Enfim, pois vossa mercê
não ignora, que é forgoso
acomodar co'as desgraças,
e desbaratar ao gosto:
Ouça os últimos suspiros,
de quem no extrerno amoroso
fala com língua de mágoas,
sente com vozes de fogo.
Que nestas minhas ofensas,
e nestes termos suponho,
que fez dita o meu afeto,
do que você fez estorvo.
Pois adorando excessivo,
o que não logrou ditoso,
só da esperança fez caso,
sern dar ousadia ao logro.
Parecia-me, que nunca
chegasse a ser perigoso
venerar no pensamento
faisas idéias de um gosto.
Mas conhecendo mentiras,
quanto me disse o alvoroço,
repiro agora, o que quis
fazendo negaça ao gosto:
Que como em você conhego,
que lhe será mui custoso
sem fazer da pena opróbrio:
Vendo, que minha esperança
acha o bem dificultoso,
e se encontra coas desgraças
na observação do decoro.
Advirto a minha razão
nos extremos de queixoso
com a raiva da fineza
como refúgio do choro.
Porque limitando a pena
àquele afeto amoroso,
cuja firmeza eterniza,
por alívio o desafogo!
Quero, se é, que pode ser
querer, quem por tantos modos
nem para querer lhe deixa
ação tão tirano afogo!
Que veja você sepulta
a presunção do alvoroço,
que na esperança da posse
era o caminho do logro.
Para que em mudos suspiros
melhor segurem meus olhos,
que a influência de estrela
só neste estado me há posto.
E assim só dela. me queixo,
porque fora lance impróprio
clamar contra as divindades
nesta queixa, que a Amor formo.
Com que advertir-lhe é preciso,
que de tudo, o que me dôo,
na execução de agravo
as glórias julgo por sonho.
Pois se cheguei a adorar,
foi preciso tão notório
do destino, a que rendido
para este fim nasci logo,
E o pertender suspirando
com um desvelo, e com outro
foram protestos do incêndio,
foi do excessivo acordo.
Idolatrar um prodígio,
não foi prodígio, nem noto,
que o rendimento, e desvelo
ficassem acaso opostos:
Porque advertindo, que o céu,
e o Planeta Luminoso
jurararn pleito homenagem
na beleza desse rosto:
O conhecer Liberdade
à vista de tanto assombro
fora, perdendo os sentidos
ser indiscreto e ser louco.