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}}[[Categoria:A Abóbada|Capítulo 05]]
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==__MATCH__:[[Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/306]]==
Rica de galas, a primavera tinha vestido os campos da Estremadura do vicoviço de suas flores: a madresilva, a rosa agreste, o rosmaninho, e toda a casta de boninas teciam um tapete odorifero e immenso por charnecas, comoros, e sapaes, e pelo chaochão das matas e florestas, que agitavam as frontes somnolentas com a brisa de manhan purissima, mostrando aos olhos um baloucarbalouçar de verdura compassado com o das searasseáras rasteiras, que mais longe, pelas veigas e outeiros, ondeavam suavemente. Eram sete de Maio da era de Cesar de 1439, ou, como os letrados diziam, do anno da redempção, 1401. Quatro mezes certos se contavam nesse dia, depois daquelle em que, n'uman’uma das quadras do aposento real no mosteiro da Batalha, se passarapassára a scena, que no antecedente capitulo narramosnarrámos, e que extrahimos do famoso manuscripto mencionado no capitulo II, com aquella pontualidade e verdade, com que o grande chronista F. Bernardo de Brito citava so documentos innegaveis e auctores certissimos, e com aquella imparcialidade e exaccaoexacção, com que o philosopho de Ferney referia e avaliava os factos em que podia interessar a religiaoreligião christan.
 
Assistiu o leitor aá promessa que mestre Affonso Domingues fez a D. João I de que dentro de quatro mezes lhe daria posto o remate na abobada da casa capitular de Sancta Maria da Victoria, e lembrado estaraestará de como elrei lhe prometterapromettêra, tambem, mandar vir de GuimaraesGuimarães todos os officiaes portuguezes, que, despedidos da Batalha por mestre Ouguet como menos habilidosos que os estrangeiros, haviam sido mandados para a obra, posto que grandiosa, menos importante de Sancta Maria da Oliveira, hoje desaportuguesada e caiada e dourada e mutilada pelo mais barbaro abuso da riqueza e da ignorancia clerical. A palavra do Mestre d'Avizd’Aviz não voltaravoltára atraz, não por ser palavra de rei, mas por ser palavra de cavalleiro portuguez daquelles tempos, em que taotão nobres affectos e instinctos havia nos coracoescorações de nossos avosavós, que de bom grado lhes devemos perdoar a rudeza. Tendo partido de AlcobacaAlcobaça para GuimaraesGuimarães, onde nesse anno se ajunctavam cortes, apenas ahi chegarachegára tinha mandado partir para Sancta Maria da Victoria os officiaes e obreiros mais entendidos, que vieram apresentar-se a mestre Affonso.
Rica de galas, a primavera tinha vestido os campos da Estremadura do vico de suas flores: a madresilva, a rosa agreste, o rosmaninho, e toda a casta de boninas teciam um tapete odorifero e immenso por charnecas, comoros, e sapaes, e pelo chao das matas e florestas, que agitavam as frontes somnolentas com a brisa de manhan purissima, mostrando aos olhos um baloucar de verdura compassado com o das searas rasteiras, que mais longe, pelas veigas e outeiros, ondeavam suavemente. Eram sete de Maio da era de Cesar de 1439, ou, como os letrados diziam, do anno da redempção, 1401. Quatro mezes certos se contavam nesse dia, depois daquelle em que, n'uma das quadras do aposento real no mosteiro da Batalha, se passara a scena, que no antecedente capitulo narramos, e que extrahimos do famoso manuscripto mencionado no capitulo II, com aquella pontualidade e verdade, com que o grande chronista F. Bernardo de Brito citava so documentos innegaveis e auctores certissimos, e com aquella imparcialidade e exaccao, com que o philosopho de Ferney referia e avaliava os factos em que podia interessar a religiao christan.
 
Este, resolvido tambem a cumprir o promettido, metteramettêra maosmãos aá obra. O capitulo foi desentulhado: aproveitaram-se as pedras da primeira edificação que era possivel aproveitar, lavraram-se outras de novo, armaram-se os simples, e muito antes do dia aprazado o fecho ou remate da abobada repousava no seu logar.
Assistiu o leitor a promessa que mestre Affonso Domingues fez a D. João I de que dentro de quatro mezes lhe daria posto o remate na abobada da casa capitular de Sancta Maria da Victoria, e lembrado estara de como elrei lhe promettera, tambem, mandar vir de Guimaraes todos os officiaes portuguezes, que, despedidos da Batalha por mestre Ouguet como menos habilidosos que os estrangeiros, haviam sido mandados para a obra, posto que grandiosa, menos importante de Sancta Maria da Oliveira, hoje desaportuguesada e caiada e dourada e mutilada pelo mais barbaro abuso da riqueza e da ignorancia clerical. A palavra do Mestre d'Aviz não voltara atraz, não por ser palavra de rei, mas por ser palavra de cavalleiro portuguez daquelles tempos, em que tao nobres affectos e instinctos havia nos coracoes de nossos avos, que de bom grado lhes devemos perdoar a rudeza. Tendo partido de Alcobaca para Guimaraes, onde nesse anno se ajunctavam cortes, apenas ahi chegara tinha mandado partir para Sancta Maria da Victoria os officiaes e obreiros mais entendidos, que vieram apresentar-se a mestre Affonso.
 
