanha ainda as palavras e faz-nos perceber imediatamente a absurdidade dessa proposição; do mesmo modo como uma ideia particular pode nos servir num raciocínio concernente a outras ideias, independentemente do quão diferente seja em várias circunstâncias.
Fourthly, as the individuals are collected together, said plac’d under a general term with a view to that resemblance, which they bear to each other, this relation must facilitate their entrance in the imagination, and make them be suggested more readily upon occasion. And indeed if we consider the common progress of the thought, either in reflection or conversation, we shall find great reason to be satisfy’d in this particular. Nothing is more admirable, than the readiness, with which the imagination suggests its ideas, and presents them at the very instant, in which they become necessary or useful. The fancy runs from one end of the universe to the other in collecting those ideas, which belong to any subject. One would think the whole intellectual world of ideas was at once subjected to our view, and that we did nothing but pick out such as were most proper for our purpose. There may not, however, be any present, beside those very ideas, that are thus collected by a kind of magical faculty in the soul, which, tho’ it be always most perfect in the greatest geniuses, and is properly what we call a genius, is however inexplicable by the utmost efforts of human understanding.
Em quarto lugar, como os indivíduos são reunidos e colocados sob um termo geral tendo em vista a sua mútua semelhança, essa relação deve facilitar sua entrada na imaginação e fazer com que sejam sugeridos mais prontamente assim que a ocasião se apresente. E, com efeito, se considerarmos o progresso comum do pensamento, ou na reflexão ou na conversação, encontraremos boas razões para estar satisfeitos nesse particular. Nada é mais admirável que a prontidão com que a imaginação sugere suas ideias, e apresenta-as no mesmo instante em que se tornam necessárias ou úteis. A fantasia corre de um extremo do universo ao outro em sua coleta daquelas ideias que pertençam a certo assunto. Pensar-se-ia que todo o mundo intelectual das ideias esteja de uma só vez submetido à nossa visão, e que nada mais fazemos além de pinçar aquela mais adequada a nosso propósito. Não há nada presente, entretanto, além daquelas ideias mesmas que são assim coletadas por uma espécie de faculdade mágica da alma, que, embora seja sempre mais perfeita nos grandes gênios, e seja propriamente aquilo que chamamos um gênio, não pode ser, entretanto, explicado nem pelos maiores esforços da compreensão humana.
Perhaps these four reflections may help to remove an difficulties to the hypothesis I have propos’d concerning abstract ideas, so contrary to that, which has hitherto prevail’d in philosophy, But, to tell the truth I place my chief confidence in what I have already prov’d concerning the impossibility of general ideas, according to the common method of explaining them. We must certainly seek some new system on this head, and there plainly is none beside what I have propos’d. If ideas be particular in their nature, and at the same time finite in their number, ‘tis only by custom they can become general in their representation, and contain an infinite number of other ideas under them.
Talvez essas quatro reflexões possam ajudar a remover todas as dificuldades com a hipótese que tenho proposto em relação às ideias abstratas, tão contrária à que tem prevalecido até agora na filosofia. Mas, para dizer a verdade, ponho minha confiança precípua no que já demonstrei a respeito da impossibilidade das ideias gerais conforme o método comum de explicá-las. Devemos certamente buscar um novo sistema a esse título, e claramente não há nenhum além do que propus. Se as ideias forem particulares em sua natureza e ao mesmo tempo finitas em seu número, será somente por costume que poderão se tornar gerais em sua representação e conter um número de outras ideias atrás de si.
Before I leave this subject I shall employ the same principles to explain that distinction of reason, which is so much talk’d of, and is so little understood, in the schools. Of this kind is the distinction betwixt figure and the body figur’d; motion and the body mov’d. The difficulty of explaining this distinction arises from the principle above explain’d, that all ideas, which are different, are separable. For it follows from thence, that if the figure be different from the body, their ideas must be separable as well as distinguishable: if they be not different, their ideas can neither be separable nor distinguishable. What then is meant by a distinction of reason, since it implies neither a difference nor separation.
Antes de deixar esse assunto, empregarei os mesmos princípios para explicar a distinção da razão, sobre a qual tanto se fala e pouco se compreende nas escolas. Dessa espécie é a distinção entre figura e corpo figurado; movimento e corpo movido. A dificuldade em explicar essa distinção surge do princípio acima explicado de que todas as ideias diferentes são separáveis. Pois se segue daí que, se a figura for diferente do corpo, suas ideias deverão ser separáveis e distinguíveis; se não forem diferentes, suas ideias não podem ser separáveis nem distinguíveis. O que, então, tenciona-se com uma distinção da razão, já que não implica uma diferença nem uma separação?
To remove this difficulty we must have recourse to the foregoing explication of abstract ideas. ‘Tis certain that the mind wou’d never have dream’d of distinguishing a figure from the body figur’d, as being in reality neither distinguishable, nor different, nor separable; did it not observe, that even in this simplicity there might be contain’d many different resemblances and relations. Thus when a globe of white marble is presented, we receive only the impression of a white colour dispos’d in a certain form, nor are we able to separate and distinguish the colour from the form. But observing afterwards a globe of black marble and a cube of white, and comparing them with our former object, we find two separate resemblances, in what formerly seemed, and really is, perfectly inseparable. After a little more practice of this kind, we begin to distinguish the figure from the colour by a distinction of reason; that is, we consider the figure and colour together, since they are in effect the same and undistinguishable; but still view them in different aspects, according to the resemblances, of which they are susceptible. When we wou’d consider only the figure of the globe of white marble, we form in reality an idea both of the figure and colour, but tacitly carry our eye to its resemblance with the globe of black marble: And in the same manner, when we wou’d consider its colour only, we turn our view to its resemblance with the cube of white marble. By this means we accompany our ideas with a kind of reflection, of which custom renders us, in a great measure, insensible. A person, who desires us to consider the figure of a globe of white marble without thinking on its colour, desires an impossibility but his meaning is, that we shou’d consider the figure and colour together, but still keep in our eye the resemblance to the globe of black marble, or that to any other globe of whatever colour or substance.
