Espumas Flutuantes (1913)/Quem dá aos pobres, empresta a Deus: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Sem resumo de edição
 
m ajustes (AWB)
Linha 1:
{{navegar
|obra=Quem dá aos pobres, empresta a Deus
|obra={{PAGENAME}}
|autor=Castro Alves
|notas={{integra|poema=[[Espumas Flutuantes]]}}
}}
}}<poem>
[[Categoria:Castro Alves]]
Eu, Que a pobreza de meus pobres cantos
[[Categoria:Poesia brasileira]]
Dei aos heróis-aos miseráveis grandes&mdash;
Eu, que sou cego, &mdash; mas só peço luzes...
Que sou pequeno, &mdash; mas só fito os Andes....
Canto nest'hora, como o bardo antigo
 
Das priscas eras, que bem longe vão,
<BR>&nbsp;
O grande nada dos heróis, que dormem
<BR>Eu, Que a pobreza de meus pobres cantos
Do vasto pampa no funéreo chão...
<BR>Dei aos heróis-aos miseráveis grandes-,
Duas grandezas neste instante cruzam-se!
<BR>Eu, que sou cego, -mas só peço luzes...
Duas realezas hoje aqui se abraçam!...
<BR>Que sou pequeno, - mas só fito os Andes....
Uma-é um livro laureado em luzes...
<BR>Canto nest'hora, como o bardo antigo
 
Outra&mdash; uma espada, onde os lauréis se enlaçam.
<BR>Das priscas eras, que bem longe vão,
Nem cora o livro de ombrear coto sabre...
<BR>O grande nada dos heróis, que dormem
Nem cora o sabre de chamá-lo irmão...
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão...
Quando em loureiros se biparte o gládio
<BR>Duas grandezas neste instante cruzam-se!
Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>Duas realezas hoje aqui se abraçam!...
E foram grandes teus heróis, ó pátria,
<BR>Uma-é um livro laureado em luzes...
 
&mdash; Mulher fecunda, que não cria escravos &mdash;
<BR>Outra- uma espada, onde os lauréis se enlaçam.
Que ao trom da guerra soluçaste aos filhos:
<BR>Nem cora o livro de ombrear coto sabre...
"Parti &mdash; soldados, mas voltei-me &mdash; bravos!
<BR>Nem cora o sabre de chamá-lo irmão...
E qual Moema desgrenhada, altiva,
<BR>Quando em loureiros se biparte o gládio
Eis tua prole, que se arroja então,
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
De um mar de glórias apartando as vagas
<BR>E foram grandes teus heróis, ó pátria,
 
Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>-Mulher fecunda, que não cria escravos -,
E esses Leandros do Helesponto novo
<BR>Que ao trom da guerra soluçaste aos filhos:
Se resvalaram &mdash; foi no chão da história...
<BR>"Parti - soldados, mas voltei-me - bravos!
Se tropeçaram &mdash; foi na eternidade...
<BR>E qual Moema desgrenhada, altiva,
Se naufragaram-foi no mar da glória...
<BR>Eis tua prole, que se arroja então,
E hoje o que resta dos heróis gigantes?...
<BR>De um mar de glórias apartando as vagas
 
Aqui &mdash; os filhos que vos pedem pão...
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
Além &mdash; a ossada, que branqueia a lua,
<BR>E esses Leandros do Helesponto novo
<BR>SeDo resvalaramvasto - foipampa no funéreo chão da história...
Ai! quantas vezes a criança loura
<BR>Se tropeçaram - foi na eternidade...
Seu pai procura pequenina e nua,
<BR>Se naufragaram-foi no mar da glória...
E vai, brincando co'o vetusto sabre,
<BR>E hoje o que resta dos heróis gigantes?...
 
<BR>Aqui Sentar-se osà filhosespera queno vosportal pedemda pãorua...
Mísera mãe, sobre teu peito aquece
<BR>Além - a ossada, que branqueia a lua,
Esta avezinha, que não tem mais pão!...
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
Seu pai descansa &mdash; fulminado cedro &mdash;
<BR>Ai! quantas vezes a criança loura
Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>Seu pai procura pequenina e nua,
Mas, já que as águias lá no sul tombaram
<BR>E vai, brincando co'o vetusto sabre,
 
E os filhos d'águias o Poder esquece...
<BR>Sentar-se à espera no portal da rua...
"'E grande, é nobre, é gigantesco, é santo!...
<BR>Mísera mãe, sobre teu peito aquece
<BR>Esta avezinha, que não tem mais pão!...
<BR>Seu pai descansa - fulminado cedro -
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>Mas, já que as águias lá no sul tombaram
 
Lançai&mdash; a esmola, e colhereis-a prece!.
<BR>E os filhos d'águias o Poder esquece...
Oh! dai a esmola... que do infante lindo
<BR>"'E grande, é nobre, é gigantesco, é santo!...
Por entre os dedos da pequena mão,
Ela transborda... e vai cair nas tumbas
 
Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>Lançai- a esmola, e colhereis-a prece!.
Há duas cousas neste mundo santas:
<BR>Oh! dai a esmola... que do infante lindo
&mdash; O rir do infante, &mdash; o descansar do morto..
<BR>Por entre os dedos da pequena mão,
O berço-é a barca, que encalhou na vida,
<BR>Ela transborda... e vai cair nas tumbas
A cova &mdash; é a barca do sidéreo porto...
 
E vós dissestes para o berço-Avante!&mdash;
<BR>&nbsp;
Enquanto os nautas, que ao Eterno vão,
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
Os ossos deixam, qual na praia as ancoras,
<BR>Há duas cousas neste mundo santas:
Do vasto pampa no funéreo chão.
<BR>-O rir do infante, -o descansar do morto..
É santo o laço, em qu'hoje aqui s'estreitam
<BR>O berço-é a barca, que encalhou na vida,
De heróicos troncos-os rebentos novos-!
<BR>A cova -é a barca do sidéreo porto...
 
É que são gêmeos dos heróis os filhos,
<BR>E vós dissestes para o berço-Avante!-
Inda que filhos de diversos povos!
<BR>Enquanto os nautas, que ao Eterno vão,
Sim! me parece que nest'hora augusta
<BR>Os ossos deixam, qual na praia as ancoras,
Os mortos saltam da feral mansão...
<BR>Do vasto pampa no funéreo chão.
E um "bravo!" altivo de além-mar partindo
<BR>É santo o laço, em qu'hoje aqui s'estreitam
Rola do pampa no funéreo chão!...
<BR>De heróicos troncos-os rebentos novos-!
</poem>
 
[[Categoria:Castro Alves]]
<BR>É que são gêmeos dos heróis os filhos,
[[Categoria:Espumas Flutuantes]]
<BR>Inda que filhos de diversos povos!
[[Categoria:Poesia brasileira]]
<BR>Sim! me parece que nest'hora augusta
[[Categoria:Romantismo brasileiro]]
<BR>Os mortos saltam da feral mansão...
<BR>E um "bravo!" altivo de além-mar partindo
<BR>Rola do pampa no funéreo chão!...
 
''([[Espumas Flutuantes]], 3)''