Durante estes quatro mezes os successos politicos tinham trazido D. João I a Santarem, onde se fizera prestes com bom numero de lancaslanças, besteirosbésteiros, e peoespeões para ir ajunctar-se com o Condestavel, e entrarem ambos por Castella, cuja guerra tinha recomecadorecomeçado, por se haverem acabado as treguas. Para esta entrada se apparelharaapparelhára elrei com uma lustrosa companhia de seus cavalleiros, e caminhando pela margem direita do Tejo, acamparaacampára juncto a Tancos, onde se havia de construir uma ponte de barcas para passar o exercito, e seguir avanteávante ateaté o Crato, que era o logar aprazado com o Condestavel, para junctos irem dar sobre Alcantara.
Este, resolvido tambem a cumprir o promettido, mettera maos a obra. O capitulo foi desentulhado: aproveitaram-se as pedras da primeira edificação que era possivel aproveitar, lavraram-se outras de novo, armaram-se os simples, e muito antes do dia aprazado o fecho ou remate da abobada repousava no seu logar.
 
Em Val-de-Tancos estava assentado o arraial da hoste d'elreid’elrei: os petintaes, que tinham vindo de Lisboa, trabalhavam na ponte de barcas, que se deviam lancarlançar sobre o Tejo; os besteirosbésteiros limpavam suas bestasbéstas, e folgavam em luctas e jogos; os cavalleiros corriam pontas, atiravam ao tavolado, monteavam, ou matavam o tempo em banquetes e beberronias. Tinham chegado aquelleáquelle sitio a cinco de Maio, e no seguinte dia elrei partirapartíra afforradamente para a Batalha, porque não se esqueceraesquecêra de que os quatro mezes, que pedira Affonso Domingues para alevantar a abobada, eram passados, e forafôra avisado por Fr. LourencoLourenço de que a obra estava acabada, mas que o architecto não quizera tirar os simples senaosenão na presencapresença d'elreid’elrei.
Durante estes quatro mezes os successos politicos tinham trazido D. João I a Santarem, onde se fizera prestes com bom numero de lancas, besteiros, e peoes para ir ajunctar-se com o Condestavel, e entrarem ambos por Castella, cuja guerra tinha recomecado, por se haverem acabado as treguas. Para esta entrada se apparelhara elrei com uma lustrosa companhia de seus cavalleiros, e caminhando pela margem direita do Tejo, acampara juncto a Tancos, onde se havia de construir uma ponte de barcas para passar o exercito, e seguir avante ate o Crato, que era o logar aprazado com o Condestavel, para junctos irem dar sobre Alcantara.
 
Antes de partir de Lisboa, D. João mandaramandára sair dos carceres, em que jaziam, bom numero de criminosos e de captivos castelhanos, que, com grande pasmo dos povos, e rodeados por uma grossa manga de besteirosbésteiros, tomaram o caminho da Batalha, sem que ninguem aventasse o motivo d'istod’isto. Todavia elle era obvio: elrei pensou que, assim como a abobada do capitulo desabaradesabára da primeira vez, passadas vinte quatro horas depois de desamparada, podia agora derrocar-se em cima dos obreiros no momento de lhe tirarem os prumos e travezes sobre que forafôra edificada. Sollicito pela vida de seus vassallos; parente do povo por sua maemãe, e crendo por isso que a morte de um popular tambem tinha seu trance de agonia, e que lagrymas de orphaosorphãos pobres eram taotão amargas, ou porventura mais que as de infantes e senhores, não quiz que se arriscassem senaosenão vidas condemnadas, ou pela guerra, ou pelos tribunaes, e que naquella se tinham remido pela covardia, e nestes pela piedade ou antes esquecimento dos juizes. E se da primeira vez lhe não occorreraoccorrêra esta ideaidéa, forafôra porque tambem na memoria de obreiros portuguezes não havia lembrancalembrança de ter desabado uma abobada apenas construida.
Em Val-de-Tancos estava assentado o arraial da hoste d'elrei: os petintaes, que tinham vindo de Lisboa, trabalhavam na ponte de barcas, que se deviam lancar sobre o Tejo; os besteiros limpavam suas bestas, e folgavam em luctas e jogos; os cavalleiros corriam pontas, atiravam ao tavolado, monteavam, ou matavam o tempo em banquetes e beberronias. Tinham chegado aquelle sitio a cinco de Maio, e no seguinte dia elrei partira afforradamente para a Batalha, porque não se esquecera de que os quatro mezes, que pedira Affonso Domingues para alevantar a abobada, eram passados, e fora avisado por Fr. Lourenco de que a obra estava acabada, mas que o architecto não quizera tirar os simples senao na presenca d'elrei.
 
