Eu vi passar, além, vogando sobre os mares
O cadaver d'Ophelia: a espuma da voragem
E as algas naturaes, serviam de roupagem
Á triste apparição das noites seculares!
Seguia tristemente ás regiões polares
Nos limos das marés; e a rija cartilagem
Sustinha-lhe tremendo aos halitos da aragem,
No peito carcomido, uns grandes nenuphares!
Oh! lembro-me que tu, minha alma, em certos dias
Sorriste já, tambem, nas vagas harmonias
Das cousas ideaes! mas hoje á luz mortiça
Dos astros, caminhando; apenas as ruinas
Das tuas creações fantasticas, divinas,
De pasto vão servindo aos lyrios da justiça!