Quero, à sombra de uma ala,
Contar este conto em flor:
A menina da Guatemala,
A que morreu de amor.

Eram de lírios os ramos,
E as orlas de reseda,[2]
E de jasmim: a enterramos
Em uma caixa de seda.

...Ela deu ao desmemoriado
Uma almofadinha de olor:
Ele voltou, voltou casado:
Ela morreu de amor.

Carregaram-na em esquife
Bispos e embaixadores:
Atrás ia o povo em magotes,
Todo carregado de flores.

...Ela, por voltar-lhe a ver,
Saiu a vê-lo à varanda
Ele voltou com sua mulher:
Ela morreu de amor.

Como de bronze ardente
Ao beijo de despedida
Foi seu rosto, o rosto
Que mais amou na vida!

...Caiu a tarde no rio,
Achou-a morta o doutor:
Dizem que morreu de frio:
Eu sei que morreu de amor.

Ali, na abóbada gelada,
A puseram em dois bancos;
Beijei su mão afilada,
Beijei seus sapatos brancos.

Calado, ao escurecer,
Me chamou o coveiro:
Nunca mais volto a ver
A que morreu de amor!

  1. Para essa tradução não se obedeceu à métrica original, optando-se pelo sentido e lirismo da obra.
  2. No Brasil o nome mais comum desta flor grafa-se resedá; preferiu-se a grafia orinigal