D. Cláudia, quando ele acabou, perguntou-lhe com simplicidade:
— Você vai hoje ao marechal?
Batista, caindo em si:
— Naturalmente.
Tinham ajustado que ele iria ter com o presidente da República explicar-lhe a comissão que exercera, toda reservada, e, sem embargo, imparcial. Diria o espírito de concórdia com que andou e a estima que adquiriu. Em seguida, falaria da conveniência de um governo que, pela fortaleza e pela liberdade, excedesse o do generalíssimo; e uma frase final bem estudada.
— Isso na ocasião, disse Batista.
— Não, é melhor levá-la feita. Eu lembrei-me desta: "Creia V. Excia.que Deus está com os fortes e os bons".
— Sim, não é má. Você pode acrescentar um gesto que indique o Céu.
— Isso é que não. Você sabe que eu não dou para gestos, não sou ator. Eu, sem mexer um pé; inspiro respeito.
D. Cláudia dispensou o gesto; não era essencial. Quis que ele escrevesse a frase, mas já estava de cor. Batista tinha boa memória.
Naquele mesmo dia, Batista foi ao Marechal Floriano. Não disse nada às pessoas da casa; contaria tudo na volta. D. Cláudia também calou, era por pouco tempo; ficou esperando ansiosa. Esperou duas mortais horas, chegou a imaginar que lhe tivessem encarcerado o esposo, por intrigas. Não era devota, mas o medo inspira devoção, e ela rezou consigo. Enfim, chegou Batista. Ela correu a recebê-lo, alvoroçada, pegou-lhe na mão e recolheram-se ao quarto. Perpétua (vede o que são testemunhos pessoais na história!) exclamou enternecida:
— Parecem dois pombinhos!
Batista contou que a recepção foi melhor do que esperava, conquanto o marechal não lhe dissesse nada, mas escutou-o com interesse. A frase? A frase saiu bem, apenas com uma emenda. Não estando certo se ele preferia bons a fortes, ou se fortes a bons...
— Deviam ser as duas palavras, interrompeu a mulher.
— Sim, mas lembrou-me empregar uma terceira: "Creia V. Excia.que Deus está com os dignos!"
Com efeito, a última palavra podia abranger as duas, e trazia esta vantagem de dar à frase um arranjo pessoal dele.
— Mas o marechal que disse?
— Não disse nada; ouviu-me com atenção obsequiosa e chegou a sorrir, — um sorriso leve, um sorriso de acordo...
— Ou seria... Quem sabe... Você não andou bem, decerto. Comigo ele diria alguma coisa. Você expôs tudo, conforme tínhamos combinado?
— Tudo.
— Expôs as razões da comissão, o desempenho, a nossa moderação?...
— Tudo, Cláudia.
— E o aperto de mão do marechal?
— Não estendeu a mão, a princípio; fez um gesto de cabeça; eu é que estendi a minha, dizendo: Sempre às ordens de Vossa Excia..
— E ele?
— Ele apertou-me a mão.
— Apertou bem?
— Você sabe, não podia ser um apertão de amigo, mas deve ter sido cordial.
— E nenhuma palavra? Um passe bem, ao menos?
— Não, nem era preciso. Cortejei-o e saí.
D. Cláudia deixou-se estar pensando. A recepção não lhe pareceu que fosse má, mas podia ser melhor. Com ela, seria muito melhor.