Dieu soit en aide au pieux pélerin.
(Bouchard.)
Partes, amigo, do teu antro de aguias.
Onde gerava um pensamento enorme,
Tingindo as azas no levante rubro,
Quando nos valles inda a sombra dorme...
Na fronte vasta, como um céo de idéas,
Aonde os astros surgem mais e mais...
Quizeste a luz das boreaes auroras...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
Verás a terra da infeliz Moema,
Bem como a Venus se elevar das vagas;
Das serenatas ao luar dormida,
Que o mar murmura nas douradas plagas.
Terra de glorias, de canções e brios,
Sparta, Athenas, que não têm rivaes...
Que á voz da pátria deixa a lyrae ruge...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E quando o barco atravessar os mares
Quaes pandas azas, desfraldando a vela,
Ha de surgir-t′esse gigante immenso,
Que sobre os morros campeando vela...
Symb′lo de pedra, que o cinzel dos raios
Talhou nos montes, que se alteam mais...
Atlas com a fórma do gigante povo...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
Vai nas planicies dos infindos pampas
Erguer a tenda do soldado vate...
Livre... bem livre a Marselhesa aos echos
Soltar bramindo no feroz combate..
E após do fumo das batalhas tinto
Canta essa terra, canta os seus geraes,
Onde os gaúchos sobre as egoas voam...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E n′esse lago de poesia virgem,
Quando boiares nas subtis espumas,
Sacode estrophes, qual do rio a garça
Perolas solta das brilhantes plumas.
Pallido moço — como o bardo errante —
Teu barco vôa na amplidão fugaz.
A nova Grecia quer um Byron novo...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
E eu, cujo peito como uma harpa homerica
Ruge estridente do que é grande ao sopro.
Saúdo o artista, que ao talhar a gloria,
Pega da espada, sem deixar o escopro.
Da caravana guarda a arêa a pégada.
No chão da historia o passo teu verás...
Deus, que o Mazeppa nos steppes guia...
Deus acompanhe o peregrino audaz.
Recife, 1863.