Seguido so por dous pagens, D. João I atravessou a villa de Ourem pelas horas mortas do quarto de modorra, e antes do meio-dia apeou-se aá portaria do mosteiro.
Antes de partir de Lisboa, D. João mandara sair dos carceres, em que jaziam, bom numero de criminosos e de captivos castelhanos, que, com grande pasmo dos povos, e rodeados por uma grossa manga de besteiros, tomaram o caminho da Batalha, sem que ninguem aventasse o motivo d'isto. Todavia elle era obvio: elrei pensou que, assim como a abobada do capitulo desabara da primeira vez, passadas vinte quatro horas depois de desamparada, podia agora derrocar-se em cima dos obreiros no momento de lhe tirarem os prumos e travezes sobre que fora edificada. Sollicito pela vida de seus vassallos; parente do povo por sua mae, e crendo por isso que a morte de um popular tambem tinha seu trance de agonia, e que lagrymas de orphaos pobres eram tao amargas, ou porventura mais que as de infantes e senhores, não quiz que se arriscassem senao vidas condemnadas, ou pela guerra, ou pelos tribunaes, e que naquella se tinham remido pela covardia, e nestes pela piedade ou antes esquecimento dos juizes. E se da primeira vez lhe não occorrera esta idea, fora porque tambem na memoria de obreiros portuguezes não havia lembranca de ter desabado uma abobada apenas construida.
 
Os officiaes, que trabalhavam em varios lavores, pelos telheiros e casas ao redor do edificio, viram passar aquelle cavalleiro e os dous pagens, mas não o conheceram: D. João I vinha cuberto de todas as pecaspeças, e ao galgar o ginete pelo outeiro abaixo, tinha descido a viseira.
Seguido so por dous pagens, D. João I atravessou a villa de Ourem pelas horas mortas do quarto de modorra, e antes do meio-dia apeou-se a portaria do mosteiro.
 
"Benedicite“Benedicite!——­dizia elrei, batendo devagarinho aá porta da cella de Fr. LourencoLourenço.
Os officiaes, que trabalhavam em varios lavores, pelos telheiros e casas ao redor do edificio, viram passar aquelle cavalleiro e os dous pagens, mas não o conheceram: D. João I vinha cuberto de todas as pecas, e ao galgar o ginete pelo outeiro abaixo, tinha descido a viseira.
 
"Pax“Pax vobis, domine!——­respondeu o prior que logo conheceu elrei, e veio abrir a porta.
"Benedicite!—dizia elrei, batendo devagarinho a porta da cella de Fr. Lourenco.
 
"Nao“Não vos incommodeis, reverendissimo—reverendissimo—­disse D. João, entrando na cella, e sentando-se em um tamborete.——­Deixae-me resfolegar um pouco, e dae-me uma vez de vinho."
"Pax vobis, domine!—respondeu o prior que logo conheceu elrei, e veio abrir a porta.
 
"Nao“Não vos esperava taotão de salto;&mdash;—­tornou Fr. LourencoLourenço: e abrindo um armario, tirou delle uma borrachaborrácha e um cangiraocangirão de madeira, que encheu de vinho, e pegando com a esquerda em uma escudela de barro de Estremoz <ref> A loucalouça de Estremoz eé antiquissima em o nosso paiz. No tempo de Francisco I de FrancaFrança, mandavam-se buscar os pucaros desta loucalouça a Portugal, para beber a agua, que entaoentão, bem como hoje, se tornava nelles excessivamente fria.</ref> cheia de uma especie de bolo feito de mel, ovos, e flor de farinha, apresentou a elrei aquella collação.
"Nao vos incommodeis, reverendissimo&mdash;disse D. João, entrando na cella, e sentando-se em um tamborete.&mdash;Deixae-me resfolegar um pouco, e dae-me uma vez de vinho."
 
"Excellente“Excellente almocoalmoço:&mdash;—­dizia elrei, descalcandodescalçando o guante ferrado, e cravando a espacosespaços os dedos dentro da escudela, d'onded’onde tirava bocados do bolo, que ajudava com alentados beijos dados no cangiraocangirão. Depois que cessou de comer, limpando a maomão ao forro do tonelete, poz-se em pe, em quanto Fr. LourencoLourenço guardava os despojos daquella batalha:
"Nao vos esperava tao de salto;&mdash;tornou Fr. Lourenco: e abrindo um armario, tirou delle uma borracha e um cangirao de madeira, que encheu de vinho, e pegando com a esquerda em uma escudela de barro de Estremoz<ref> A louca de Estremoz e antiquissima em o nosso paiz. No tempo de Francisco I de Franca, mandavam-se buscar os pucaros desta louca a Portugal, para beber a agua, que entao, bem como hoje, se tornava nelles excessivamente fria.</ref> cheia de uma especie de bolo feito de mel, ovos, e flor de farinha, apresentou a elrei aquella collação.
 
