Obras completas de Fagundes Varela (1920)/Vozes da América/Aurora: diferenças entre revisões

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==[[Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/145]]==
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Antes de erguer-se de seu leito de ouro,
O rei dos astros o Oriente inunda
De sublime clarão;
Antes de as asas desprender no espaço,
A tempestade agita-se e fustiga
O turbilhão dos euros.
 
<pages index==[[Página:"Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/" from=145]]= to=147 />
As torrentes de idéias que se cruzam,
O pensamento eterno que se move
No levante da vida,
São auras santas, arrebóis esplêndidos,
Que precedem à vinda triunfante
De um sol imorredouro.
 
O murmurar profundo, enrouquecido,
Que do seio dos povos se levanta,
Anuncia a tormenta;
Essa tormenta salutar e grande
Que o manto roçará, prenhe de fogo,
Na face das nações.
 
Preparai-vos, ó turbas! Preparai-vos,
Rebatei vossos ferros e cadeias,
Algozes e tiranos!
A hora se aproxima pouco a pouco,
E o dedo do Senhor já volve a folha
Do livro do destino!
</poem>
==[[Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/146]]==
<poem>
 
Grande há de ser o drama, a ação gigante,
Majestosa a lição! luzes e trevas
Lutarão sobre os orbes!
O abismo soltará seus tredos roncos,
E o frêmito dos mares agitados
Se unirá aos das turbas.
 
Os reis convulsarão nos tronos frágeis,
Buscando embalde sustentar nas frontes
As úmidas coroas...
Debalde!... o vendaval na fúria insana
Os levará com elas, envolvidos
Num turbilhão de pó!
 
Vis, abatidos, o fidalgo e o rico
Sairão de seus paços vacilantes
Nos podres alicerces...
E errantes sobre a terra irão chorando,
Mendigar um farrapo ao vagabundo,
E um pedaço de pão!
 
Estranho povo surgirá da sombra
Terrível e feroz cobrindo os campos
De cruentos horrores!
O palácio e a prisão irão por terra,
E um segundo dilúvio, então de sangue,
O mundo lavará!
 
O sábio em seu retiro, estupefato,
Verá tombar a imagem da ciência,
Fria estátua de argila,
E um pálido clarão dirá que é perto
O astro divinal que às turbas míseras
Conduz a redenção!
</poem>
==[[Página:Obras completas de Fagundes Varela (1920), I.djvu/147]]==
<poem>
 
Como aos dias primeiros do universo,
O globo se erguerá banhado em luzes,
Reflexos de Deus;
E a raça humana sob um céu mais puro
Um hino insigne enviará, prostrada
Aos pés do Onipotente!
 
Irmãos todos serão; todos felizes;
Iguais e belos, sem senhor nem peias,
Nem tiranos e ferros!
O amor os unirá num laço estreito,
E o trânsito da vida uma romagem
Se tornará celeste!
 
A hora se aproxima pouco a pouco;
O dedo do Senhor já volve a folha
Do livro do destino!...
Ergue-se a tela do teatro imenso,
E o mistério infinito se desvenda
Do drama do Calvário!
</poem>