Entrae, entrae, pastorinhos

Entrae, entrae, pastorinhos,
Por este portal sagrado;
Vinde ver o Deus Menino,
N'umas palhinhas deitado.

As palhinhas deitam lirios;
Menino, sois meus allivios.
As palhinhas deitam cravos;
Menino, sois meus cuidados.

Vimos dar as boas-festas
A estes nobres senhores.
Que é nascido o Deus Menino,
Em Belem entre os pastores.

Já a redempção humana
Chegou ao praso marcado;
Em Belem nasceu, ha dias,
O Messias desejado.

— Oh meu menino Jesus,
Que é da vossa cabelleira?
— Deixei-a em Santa Clara,
No regaço d'uma freira!

— Oh meu menino Jesus,
Oh minha mimosa flôr:
Fizeste-vos tão pequenino,
Sendo tão grande Senhor!

— Oh meu menino Jesus,
Boquinha de marmellada,
Quem vol-a comêra toda,
Sem lhe deixar ficar nada!

— Oh meu menino Jesus
Que estaes sobre o altar,
Quando fôr missa acabada,
Quem irá sem vos beijar?

Já se ouve a gaita de folle,
Já nasceu o Deus Menino,
Gloria do ceu e da terra,
Seu thesouro peregrino.