Anjo d’olhos negros, negros,
Tão da côr da noite escura,
Tu que sabes meus segredos,
Tu que lès minh’amargura;
Porque buscas nessas ondas
Da furia o rebramar?
Porque foges de mim sempre,
Em que estás tu a pensar?
Porque queres brancas velas
Sobre as aguas a soprar,
Quando o oiro das strellas
Brilha, brilha sobre o mar?
Porque triste estás scismando,
No d’outrora o meu scismar?
Se o teu coração palpita,
Em que estás tu a pensar?
Não reparas nesses ares
Essa pomba a perpassar —
Qual será o seu pressagio —
Vem — oh! vem-m’o revelar.
Se nos diz qu’é desventura
Algum dia ha de findar,
Porque queres qu’eu repita
Em que estás tu a pensar?
Mas eu vejo a longe em trevas
Sobrevir a tempestade
Porque esperas? — Foge, foge,
Teme a sua potestade —
Mas tu ficas triste e muda —
Dize, oh dize o teu pena r—
Porque tranquilla só tremes?
Por quem pódes recear? —
Nada disse — e ainda triste —
Mais que nunca assim fico —
Os seus olhos me disseram
O que su’alma me jurou.
Estreitando então seus braços
Revelar-me o seu scismar —
Era a certeza da morte —
Que o fazia assim pensar!
Loanda 22 de Outubro de 1849.