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O poema de Schiller honrando as mulheres, Würde der Frauen, é resultado de grande consideração, e apela ao leitor pelo seu estilo antitético e seu uso de contraste; mas como uma expressão de verdadeiro elogio que deve ser dado a elas, é, na minha opinião, inferior a estas palavras de Jouy: Sem as mulheres, o começo da nossa vida seria desamparado; o meio, desprovido de prazer; e o fim, de consolação. O mesmo é mais prontamente expressado em Sardanapalus de Byron:
O primeiro sinal
de vida humana deve brotar dos seios de uma mulher,
Suas primeiras palavras são ensinadas a você pelos lábios delas,
Suas primeiras lágrimas extintas por elas, e seus últimos suspiros
Frequentemente exalados no ouvido de uma mulher,
Quando os homens tem recuado de preocupações ignóbeis
De observar a última hora que os guiou.
(Ato I Cena 2.)
Estas duas passagens indicam o ponto de partida para apreciação das mulheres.
Só é necessário se ater à forma da mulher para notar que ela não foi criada para grandes trabalhos laborais, seja intelectuais ou braçais. Ela paga a sua dívida na vida não pelo que faz, mas pelo que sofre; pelas dores do parto e cuidados pelas suas crianças, e pela submissão ao seu marido, ao qual ela deve ser uma companheira paciente e animadora. Não é destinada aos maiores dissabores e alegrias, nem se requer que ela demonstre grandes esforços. A vida para ela pode fluir de maneira mais suave, pacífica e trivial do que a do homem, sem que ela seja essencialmente mais feliz ou infeliz.
As mulheres são prontamente capazes de cuidar e guiar nossa tenra infância pois elas mesmas se mantém infantis, frívolas e míopes; em suma, permanecem crianças grandes pelo decorrer de todas as suas vidas--como num estágio intermediário entre a criança e o homem já adulto, que é homem no sentido estrito da palavra. Só é necessário observar como uma menina animará uma criança por dias em sua companhia, dançando e cantando com ela; e então imaginar o que um homem, com a melhor vontade no mundo, poderia fazer se estivesse no seu lugar.
A natureza parece ter considerado, com relação às mulheres mais jovens, o que se costuma chamar, na linguagem dramática, um efeito impressionante; durante alguns anos as reveste com afortunada beleza que é esbanjada na sua aptidão para a graça, às custas de todo o resto de suas vidas; para que durante estes anos possa ser aguçada a imaginação de algum homem de tal maneira que ele se apresse em tomar para si a tarefa de permanecer fiel a ela, de uma maneira ou de outra, enquanto viverem--um destino que pareceria incerto se seus pensamentos fossem estimulados somente pela razão. Por este motivo que a natureza forneceu à mulher, como faz com todas as suas criaturas, as armas e instrumentos necessários para resguardar sua existência, pelo tempo que for necessário para que ela as possua. Aqui, como em qualquer outra situação, a natureza procede com sua costumeira economia; assim como com a formiga fêmea, após fecundar, perde suas asas, que se tornam supérfluas, ou melhor dizendo, se tornam um empecilho ao encargo da procriação; da mesma forma, após dar à luz a um ou dois filhos, uma mulher geralmente perde sua beleza; provavelmente, sem dúvida, por razões semelhantes.
Então constatamos que as moças, em seus corações, consideram os trabalhos domésticos ou de qualquer espécie como de segunda importância, ou até mesmo como puras brincadeiras. O único objetivo que de fato prende suas atenções é o amor, obter conquistas, e tudo relacionado a isto - vestidos, danças, etc.
Quanto mais nobre e perfeita uma criatura é, mais tardiamente e lentamente alcançará a maturidade. Um homem dificilmente chegará à maturidade das suas habilidades de raciocínio e faculdades mentais antes dos vinte e oito anos; uma mulher aos dezoito. E, ainda assim, no caso da mulher, é apenas um tipo específico de razão - apegada às próprias limitações. Por este motivo é que as mulheres permanecem infantis durante o resto das suas vidas; nunca tomando ciência daquilo que não esteja em suas proximidades, se agarrando ao momento presente, considerando aparências no lugar de realidades, e preferindo trivialidades ao invés de assuntos de imediata importância.
