Espumas Flutuantes (1913)/O Vôo do Gênio: diferenças entre revisões

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|obra={{PAGENAME}}O Vôo do Gênio
|autor=Castro Alves
|notas={{integra|poema=[[Espumas Flutuantes]]}}
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}}<poem>
[[Categoria:Castro Alves]]
{{d|À atriz Eugênia Câmara}}
[[Categoria:Poesia brasileira]]
Um dia em que na terra a sós vagava
Pela estrada sombria da existência,
Sem rosas-nos vergéis da adolescência,
Sem luz d'estrela-pelo céu do amor;
Senti as asas de um arcanjo errante
 
Roçar-me brandamente pela fronte,
<BR>A ATRIZ EUGÊNIA CÂMARA
Como o cisne, que adeja sobre a fonte,
As vezes toca a solitária flor.
E disse então: "Quem és, pálido arcanjo!
Tu, que o poeta vens erguer do pego?
Eras acaso tu, que Milton cego
Ouvia em sua noite erma de sol?
Quem és tu? Quem és tu?"&mdash;"Eu sou o gênio",
 
Disse-me o anjo "vem seguir-me o passo,
<BR>&nbsp;
Quero contigo me arrojar no espaço,
<BR>Um dia em que na terra a sós vagava
Onde tenho por c'roas o arrebol".
<BR>Pela estrada sombria da existência,
"Onde me levas, pois?..."&mdash;"Longe te levo
<BR>Sem rosas-nos vergéis da adolescência,
<BR>Sem luz d'estrela-pelo céu do amor;
<BR>Senti as asas de um arcanjo errante
 
Ao país do ideal, terra das flores,
<BR>Roçar-me brandamente pela fronte,
Onde a brisa do céu tem mais amores
<BR>Como o cisne, que adeja sobre a fonte,
<BR>As vezes toca a solitária flor.
E a fantasia-lagos mais azuis..."
<BR>E disse então: "Quem és, pálido arcanjo!
E fui... e fui... ergui-me no infinito,
<BR>Tu, que o poeta vens erguer do pego?
Lá onde o vôo d'águia não se eleva...
<BR>Eras acaso tu, que Milton cego
<BR>Ouvia em sua noite erma de sol?
<BR>Quem és tu? Quem és tu?"-"Eu sou o gênio",
 
Abaixo-via a terra-abismo em treva!
<BR>Disse-me o anjo "vem seguir-me o passo,
Acima-o firmamento&mdash; abismo em luz!
<BR>Quero contigo me arrojar no espaço,
"Arcanjo! arcanjo! que ridente sonho!"
<BR>Onde tenho por c'roas o arrebol".
&mdash; "Não, poeta, é o vedado paraíso,
<BR>"Onde me levas, pois?..."-"Longe te
Onde os lírios mimosos do sorriso
levo
Eu abro em todo o seio, que chorou,
 
Onde a loura comédia canta alegre,
<BR>Ao país do ideal, terra das flores,
<BR>Onde aeu brisatenho doo céucondão temde maisum amoresgênio infindo,
Que a sombra de Molière vem sorrindo
<BR>&nbsp;
Beijar na fronte, que o Senhor beijou..."
<BR>E a fantasia-lagos mais azuis..."
"Onde me levas mais, anjo divino?"
<BR>E fui... e fui... ergui-me no infinito,
&mdash; "Vem ouvir, sobre as harpas inspiradas,
<BR>Lá onde o vôo d'águia não se eleva...
 
O canto das esferas namoradas,
<BR>Abaixo-via a terra-abismo em treva!
Quando eu encho de amor o azul dos céus.
<BR>Acima-o firmamento- abismo em luz!
Quero levar-te das paixões nos mares.
<BR>"Arcanjo! arcanjo! que ridente sonho!"
Quero levar-te a dédalos profundos,
<BR>- "Não, poeta, é o vedado paraíso,
Onde refervem sóis... e céus... e mundos...
<BR>Onde os lírios mimosos do sorriso
Mais sóis... mais mundos, e onde tudo é meu...
<BR>Eu abro em todo o seio, que chorou,
 