"Bofe&mdash;“Bofé—­disse D. João, rindo&mdash;rindo—­que não ando a meu talante, senaosenão com o arnez asás costas! Cada vez que o visto, parece-me que torno aá mocidade, e que sou o Mestre d'Avizd’Aviz, ou antes o simples cavalleiro, que, confiado so em Deus, corria solto pelo mundo, monteando edomas <ref>Semanas.</ref> inteiras, e tendo sobre a consciencia so os peccados de homem, e não os escrupulos de rei."
"Excellente almoco:&mdash;dizia elrei, descalcando o guante ferrado, e cravando a espacos os dedos dentro da escudela, d'onde tirava bocados do bolo, que ajudava com alentados beijos dados no cangirao. Depois que cessou de comer, limpando a mao ao forro do tonelete, poz-se em pe, em quanto Fr. Lourenco guardava os despojos daquella batalha:
 
"E“E entao&mdash;então—­atalhou o prior&mdash;prior—­o vosso confessor Fr. LourencoLourenço era um pobre frade, cujos unicos cuidados se encerravam em saber as horas do corocôro, e em ler as sagradas escripturas, poremporém que hoje tem de velar muitas noites, pensando no modo de não deixar affrouxar a disciplina e boa governancagovernança de taotão alteroso mosteiro. Mas, segundo vosso recado, que hontem recebi, vindes para assistir ao tirar dos simples da mui famosa abobada, o que mestre Domingues aporfia em so fazer perante vosvós?"
"Bofe&mdash;disse D. João, rindo&mdash;que não ando a meu talante, senao com o arnez as costas! Cada vez que o visto, parece-me que torno a mocidade, e que sou o Mestre d'Aviz, ou antes o simples cavalleiro, que, confiado so em Deus, corria solto pelo mundo, monteando edomas<ref>Semanas.</ref> inteiras, e tendo sobre a consciencia so os peccados de homem, e não os escrupulos de rei."
 
"A“A isso vim, poremporém de espacoespaço; que não seraserá nestes cinco dias, que esteja prompta a ponte de barcas, que mandei lancarlançar no TejoTéjo para passar minha hoste. Durante elles, com vossos mui religiosos frades me apparelharei para a guerra, enthesourando oracoesorações e recebendo absolvicaoabsolvição de meus erros."
"E entao&mdash;atalhou o prior&mdash;o vosso confessor Fr. Lourenco era um pobre frade, cujos unicos cuidados se encerravam em saber as horas do coro, e em ler as sagradas escripturas, porem que hoje tem de velar muitas noites, pensando no modo de não deixar affrouxar a disciplina e boa governanca de tao alteroso mosteiro. Mas, segundo vosso recado, que hontem recebi, vindes para assistir ao tirar dos simples da mui famosa abobada, o que mestre Domingues aporfia em so fazer perante vos?"
 
"Os“Os principes pios&mdash;pios—­acudiu o prior com ar de compunccao&mdash;saocompuncção—­são sempre ajudados de Deus, principalmente contra herejes e scismaticos, como os perros dos castelhanos, que a Virgem Maria da Victoria confunda nos infernos."
"A isso vim, porem de espaco; que não sera nestes cinco dias, que esteja prompta a ponte de barcas, que mandei lancar no Tejo para passar minha hoste. Durante elles, com vossos mui religiosos frades me apparelharei para a guerra, enthesourando oracoes e recebendo absolvicao de meus erros."
 
"Amen“Amen!&mdash;—­respondeu devotamente elrei.
"Os principes pios&mdash;acudiu o prior com ar de compunccao&mdash;sao sempre ajudados de Deus, principalmente contra herejes e scismaticos, como os perros dos castelhanos, que a Virgem Maria da Victoria confunda nos infernos."
 
"Avisarei“Avisarei, pois, mestre Affonso de vossa vinda, para que mande porpôr tudo em ordenancaordenança de se tirarem os simples: elle me pediu que o mandasse chamar apenas fosseis chegado."
"Amen!&mdash;respondeu devotamente elrei.
 
Fr. LourencoLourenço saiusaíu, e d'ahid’ahi a pouco voltou acompanhado do architecto, que um rapaz guiava pela maomão.
"Avisarei, pois, mestre Affonso de vossa vinda, para que mande por tudo em ordenanca de se tirarem os simples: elle me pediu que o mandasse chamar apenas fosseis chegado."
 
"Guarde“Guarde-vos Deus, mestre Affonso Domingues!&mdash;—­disse elrei, vendo entrar o cego&mdash;cégo—­Aqui me tendes para vervêr acabada a feitura da mirifica abobada do capitulo de Sancta Maria, cujos simples não quizestes tirar senaosenão em minha presencapresença."
Fr. Lourenco saiu, e d'ahi a pouco voltou acompanhado do architecto, que um rapaz guiava pela mao.
 