Para remover essa dificuldade, temos de recorrer à explicação anterior das ideias abstratas. É certo que a mente jamais teria sonhado em distinguir uma figura do corpo figurado, não sendo na realidade nem distinguíveis, nem diferentes, nem separáveis, se não tivesse observado que mesmo nessa simplicidade poderiam estar contidas muitas e diferentes semelhanças e relações. Assim, quando um globo de mármore branco está presente, recebemos apenas a impressão de uma cor branca disposta em certa forma; não somos capazes de separar e discernir a cor da forma. Mas, ao observar depois um globo de mármore preto e um cubo de mármore branco, e ao compará-los então com o nosso primeiro objeto, descobrimos duas semelhanças separadas naquilo que anteriormente parecia ser, e realmente é, perfeitamente inseparável. Depois de alguma prática dessa espécie, começamos a discernir a figura da cor por intermédio de uma distinção da razão; isto é, consideramos a figura e a cor em conjunto, uma vez que são, de fato, uma única coisa e indistinguíveis; mas vemo-las ainda sob diferentes aspectos, conforme as semelhanças a que são suscetíveis. Quando considerássemos apenas a figura do globo de mármore branco, formaríamos na realidade uma ideia tanto da figura como da cor, mas tacitamente levaríamos os olhos para a sua semelhança com o globo de mármore preto; e, da mesma maneira, quando considerássemos apenas a sua cor, volveríamos o olhar para sua semelhança com o cubo de mármore branco. Por esses meios, fazemos acompanhar nossas ideias de uma espécie de reflexão, da qual o costume nos torna, em grande medida, insensíveis. Uma pessoa que desejasse que considerássemos a figura de um globo de mármore branco sem pensar em sua cor, desejaria uma impossibilidade; mas sua intenção é que consideremos a cor e a figura juntas, mas que ainda assim tenhamos em vista a semelhança com o globo de mármore preto ou com qualquer outro globo de qualquer cor ou substância.
Notas de Rodapé
editar[2] I here make use of these terms, impression and idea, in a sense different from what is usual, and I hope this liberty will be allowed me. Perhaps I rather restore the word, idea, to its original sense, from which Mr Locke had perverted it, in making it stand for all our perceptions. By the terms of impression I would not be understood to express the manner, in which our lively perceptions are produced in the soul, but merely the perceptions themselves; for which there is no particular name either in the English or any other language, that I know of.
[2] Faço aqui o uso dos termos, impressão e ideia, num sentido diferente do que é usual, e espero que esta liberdade seja à mim dada. Talvez eu prefira restaurar a palavra, ideia, ao seu sentido original, que o Sr Locke corrompeu, ao faze-la responsável por todos nossos sentidos. Pelo temo "impressão", eu não devo ser entendido como possuindo a intenção de expressar a maneira, pela qual a nossas percepções são produzidas na alma, mas apenas as percepções em si; Para qual não há nenhuma palavra ou nome na ligua Inglesa ou quarquer outra que conheço.
[3] Part II, Sect. 5.
[3] Parte II, Seção 5.
[4] Dr. Berkeley.
[4] Dr. Berkeley.
[5] [The following note is inserted from Hume’s appendix to Book III:] ‘Tis evident, that even different simple ideas may have a similarity or resemblance to each other; nor is it necessary, that the point or circumstance of resemblance shoud be distinct or separable from that in which they differ. Blue and green are different simple ideas, but are more resembling than blue and scarlet; tho their perfect simplicity excludes all possibility of separation or distinction. ‘Tis the same case with particular sounds, and tastes and smells. These admit of infinite resemblances upon the general appearance and comparison, without having any common circumstance the same. And of this we may be certain, even from the very abstract terms simple idea. They comprehend all simple ideas under them. These resemble each other in their simplicity. And yet from their very nature, which excludes all composition, this circumstance, In which they resemble, Is not distinguishable nor separable from the rest. ‘Tis the same case with all the degrees In any quality. They are all resembling and yet the quality, In any individual, Is not distinct from the degree.
[5] [A nota a seguir está inserida no apêndice de Hume para o Livro III:] É evidente que mesmo diferentes ideias simples podem parecer ou se assemelhar entre si; nem é necessário que o ponto ou circunstância em que são parecidas seja distinto ou separável daquilo em que diferem. Azul e verde são ideias simples diferentes, mas são mais parecidas do que azul e escarlate; embora sua perfeita simplicidade exclua toda possibilidade de separação ou distinção. É o mesmo caso com sons, gostos e cheiros particulares. Estes admitem infinitas semelhanças na aparência e comparação geral, sem ter nenhuma circunstância igual em comum. E disso podemos estar certos, mesmo pelos termos muito abstratos, ideia simples. Eles abrangem todas as ideias simples. Estas se assemelham em sua simplicidade. E, ainda assim, por sua própria natureza, que exclui toda composição, essa circunstância, na qual eles se assemelham, não é distinguível nem separável do resto. É o mesmo caso com todos os graus, em qualquer qualidade. Eles são todos semelhantes e, no entanto, a qualidade, em qualquer indivíduo, não é distinta do grau.