Graças à virtude da sua habilidade de raciocínio o homem não vive apenas no presente, como os outros animais, mas olha para o mesmo à medida que considera o passado e o futuro; e daí se origina a sua prudência, assim como o cuidado e ansiedade que muitas pessoas demonstram ter. Tanto as vantagens como as desvantagens que são envolvidas, são compartilhadas pela mulher a uma menor extensão devido à sua inferior capacidade de raciocínio.
Ela poderia, na verdade, ser descrita como intelectualmente míope, porque, embora tenha um entendimento intuitivo do que se encontra próximo a ela, seu campo de visão é limitado e não alcança aquilo que esteja distante; logo, todas as coisas que estejam ausentes, residam no passado ou futuro ainda a vir, tem efeito bastante reduzido em mulheres do que em homens. É por isso que as mulheres são mais frequentemente inclinadas a serem extravagantes, e às vezes são voltadas para tanto de tal maneira que quase chegam a flertar com a loucura.
Em seus corações, as mulheres acreditam que é dever dos homens ganhar dinheiro e o delas de gastar - se possível durante a vida do marido, mas, se não for possível, após a sua morte. A disposição dos seus maridos de empregarem seus lucros visando encarregá-las de governar a casa, fortalece-as nesta crença.
Embora várias desvantagens tenham de ser pesadas neste caso, há pelo menos uma que conta a favor; o fato de que a mulher vive mais no presente do que o homem, e que, se o presente é de alguma maneira tolerável, ela o aproveita com mais afinco. Esta é a fonte daquela alegria que é peculiar às mulheres, servindo a ela para divertir o homem nas suas horas recreativas, e, caso necessário, para consolá-lo quando ele está sobrecarregado pelo peso das suas preocupações.
Não é, de qualquer maneira, uma má ideia consultar as mulheres em assuntos de dificuldade, como os germanos costumavam fazer na antiguidade; já que sua maneira de olhar as coisas é bem diferente da nossa, principalmente porque elas preferem tomar o caminho mais curto para atingir seus objetivos, e, geralmente, conseguem fixar seus olhares naquilo que está próximo a elas; enquanto que nós, normalmente, vemos aquilo que está bem mais distante, justamente por estar na frente, e não abaixo, dos nossos narizes. Em casos como este, precisamos voltar ao ponto de origem, para que possamos observar de maneira mais próxima e simples.
E, novamente, se observa que as mulheres são mais sóbrias em seus julgamentos do que os homens são, pois não são capazes de ver nas coisas nada mais do que de fato esteja nelas; enquanto que, se nossas paixões forem excitadas, somos aptos a ver as coisas de maneira exagerada, ou imaginar aquilo que não exista.
A sua fraca habilidade de raciocínio também explica porque as mulheres demonstram maior simpatia pelos desafortunados do que os homens, e daí os tratam com mais ternura e interesse; e o motivo de, pelo contrário, serem inferiores aos homens em questões de justiça, e menos honradas e conscientes. Justamente devido à fraqueza de sua razão que as circunstâncias presentes as mantém ocupadas, e as concretas, que se encontram diretamente à frente de seus olhos, exercem uma influência que é raramente contestada de qualquer maneira por princípios abstratos de pensamento, por regras fixas de conduta, resoluções firmes, ou, no geral, por considerações pelo passado e futuro, ou pelo que está ausente ou distante. Certamente elas possuem os elementos mais básicos e primários que definem a virtude de um caráter, mas são deficientes nas qualidades secundárias que são em todos os casos consideradas instrumentos necessários para a formação dele.[1]
Assim, será constatado que o defeito fundamental do caráter feminino é ser desprovido de um senso de justiça. Isso se deve principalmente ao fato, já mencionado, de que as mulheres são deficientes em suas capacidades de raciocínio e deliberação; o que também remete à posição que a natureza as designou como o sexo frágil. Elas são dependentes, não de suas forças, mas de sua astúcia; é daí que provém sua sagacidade instintiva para ludibriar, bem como a sua incontida propensão a mentiras. Assim como os leões possuem garras e dentes, os elefantes com presas, os javalis com colmilhos, os touros com chifres e a sépia com a tinta que turva a água, a natureza também equipou a mulher, para sua defesa e proteção, com a arte da dissimulação; e todo o poder que a natureza conferiu ao homem na forma de vigor físico e razão, também consagrou a mulher na forma desse dom.