"Beijo“Beijo-vo-las, senhor rei, pela mercemercê: dous votos fiz se levasse a cabo esta feitura; era esse um delles..."
"Guarde-vos Deus, mestre Affonso Domingues!&mdash;disse elrei, vendo entrar o cego&mdash;Aqui me tendes para ver acabada a feitura da mirifica abobada do capitulo de Sancta Maria, cujos simples não quizestes tirar senao em minha presenca."
 
"E“E o outro?&mdash;—­atalhou elrei.
"Beijo-vo-las, senhor rei, pela merce: dous votos fiz se levasse a cabo esta feitura; era esse um delles..."
 
"O“O outro, dir-vo-lo-hei em breve; mas por ora permitti que para mim o guarde."
"E o outro?&mdash;atalhou elrei.
 
"Sao“São negocios de consciencia:&mdash;—­acudiu o prior.&mdash;—­Elrei não quer, por certo, fazer-vos quebrar vosso segredo."
"O outro, dir-vo-lo-hei em breve; mas por ora permitti que para mim o guarde."
 
"Sao negocios de consciencia:&mdash;acudiu o prior.&mdash;Elrei não quer, por certo, fazer-vos quebrar vosso segredo."
 
D. João I fez um signal de assentimento ao parecer do seu antigo padre espiritual.
 
Elrei, o prior, e o architecto ainda se demoraram um pedacopedaço falando acercaácerca da obra, e do que cumpria fazer no proseguimento della; mas o cegocégo dissera o que quer que forafôra em voz baixa ao rapaz que o acompanhava, o qual sairasaíra immediatamente, e que so voltou quando os tres acabavam a conversação.
 
"Fernao“Fernão d'Evora&mdash;d’Evora—­disse o cegocégo, sentindo-o outra vez ao pe de si&mdash;si—­fizeste o que te ordenei, e deste a teu tio Martim Vasques o meu recado?"
 
"Senhor“Senhor, si! Envia-vos elle a dizer que tudo estaestá prestes."
 
"Entao“Então vamos a vervêr se desta feita temos mais perduravel abobada."
 
Isto dizia elrei saindo da cella de Fr. LourencoLourenço, e seguindo ao longo do claustro. a este tempo se tinha espalhado no mosteiro a nova da sua chegada, e os frades comecavamcomeçavam de ajunctar-se para o cortejarem. Do mosteiro romperarompêra a noticia, e se espalharaespalhára na povoação, aonde concorreraconcorrêra muita gente dos arredores, principalmente de Aljubarrota, por ser dia de mercado: de modo que quando elrei desceu aá crasta já alli se achavam apinhados homens e mulheres, que queriam ve-lo, e ainda mais saber se desta vez a abobada vinha ao chaochão, para terem que contar aos vizinhos e vizinhas da sua terra.
 
As portas da casa do capitulo estavam abertas: via-se dentro della tal machina de prumos, travezes, andaimes, cabrestantes, escadas, que bem se poderapodéra comparar a composicaocomposição daquelles simples aá fabrica do mais delicado relogio. AÁ porta, que dava para a crasta, estava um homem em pe, que se desbarretou apenas viu elrei, a cuja direita vinha o architecto, seguido por Fr. LourencoLourenço e por outros frades.
 
O pequeno FernaoFernão d'Evorad’Evora disse algumas palavras a Affonso Domingues, o qual lhe respondeu em voz baixa. EntaoEntão o rapaz acenou ao homem desbarretado, que se chegou timidamente ao cegocégo. Era um mancebo, que mostrava ter de idade, ao mais, vinte cinco annos; de rosto comprido, tez queimada, nariz aquilino, olhos pequenos e vivos. Chegando-se ao cegocégo, este o tomou pela maomão, e voltando-se para elrei, disse:
 
"Aqui“Aqui tendes, senhor, a Martim Vasques, o melhor official de pedraria que eu conhecoconheço; o homem que, com mais alguns annos de esperiencia, seraserá capaz de continuar dignamente a serie dos architectos portuguezes."
 
"E“E debaixo de meu especial amparo estaraestará Martim Vasques&mdash;Vasques—­respondeu elrei&mdash;elrei—­que por honrado me tenho com haver em meus senhorios homens que vos imitem. <ref>Martim Vasques foi o 3.º mestre das obras da Batalha e FernaoFernão d'Evorad’Evora o 4.&mdash;º—­Veja-se a Memoria de D. Francisco de S. Luiz no 10.º volume das da Academia.</ref>"
 
Ainda bem não eram acabadas estas palavras, sentiu-se um sussurro entre o povo, que girava livremente pela crasta, e que se enfileirou aos lados: chegava a gente que devia tirar os simples.
 
