A roda não podia ser mais encantadora, mais fina, mais distinta, nem a palestra mais agradável, mais alta, mais sutil. Conversava-se sobre estética feminina, vindo à bulha uma ilustre senhora, figura mundana de alto destaque, mas em quem o "decolletée" denuncia um colo desproporcionado, posto, com as modas atuais, em inteira liberdade.
— A Lúcia — explicou mme. Vieira do Prado — é um caso curioso, nesse gênero.
E contou:
— Imaginem vocês que ela, um dia, foi à minha casa, pedir o meu conselho, sobre o suicídio. Como o seu caso só pudesse ser liquidado pela morte, recomendei-lhe o veneno. Ela recusou. Lembrei-lhe o punhal. Não quis. Falei-lhe do tiro, receitando-lhe uma bala na cabeça. Achou que ficaria desfigurada, e impugnou a idéia. Afinal, ficou resolvido um tiro no coração. Ela faria a pontaria no lado esquerdo do peito, ficando combinado que, para que a bala atingisse, certeira, o órgão da vida, ela encostasse o cano do revólver no bico do seio. Ela fez isso, e puxou o gatilho.
— E não acertou no coração? — indagou alguém, com vivacidade.
Mme. Vieira do Prado sorriu:
— Qual nada!
E com gravidade, ao ouvido de cada um:
— A bala pegou... no joelho!