"Mulher! mulher! Aqui tudo é volúpia:
<BR>Onde a loura comédia canta alegre,
A brisa morna, a sombra do arvoredo,
<BR>Onde eu tenho o condão de um gênio infindo,
A linfa clara, que murmura a medo,
<BR>Que a sombra de Molière vem sorrindo
A luz que abraça a flor e o céu ao mar.
<BR>Beijar na fronte, que o Senhor beijou..."
Ó princesa, a razão já se me perde,
<BR>"Onde me levas mais, anjo divino?"
És a sereia da encantada Sila.
<BR>- "Vem ouvir, sobre as harpas inspiradas,
 
Anjo, que transformaste-te em Dalila,
<BR>O canto das esferas namoradas,
Sansão de novo te quisera amar!
<BR>Quando eu encho de amor o azul dos céus.
"Porém não paras neste vôo errante!
<BR>Quero levar-te das paixões nos mares.
A que outros mundos elevar-me tentas?
<BR>Quero levar-te a dédalos profundos,
Já não sinto o soprar de auras sedentas,
<BR>Onde refervem sóis... e céus... e mundos...
Nem bebo a taça de um fogoso amor.
<BR>Mais sóis... mais mundos, e onde tudo é meu...
 
Sinto que rolo em báratros profundos...
<BR>"Mulher! mulher! Aqui tudo é volúpia:
Já não tens asas, águia da Tessália,
<BR>A brisa morna, a sombra do arvoredo,
Maldições sobre ti... tu és Onfália,
<BR>A linfa clara, que murmura a medo,
Ninguém te ergue das trevas e do horror.
<BR>A luz que abraça a flor e o céu ao mar.
"Porém silêncio! No maldito abismo,
<BR>Ó princesa, a razão já se me perde,
Onde caí contigo criminosa,
<BR>És a sereia da encantada Sila.
 
Canta uma voz, sentida e maviosa,
<BR>Anjo, que transformaste-te em Dalila,
Que arrependida sobe a Jeová!
<BR>Sansão de novo te quisera amar!
Perdão! Perdão! Senhor, p'ra quem soluça,
<BR>"Porém não paras neste vôo errante!
Talvez seja algum anjo peregrino…
<BR>A que outros mundos elevar-me tentas?
<BR>JáMas não! sintoinda oeras soprartu, degênio auras sedentasdivino,
Também sabes chorar, como Eloá?
<BR>Nem bebo a taça de um fogoso amor.
 
"Não mais, ó serafim! suspende as asas!
<BR>Sinto que rolo em báratros profundos...
Que, através das estrelas arrastado,
<BR>Já não tens asas, águia da Tessália,
Meu ser arqueja louco, deslumbrado.
<BR>Maldições sobre ti... tu és Onfália,
Sobre as constelações e os céus azuis.
<BR>Ninguém te ergue das trevas e do horror.
Arcanjo! Arcanjo! basta... já contigo
<BR>"Porém silêncio! No maldito abismo,
<BR>Onde caí contigo criminosa,
Mergulhei das paixões nas vagas cérulas...
Mas nos meus dedos &mdash; já não cabem &mdash;
Mas na minh'alma &mdash; já não cabe &mdash; luz!.
</poem>
 
[[Categoria:Castro Alves]]
<BR>Canta uma voz, sentida e maviosa,
[[Categoria:Espumas Flutuantes]]
<BR>Que arrependida sobe a Jeová!
[[Categoria:Poesia brasileira]]
<BR>Perdão! Perdão! Senhor, p'ra quem soluça,
[[Categoria:Romantismo brasileiro]]
<BR>Talvez seja algum anjo peregrino&#8230;
<BR>Mas não! inda eras tu, gênio divino,
<BR>Também sabes chorar, como Eloá?
 
<BR>"Não mais, ó serafim! suspende as asas!
<BR>Que, através das estrelas arrastado,
<BR>Meu ser arqueja louco, deslumbrado.
<BR>Sobre as constelações e os céus azuis.
<BR>Arcanjo! Arcanjo! basta... já contigo
<BR>&nbsp;
 
<BR>Mergulhei das paixões nas vagas cérulas...
<BR>Mas nos meus dedos - já não cabem -
<BR>Mas na minh'alma - já não cabe - luz!.
 
 
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