Entre duas alas de besteirosbésteiros vinha um bom numero de homens, magros, pallidos, rotos e descalcosdescalços: o porte de alguns era altivo, e em seus farrapos se divisava a razaorazão d'issod’isso: eram besteirosbésteiros castelhanos, que em diversos recontros e pelejas tinham cahido nas maosmãos dos portuguezes. As guerras entre Portugal e Castella assemelhavam-se asás guerras civis de hoje: para vencidos não havia nem caridade, nem justicajustiça, nem humanidade: ser mettido em ferros era entaoentão uma ventura para o pobre prisioneiro; porque os mais delles morriam assassinados pelo povo desenfreado, em vingancavingança dos mausmáus tractos que em Castella padeciam os captivos portuguezes. Com os castelhanos vinham d'envoltad’envolta varios criminosos condemnados aá morte por suas malfeitorias.
 
"Misericordia“Misericordia!&mdash;—­bradou toda aquella multidaomultidão, ao passar por elrei: e cahiram de brucosbruços sobre as lageas do pavimento.
 
"Comvosco“Comvosco a tenho, mesquinha gente:&mdash;—­disse elrei commovido&mdash;commovido—­Se tirardes os simples, que vedesvêdes acolá, a abobada não desabar sobre vosvós, soltos e livres sereis. Erguei-vos, e confiae na sciencia do grande architecto que fez essa mirifica obra. Mandar-vos comprar vossa soltura a custo de taotão leve risco, quasi que eé o mesmo que perdoar-vos."
 
Os presos ergueram-se; mas a tristeza lhes ficou embebida no coração, e espalhada nas faces: o terror fazia-lhes crer que já sentiam ranger e estalar as vigas dos simples, e que, asás primeiras pancadas, as pedras desconformes da abobada, desatando-se da immensa volta, os esmagariam, como o pe do quinteiro esmaga a lagarta enroscada na planta vicosaviçosa do horto.
 
Neste momento quatro forcososforçosos obreiros chegaram aá porta do capitulo, trazendo sobre uma paviolapavióla uma grande pedra quadrada. Martim Vasques, que já la estava, gritou ao cegocégo architecto:
 
"Mui“Mui sabedor mestre Affonso, que quereis se facafaça do canto, que para aqui mandastes trazer?"
 
"Assentae“Assentae-o bem debaixo do fecho da abobada, no meio desse claro, que deixam os prumos centraes dos simples."
 
Os obreiros fizeram o que o architecto mandara: este entaoentão voltou-se para elrei, e disse:
 
"Senhor“Senhor rei, eé chegado o momento de vos declarar meu segundo voto. Pelo corpo e sangue do Redemptor jurei que, assentado sobre a dura pedra, debaixo do fecho da abobada, estaria sem comer nem beber durante tres dias, desde o instante em que se tirassem os simples. De cumprir meu voto ninguem poderapoderá mover-me. Se essa abobada desabar, sepultar-me-ha em suas ruinas: nem eu quizera encetar, depois de velho, uma vida deshonrada e vergonhosa. Esta eé a minha firme resolucaoresolução."
 
Dizendo isto, o cegocégo travou com forcaforça do bracobraço de FernaoFernão d'Evorad’Evora, e encaminhou-se para a porta do capitulo.
 
"Esperae“Esperae, esperae!&mdash;—­bradou elrei.&mdash;—­Estaes louco, dom cavalleiro? Quem, se vosvós morrerdes, continuaracontinuará esta fabrica, taotão formosa filha de vosso engenho?"
 
"Mestre“Mestre Ouguet:&mdash;—­tornou o cegocégo, parando.&mdash;Nao—­Não sou taotão vil que negue seu saber e habilidade: se a abobada desabar segunda vez, ninguem no mundo eé capaz de a fechar com uma so volta, e para a firmar sobre uma columna erguida no centro, mestre Ouguet o farafará. Quanto ao resto do edificio, fazei senhor rei que se prosiga meu desenho: eé o que ora vos pecopeço taotão somentesómente."
 
E o velho e o seu guia sumiram-se por entre as bastas vigas, que sustinham as traves dos simples: elrei, Fr. LourencoLourenço, e os mais frades ficaram atonitos e calados.
 
"Que“Que taotão honrado mestre corra parelhas no risco com esses perros castelhanos cousa eé que se não podepóde soffrer: mas o voto eé voto, senaosenão..."
 
Estas palavras partiam da bocabôca d'umad’uma gorda velha, cuja tez avermelhada dava indicios de compleicaocompleição sanguinea e irritavel, e que de maosmãos mettidas nas algibeiras, na frente de uma das alas do povo presenceava o caso.
 
"Tendes“Tendes razaorazão, tia Brites d'Almeidad’Almeida; e por ser voto me calo eu:&mdash;—­acudiu elrei, voltando-se para a velha.&mdash;—­Mas juro a Christo, que estou espantado de so agora vos vervêr! Porque me não viestes falar?"
 