Por isso, a dissimulação é inata na mulher, e está presente da mesma forma tanto na mais estúpida como na mais esperta. É natural para elas utilizá-la em qualquer ocasião como é para estes animais empregar meios de defesa quando são atacados; e tem a sensação de que ao fazê-lo, estão apenas exercendo os seus direitos. Portanto uma mulher que é completamente verdadeira e não seja propensa à dissimulação é talvez uma impossibilidade, e por esta mesma razão elas são tão rápidas em ver através da dissimulação presente nos outros, de modo que não é aconselhável tentar o mesmo com ela. Mas esse defeito fundamental, como declarei, com todas as suas consequências, origina a falsidade, infidelidade, traição, ingratidão, etc. Deveria, realmente, ser questionado por todos se as mulheres deveriam ser admitidas a prestar qualquer tipo de juramento. De tempos em tempos, se observam casos de senhoras, que não necessitam de coisa alguma, tomando para si objetos de estabelecimentos quando ninguém está observando, e saindo em disparada com eles.
A natureza definiu que a propagação da espécie deve ser um fardo de homens que são jovens, fortes e belos; para que a raça humana não se degenere. Este é o desejo resoluto e o propósito da natureza com relação à espécie, e encontra sua expressão nas paixões das mulheres. Não existe lei que seja mais antiga ou poderosa do que esta. Desafortunado, então, aquele homem que resolver confrontar isto ao colocar seus interesses e direitos em primeiro lugar; não importa o que ele diga ou faça, será esmagado sem piedade na primeira oportunidade real. Pois a regra inerente que governa a conduta das mulheres, embora secreta e não engendrada, negada e inconsciente enquanto operante, é esta: "Nos reservamos ao direito de enganar aqueles que acreditam ter adquirido direitos sobre a espécie ao dedicar pouca atenção ao indivíduo, ou seja, para nós. A constituição, e, portanto, o bem-estar da espécie foi colocado em nossas mãos e confiado a nossos cuidados, pelo controle que obtemos na próxima geração, que provém de nós; nos deixe cumprir nossas obrigações conscientemente."
Mas as mulheres não possuem conhecimento abstrato deste princípio base; elas são conscientes dele apenas como um fato concreto; e não tem nenhum outro método de expressá-lo sem ser da maneira como agem quando a oportunidade surge em seu caminho. E mesmo assim a sua consciência não as perturba tanto como poderíamos supor; porque nos lugares mais escondidos dos seus corações, elas tem a noção que ao descumprirem os seus deveres para com o indivíduo, os cumprem com êxito com relação à espécie, que é infinitamente superior.[2]
E já que as mulheres existem pura e simplesmente para a propagação da espécie, e não são destinadas a mais nada, elas vivem, como regra, mais para a espécie do que o indivíduo, e em seus corações tomam as questões da espécie mais seriamente do que aquelas que tangem aos indivíduos. O que dá a toda sua vida e ser uma certa leviandade; o seu caráter está normalmente voltado em uma direção fundamentalmente diferente daquela do homem; e é isso que gera aquela discórdia na vida de casados que é tão frequente, e quase que natural.
O sentimento natural entre os homens é de mera indiferença, mas entre as mulheres é de legítima animosidade. A razão para tal é que a troca de ciúmes - o odium figulinum - no caso dos homens não se expande além dos limites de suas atividades em particular; mas no das mulheres, abrange todo o sexo; já que elas tem apenas um ofício em mente. Mesmo quando se encontram na rua, as mulheres olham umas às outras como Guelfos e Gibelinos.
É algo notável que, quando duas mulheres se encontram pela primeira vez, elas demonstram maior receio e dissimulação do que dois homens demonstrariam em situação semelhante; por esta razão, a troca de cumprimentos entre as mulheres parece bem mais inverossímil do que entre os homens. Ademais, observa-se que, enquanto um homem, como regra geral, se dirigirá a outros com uma certa consideração e resquício de humanidade, mesmo aqueles que estejam em uma posição inferior a dele, é intolerável constatar o orgulho e escárnio corriqueiros de uma senhora da sociedade ao se comportar perante outra que esteja em uma posição inferior (eu não me refiro a uma mulher que esteja ao seu serviço), toda vez que falar com ela. O motivo para isto é devido, talvez pelo fato de que, com as mulheres, as diferenças de classe são bem mais precárias do que conosco; porque, enquanto inúmeras considerações precisam ser refletidas no nosso caso, no delas há apenas uma, especificamente, a qual homem elas acharam graça; por isso elas mantém relações mais próximas entre si do que os homens, em consequência de sua natureza unilateral oriunda de sua vocação. Isto faz com que se esforcem em enfatizar diferenças de categoria.
