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Àquela hora da manhã, projetava a casa larga sombra para o
Nessa fresca penumbra, que recatava da estrada uma cerca de estacas de cambuís já enramadas, acomodou-se Berta para passar a sesta, que se aproximava. Daí avistava-se por uma ogiva rendada que abria a folhagem em arabescos, o caudal Piracicaba, adormecido no regaço da campina.
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Adiantando a sua tarefa diária, que pelo hábito já os dedos ágeis faziam às cegas e com uma presteza admirável, escutava com atenção ao Brás, ajoelhado ao outro lado do balaio, na esteira de tábua, que servia de tapete, ou antes de tabuleiro para a roupa já consertada, a fim de não misturar-se com a outra da cesta.
Com as mãos postas, e um modo sério, repetia o rapaz de cor a Salve-Rainha, sem titubear. Dir-se-ia que estava lendo no formoso semblante de Berta por mágica influição aquelas palavras ignotas, tal era a fixidez da pupila, e a absorção de sua alma no hausto desse olhar.
Era sem dúvida a primeira vez que o Brás dizia certa a oração, pois no gesto da menina, onde vislumbrara uma vaga inquietação, derramou-se grande contentamento pelo triunfo obtido sobre a fatalidade que encadeava aquele espírito bronco.
E a menina cingiu com o braço esquerdo a cabeça do rapaz e a estreitou ao seio com efusão. O sentimento de bem-
A transição súbita de um informe toro em estátua acabada, somente pode dar uma
Esteve Berta a espiar-lhe por entre os revoltos cabelos essa expressão inefável
Foi muda porém essa angústia, que afundou-se pelo íntimo, nos recessos insondáveis dessa consciência vedada ao mundo; e não
Reparando naquele espasmo doloroso, quase arrependeu-se Berta de haver quebrado ao pobre idiota o encanto em que o tinha. Mas o seu carinho,
Naquele instante ela era sobretudo mestra; ou mais do que mestra, pois não ensinava somente, senão que tirava do caos dessa animalidade confusa e revolta o balbuciar de uma razão sopita. Era quase uma criação a obra sublime, a que se dedicava, de plasmar do
Engalfinhou o rapaz outra vez as mãos e começou a recitar com a mesma concentração de espírito a Ave-Maria, passando sucessivamente às orações do catecismo. Terminava a reza uma tenção particular, como se usa em muitas casas, e na qual se implora a proteção divina a favor das pessoas da família, dos entes mais queridos.
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Chegado a este ponto estacou Brás.
Vendo pintar-se no semblante do idiota as vacilações da memória prestes a apagar-se, articulava a menina mudamente as palavras, que se desenhavam em seus lábios mimosas e fagueiras, donde o Brás as recebia como imagens a se refletirem no espelho da alma.
Aqui fez o menino uma reticência, e fechando um instante os olhos para não ver o rosto gentil da moça que servia de página àquela súplica singela, terminou
Ressumbrou aos lábios de Berta um meigo sorriso, que ela escondeu sob um gesto severo:
A expressão de rancor, derramada na feição do rapaz, sublevou-se em assomos de fúria selvagem. Parecia que desse bolônio informe e labrusco, surgira por estranha mutação uma vípera terrível, que um instante subjugada pela fascinação, silvava de raiva e assanhava-se contra o encanto que a entorpecera.
Erguera, porém, Berta a mão direita, e com o indicador fez ao rebelde um gesto de ameaça, estendendo a unha rosada quase a cravá-la no meio do sobrolho espesso do idiota.
O confrangimento de uma vasca estampou-se na figura do infeliz; mas apesar, os dentes rangiam-lhe de cólera.
Caiu-lhe então aos pés, outra vez humilde e cativo, rojando como um verme, o mísero idiota, de cujo corpo rompia em arquejos e contorções o pranto, que não sabia exprimir como os homens em lágrimas e lamentos.
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Acalentou-o Berta, amimando-lhe as faces, e depois que o viu calmo, trouxe-o de novo à reza e o fez recitar a prece interrompida.
Repetiu então o Brás de cor o abecedário e uma parte da carta de sílabas e nomes.
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