"Perdoe“Perdoe-me vossa mercemercê:&mdash;—­replicou a velha.&mdash;—­Eu vim trazer paopão aá feira, e ahi souhe da chegada de vossa real senhoria. Corri ... se eu correria para vos falar! Mas estes bocasbôcas abertas não me deixaram passar. Abrenuncio! Depois estive a olhar... Parecieis-me carregado de semblante. Que eé isso? Temos novas voltas com os excommungados castelhanos? Se assim eé, trosquiae-mos outra vez por Aljubarrota, que a pa não se quebrou nos sete que mandei de presente ao diabo, e ainda la estaestá para o que der e vier."
 
Soltando estas palavras, a velha tirou as maosmãos das algibeiras, e cerrando os punhos, ergueu os bracosbraços ao ar, com os meneios de quem já brandia a tremebunda e patriotica pa de forno, que hoje eé gloria e brasaobrasão da gothica villa de Aljubarrota.
 
"Podeis“Podeis dormir descancadadescançada, tia Brites:&mdash;—­respondeu elrei, sorrindo-se.&mdash;—­Bem sabeis que sou portuguez e cavalleiro, e a gente de nossa terra eé cortez: elrei de Castella veio visitar-nos varias vezes: e agora eu ando na demanda de lhe pagar com usura suas visitacoesvisitações."
 
Em quanto este dialogo se passava entre o heroe de Aljubarrota e a sua poderosa alliada, Martim Vasques tinha posto tudo a ponto; e dando as suas ordens da porta, as primeiras pancadas de martello, batendo nos simples, resoaram pelo ambito da casa capitular. Fez-se um grande silencio e todos os olhos se cravaram em Martim Vasques.
 
Passada uma hora, aquelle montaomontão de vigas, barrotes, taboas, cambotas, cabrestantes, reguas e travessas tinha passado pela crasta forafóra em collos de homens: os presos tinham sido postos em liberdade, com grande raiva da tia Brites ao vervêr ir soltos os besteirosbésteiros castelhanos; e so no centro da ampla quadra se via uma pedra, sobre a qual, mudo e com a cabecacabeça pendida para o peito, estava assentado um velho.
 
A este velho rogava elrei, rogavam frades, rogava o povo, sem todavia se atreverem a entrar, que saisse d'alli; mas elle não lhes respondia nada. Desenganados, emfim, foram-se pouco a pouco retirando da crasta, onde ao por do sol comecou a bater o luar de uma formosa noite de Maio.
 
Tres dias se passaram assim. Mestre Affonso, assentado sobre a pedra fria, nem se quer cedera as rogativas de Anna Margarida, que, obrigada pela boa amizade que tinha a seu amo, se atrevera a cruzar os perigosos umbraes do capitulo, para ver se o movia a tomar alguma refeicao: tudo recusou o cego: a sua resolucao era inabalavel. Tambem a abobada estava firme, como se fora de bronze. No terceiro dia a tarde elrei, que tinha passado o tempo em aparelhar-se para a guerra com actos de piedade, desceu a crasta acompanhado de Fr. Lourenco e de outros frades, e chegando a porta do capitulo viu Martim Vasques e Anna Margarida juncto a pedra fria de Affonso Domingues, e este pallido e com as palpebras cerradas encostado nos bracos delles.
 
A este velho rogava elrei, rogavam frades, rogava o povo, sem todavia se atreverem a entrar, que saisse d'allid’alli; mas elle não lhes respondia nada. Desenganados, emfim, foram-se pouco a pouco retirando da crasta, onde ao porpôr do sol comecoucomeçou a bater o luar de uma formosa noite de Maio.
O mancebo e a velha choravam e solucavam, sem dizerem palavra.
 
TresTrês dias se passaram assim. Mestre Affonso, assentado sobre a pedra fria, nem se quer cederacedêra asás rogativas de Anna Margarida, que, obrigada pela boa amizade que tinha a seu amo, se atreveraatrevêra a cruzar os perigosos umbraes do capitulo, para vervêr se o movia a tomar alguma refeicaorefeição: tudo recusou o cegocégo: a sua resolucaoresoluçào era inabalavel. TambemTambém a abobada estava firme, como se forafôra de bronze. No terceiro dia aá tarde elrei, que tinha passado o tempo em aparelhar-se para a guerra com actos de piedade, desceu aá crasta acompanhado de Fr. LourencoLourenço e de outros frades, e chegando aá porta do capitulo viu Martim Vasques e Anna Margarida juncto aá pedra fria de Affonso Domingues, e este pallido e com as palpebras cerradas encostado nos bracosbraços delles.
"Que temos de novo?&mdash;perguntou elrei, chegando a porta, e vendo aquelles dous estafermos.&mdash;Completam-se ora os tres dias do voto: ainda mestre Affonso teimara em estar aqui mais tempo?"
 