Somente um homem que tem sua inteligência obscurecida pelos seus impulsos sexuais é que poderia chamar de belo a esse sexo de baixa estatura, ombros estreitos, ancas largas, e pernas curtas; toda a sua beleza está ligada a esse instinto. Ao invés de chamá-lo de belo, seria mais acertado descrever as mulheres como o sexo inestético.
Nem pela música, poesia, ou fina arte, as mulheres não têm de fato qualquer sentimento real ou noção de impressionabilidade; trata-se apenas de pura afetação, se simulam um pretexto para auxiliar nos seus esforços de agradar. Daí, como resultado, as mulheres são incapazes de ter um interesse puramente objetivo em qualquer coisa; e o motivo para isto, para mim, é o que se segue: O homem tenta adquirir domínio direto sobre todas as coisas, seja as compreendendo, ou as forçando a fazer a sua vontade. Mas a mulher está sempre e em toda parte reduzida a obter seu domínio de maneira indireta, especificamente, através do homem; e qualquer domínio direto que ela possua é inteiramente confinado a ele.
E aí é que reside a natureza da mulher em olhar todas as coisas como apenas um meio de conquistar o homem e se ela demonstra ter interesse em algo mais, este é apenas simulado - um mero subterfúgio para conseguir seus objetivos, por meio de faceirice, fingindo aquilo que não consegue sentir. Portanto, mesmo Rousseau declarou: "As mulheres, em geral, não apreciam arte alguma; não entendem nenhuma; e não possuem nenhum talento."[3]
Aqueles que de alguma maneira conseguem observar além das aparências não podem ter deixado de notar a mesma coisa. Só se precisa observar a espécie de atenção que as mulheres dedicam a um concerto, ópera, ou peça - a simplicidade infantil, por exemplo, com que continuam tagarelando durante as mais belas passagens nas maiores obras-primas. Se é verdade que os Gregos não admitiam as mulheres nos seus espetáculos, estavam bastante corretos em agir desta forma; nos seus teatros, pelo menos, era possível ouvir alguma coisa. Em nossos dias, no entanto, ao invés de dizermos "Que as mulheres fiquem caladas nas igrejas", seria mais acertado "Que as mulheres ficassem caladas nos teatros", e suspendendo-se, quem sabe, este último, em letras grandes nas cortinas.
Mas nada de diferente pode ser esperado por parte das mulheres se considerarmos que a mais eminente de todo esse sexo jamais conseguiu produzir nada nas belas artes que fosse realmente majestoso, genuíno e original; ou dado ao mundo qualquer obra digna de nota e de valor permanente em qualquer esfera. Isto é mais surpreendente com relação à pintura, onde elas são tão aptas quanto nós para aprender a técnica envolvida - e a cultivam com zelo; no entanto, sem se poderem honrar de uma única obra-prima, justamente por serem deficientes naquela objetividade mental que é tão indispensável diretamente na pintura. Elas são incapazes de se concentrar além de um ponto de vista que seja subjetivo. É por essas limitações que mulheres comuns não tem qualquer susceptibilidade real para compreender a arte de alguma forma; pois a natureza segue uma linha estrita - e não dá saltos (natura non facit saltus).
Huarte[4], na sua célebre obra Examen de ingenios para las ciencias, uma publicação que ganhou fama por trezentos anos - nega às mulheres toda a capacidade superior. Este cenário não é alterado por exceções particulares e parciais; tomadas em conjunto, as mulheres são, e continuam sendo, completa e irremediavelmente filisteias. E graças ao arranjo absurdo social que as permite compartilhar a posição e o título dos seus maridos, elas são um constante estímulo para suas ambições desonradas. E, ademais, é justamente por elas serem filisteias que a sociedade moderna, a qual impõem seu tom e influenciam, se tornou corrupta.
Disse Napoleão que as mulheres não possuem qualquer classe - o que deve ser adotado como ponto de partida em determinar sua posição na sociedade, e com relação às suas outras qualidades, Chamfort[5] também com bastante acerto, disse: "Existem para negociar com nossas próprias fraquezas e loucuras, mas não com nossa razão. Há uma simpatia entre elas e os homens somente restrita à pele, e que não se estende à mente, aos sentimentos ou ao caráter." As mulheres são o sexus sequior, o sexo-segundo, em todos os aspectos inferior ao primeiro; suas fraquezas devem ser tratadas com consideração; mas demonstrar-lhes enorme reverência é extremamente patético, e nos rebaixa diante dos seus olhos.
