Enlevo (José Bonifácio, o Moço)

Se invejo as coroas, os cantos perdidos
Dos Bardos sentidos—que altivos ouvi,
Bem sabes donzella, que os loucos desejos,
—Que os vagos almejos—sam todos por ti.

Bem sabes que ás vezes teu pé sobre o chão
No meu coração faz echo passando,
Que sinto e respiro teu halito amado,
E mesmo acordado só vivo sonhando !

Bem sabes, donzella, na dor ou na calma,
Que é tua a minha alma, que é meu o teu ser,
Que vivo em teus olhos, que sigo teus passos,
Que quero em teus braços viver e morrer.

A luz do teu rosto—meu sol de ventura
—Saudade, amargura, não sei o que mais—

Traduz meu destino n’um simples sorriso,
Que é meu paraiso—n’um gesto de paz.

Se triste desmaias, se a cor te fallece,
A mim me parece que foges p’ra o céo.
E eu louco murmuro nos amplos espaços,
Voando a teus braços: és minha, sou teu.

Da tarde no sopro suspira baixinho,
No sopro mansinho suspira—quem és ?
Suspira... has de ver-me de fronte abatida
Sem força, sem vida—curvado a teus pés.