O mancebo e a velha choravam e solucavamsoluçavam, sem dizerem palavra.
"Nao senhor:&mdash;respondeu Martim Vasques, com palavras mal articuladas:&mdash;nao estara aqui mais tempo; porque seu corpo e heranca da terra; sua alma repousa com Deus."
 
"Que“Que temos de novo?&mdash;—­perguntou elrei, chegando aá porta, e vendo aquelles dous estafermos.&mdash;—­Completam-se ora os tres dias do voto: ainda mestre Affonso teimarateimará em estar aqui mais tempo?"
"Morto!?"&mdash;bradaram a uma voz elrei e Fr. Lourenco; e correram para o cadaver do architecto, olhando, todavia, primeiro para a abobada com um gesto de receio.
 
"Nao“Não senhor:&mdash;—­respondeu Martim Vasques, com palavras mal articuladas:&mdash;nao—­não estaraestará aqui mais tempo; porque seu corpo eé herancaherança da terra; sua alma repousa com Deus."
"Nada temaes, senhores:&mdash;disse Martim Vasques&mdash;As ultimas palavras do mestre foram estas: a abobada não cahiu ... a abobada não cahira!"
 
"Morto“Morto!?"&mdash;”—­bradaram a uma voz elrei e Fr. LourencoLourenço; e correram para o cadaver do architecto, olhando, todavia, primeiro para a abobada com um gesto de receio.
O architecto, já velho, não pode resistir ao jejum absoluto a que se condemnara. No momento em que, ajudado por Martim Vasques e Anna Margarida, se quiz erguer cahiu moribundo nos bracos delles, e aquelle genio de luz mergulhou-se nas trevas do passado.
 
"Nada“Nada temaes, senhores:&mdash;—­disse Martim Vasques&mdash;Vasques—­As ultimas palavras do mestre foram estas: a abobada não cahiu ... a abobada não cahiracahirá!"
Elrei derramou algumas lagrymas sobre os restos do bom cavalleiro, e Fr. Lourenco resou em voz baixa uma oração fervente pela alma generosa, que ate o ultimo arranco escrevera sobre o marmore o hymno dos valentes de Aljubarrota.
 
O architecto, já velho, não podepôde resistir ao jejum absoluto a que se condemnaracondemnára. No momento em que, ajudado por Martim Vasques e Anna Margarida, se quiz erguer cahiu moribundo nos bracosbraços delles, e aquelle genio de luz mergulhou-se nas trevastrévas do passado.
Na pedra, sobre a qual Mestre Affonso expirara, ordenou elrei se tirasse, parecido quanto fosse possivel retratando-se um cadaver, o vulto do honrado architecto, e que esta imagem fosse collocada em um dos angulos da casa capitular, onde durante mais de quatro seculos, como as sphynges monumentaes do Egypto, tem dado origem as mais desvairadas hypotheses e conjecturas. A pobre Anna Margarida, que ficava sem arrimo, doou D. João I, tambem, as casas em que o mestre morava, fazendo-lhe, alem disso, assignaladas merces.
 
Elrei derramou algumas lagrymas sobre os restos do bom cavalleiro, e Fr. LourencoLourenço resou em voz baixa uma oração fervente pela alma generosa, que ateaté o ultimo arranco escreveraescrevêra sobre o marmore o hymno dos valentes de Aljubarrota.
Mestre Ouguet, pelo que o cego dissera a elrei acerca da sua capacidade para o substituir, e porque, emfim, era estrangeiro, foi logo restituido ao cargo que occupara, e quando nos serões do mosteiro alguem falava nos meritos de Affonso Domingues e na sua desastrada morte, cortava o irlandez a conversação, dizendo com um riso amarello:
 
Na pedra, sobre a qual Mestre Affonso expiraraexpirára, ordenou elrei se tirasse, parecido quanto fosse possivel retratando-se um cadaver, o vulto do honrado architecto, e que esta imagem fosse collocada em um dos angulos da casa capitular, onde durante mais de quatro seculos, como as sphynges monumentaes do Egypto, tem dado origem asás mais desvairadas hypotheses e conjecturas. AÁ pobre Anna Margarida, que ficava sem arrimo, doou D. João I, tambem, as casas em que o mestre morava, fazendo-lhe, alemalém disso, assignaladas mercesmercês.
"Olhem que foi forte perda!"
 
Mestre Ouguet, pelo que o cegocégo dissera a elrei acercaácerca da sua capacidade para o substituir, e porque, emfim, era estrangeiro, foi logo restituido ao cargo que occuparaoccupára, e quando nos serões do mosteiro alguem falava nos meritos de Affonso Domingues e na sua desastrada morte, cortava o irlandez a conversação, dizendo com um riso amarello:
==Notas==
<references/>
 
"Olhem“Olhem que foi forte perda!"
[[Categoria:A Abóbada|Capítulo 05]]