Quando a natureza dividiu a raça humana em duas partes, ela não cortou exatamente ao meio. Estes polos são opostos um ao outro, é verdade; mas a diferença entre eles não é meramente qualitativa, mas também quantitativa. E foi assim, exatamente, como pensaram os antigos povos sobre a mulher, e como pensam os povos do Oriente agora; e seu julgamento sobre a posição merecida delas é bem mais correto que o nosso, com nossa galantaria à antiga moda francesa e estúpido sistema de veneração - aquele produto mais destacado da tolice germano-cristã. Essas ideias apenas serviram para tornar as mulheres mais arrogantes e controladoras; tanto que às vezes nos recordamos dos macacos sagrados de Benares, que tem tanta consciência da sua santidade e inviolabilidade, que acham que podem fazer exatamente o que quiserem.
Mas, no Ocidente, a mulher, e especialmente a dama, se encontra em uma posição ilegítima; para a mulher, acertadamente chamada pelos povos antigos de sexus sequior, não é de maneira alguma apropriado ser objeto de honra e veneração, ou levantar a cabeça mais alto que o homem e ter os mesmos direitos que ele. As consequências desta posição ilegítima são claramente óbvias.
De fato, viria muito a calhar que este número-dois da espécie humana estivesse na Europa também relegado ao seu lugar natural, e se colocasse um fim a esse negócio de dama, que não apenas faz toda a Ásia gargalhar, mas seria ridicularizado pela Grécia e Roma da mesma forma. É impossível calcular as boas mudanças que tal mudança trariam em nossos arranjos sociais, pessoais e políticos. Não haveria necessidade para a lei Sálica; seria visivelmente supérflua.
Na Europa, a dama, assim chamada, é um ser que não deveria sequer existir; ela deveria ser uma dona de casa ou garota que sonha em se tornar uma; e deveria se educar, não para ser arrogante, mas sóbria e submissa. É justamente porque existem tais pessoas como as damas na Europa que as mulheres de classes mais baixas, quer dizer, a grande maioria deste sexo, estão bem mais infelizes do que as suas semelhantes no Oriente.
E mesmo Lord Byron disse: "Pense na situação da mulher sob a regência dos Gregos antigos - conveniente o bastante. No estado atual, reminiscente do barbarismo do cavalheirismo e épocas feudais - artificial e anormal. Deveriam cuidar da casa - e ser bem alimentadas e vestidas - mas não misturadas com a sociedade. Bem educadas, também, em matéria de religião - mas não para ler poesia ou assuntos políticos - nada além de livros misericordiosos e de culinária. Músicas, desenhar, dançar - assim como arar um pouco a terra e cultivar flores de vez em quando. Eu as vi consertando as estradas em Epirus com bastante êxito. Por que não, assim como fazer a colheita e ordenhar?"
As leis que regem o casamento na Europa consideram a mulher como equivalente ao homem - o que por si só já é um ponto de partida errado. Em nossa parte do mundo onde a monogamia é uma regra, casar significa perder metade dos próprios direitos e dobrar suas obrigações.
Agora, em que as leis deram às mulheres direitos iguais aos dos homens, também deveriam ter lhes concedido um intelecto masculino. Mas o que acontece é que, assim como a proporção de honras e privilégios que as leis deram às mulheres ultrapassam a quantidade que a natureza lhes dá, também ocorre uma diminuição do número de mulheres que de fato participam nestes privilégios; e todo o restante é desprovido dos seus direitos naturais pela mesma quantidade que é dada a outras várias vezes e acima da sua parte.
Para a instituição da monogamia, e as leis que dela resultam, há a concessão à mulher de uma posição anormal de privilégio, considerando-a igual ao homem, o que ela não é de forma alguma; e constatando isto, homens que são sensatos e prudentes normalmente hesitam em fazer tão grande sacrifício, em tomarem parte de um arranjo tão injusto.
Consequentemente, apesar de entre as nações polígamas as mulheres terem quem se encarregue delas, o número de mulheres onde a monogamia prevalece que se casam é limitado; e há um alto número de mulheres sem posição ou suporte, que, em classes mais altas, vegetam como desgastadas e imprestáveis donzelas, enquanto que nas mais baixas sucumbem ao esforço árduo para o qual não são aptas; ou se tornam miseráveis prostitutas, cuja vida é destituída de satisfação assim como é de honra.
Mas diante das circunstâncias elas se tornaram uma necessidade; e sua posição é abertamente reconhecida como útil à necessidade especial de prevenir a tentação daquelas mulheres favorecidas pelo destino, que tem encontrado, ou desejam encontrar, maridos.
Somente em Londres há 80.000 prostitutas. O que elas são além de mulheres, que, debaixo da instituição da monogamia, se deram mal? O seu destino é horrível: são sacrifícios humanos oferecidos no altar da monogamia. As mulheres cuja posição desfigurada são aqui descritas são a compensação inevitável para a dama Europeia com sua arrogância e pretensão.
A poligamia é portanto um benefício real para o sexo feminino se tomada em conjunto. E, mediante outro ponto de vista, não há verdadeira razão pela qual um homem em que a mulher sofre de uma doença crônica, ou permanece estéril, ou gradualmente envelheceu para ele, não tomar para si uma segunda. Os motivos que fizeram tantas pessoas se converterem à religião dos mórmons[6] parecem ser justamente aqueles que mitigam contra a anormal instituição da monogamia.
A concessão à mulher de direitos anormais também impôs deveres anormais, e, não obstante, uma quebra desses deveres as torna felizes. Deixe-me explicar. Um homem normalmente pensa que sua posição social ou financeira será golpeada se ele se casar, a menos que faça uma aliança brilhante. Seu desejo será portanto de conquistar uma mulher de sua escolha mediante condições alheias àquelas do casamento, e contentar-se em assegurar a situação da amante e dos filhos.
Embora estas condições sejam justas, razoáveis, adequadas e suficientes, e a mulher conceda sem exigir rigorosamente os direitos exagerados que só o casamento lhe fornece, ela perde a uma certa extensão a sua honra, porque o casamento é a base da sociedade civil; e levará uma vida infeliz, já que a natureza humana é tão constituída que prestamos atenção na opinião alheia que está totalmente fora de proporção em respeito ao seu valor. Por outro lado, se a mulher não cede, ela corre o risco de se casar a um homem que ela não gosta, ou de se desgastar como uma solteirona; já que o período durante o qual ela tem uma chance de decidir sua vida é bastante curto.
Não adianta argumentar contra a poligamia; deve-se tomar como fato que ela existe em todo lugar, e a única questão que permanece é como deveria ser regulada. Onde estão, no entanto, os verdadeiros monogâmicos? Todos nós vivemos, de certa forma, por um tempo, e a maioria de nós, sempre, no estado da poligamia.
E sendo assim, já que todo homem precisa de muitas mulheres, não há nada mais justo que permitir a ele, de qualquer modo, de tomar para si a tarefa de se tornar um provedor para várias mulheres. Isso reduzirá as mulheres para a sua natural e verdadeira posição como seres subordinados; e a dama - aquele monstro da civilização europeia e fruto da estupidez germano-cristã - desaparecerá do mundo, deixando apenas as mulheres, mas não mais as infelizes, que agora lotam toda a Europa.
Está na natureza da mulher obedecer e isso pode ser observado pelo fato de que qualquer mulher que seja colocada numa posição que não seja natural de independência completa, imediatamente se apegará a algum homem, pelo qual ela se permite ser guiada e controlada. É porque ela precisa de um senhor e mestre. Se é jovem, será um amante; se é mais velha, um padre.
Notas originais
editar- ↑ Nesse contexto elas podem ser comparadas a um organismo animal que contém um fígado mas não uma vesícula biliar. Aqui faço referência ao que disse em meu tratado, The Foundation of Morals, §17.
- ↑ Uma discussão mais detalhada sobre o assunto em questão pode ser encontrada no meu trabalho-chave, Die Welt als Wille und Vorstellung, vol. ii, ch. 44.
- ↑ Carta à d'Alembert, Nota xx.
- ↑ Nota do Tradutor.--- Juan Huarte (1520?-1590) praticou física em Madrid. O trabalho citado por Schopenhauer é conhecido, e foi traduzido em vários idiomas.
- ↑ Nota do Tradutor.--Veja Counsels and Maxims, p. 12, Nota.
- ↑ Nota do Tradutor.--Os mórmons recentemente abriram mão da poligamia, e receberam a franquia americana no seu lugar.
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