Exulta, oh Paulicéa, a fronte eleva
Sorri da Grecia e de Esculapio estulto,
Affronta o velho mundo, ousada rompe
Nas aras da memoria ergue o teu vulto.
Cidade eterna de prodigios altos,
Que o genio domas de Misray potente,
Encrava em bronze com douradas lettras
Teu nome excelso de poder ingente.
O Cairo, a Grecia, a Babylonia antiga,
A culta França e a Bretanha ousada,
Ouvindo a fama que o teu nome alteia
Vacillam, tombam do lethargo ao nada!
Os vultos da sciencia purgatoria
Osiris e Chiron, o louro Apollo,
Vencidos de terror medrosos tremem,
E as frontes curvão no gretado solo!
Quem ha que possa competir comtigo,
Viçoso berço de varoens preclaros?
Nem Podalyros de saber profundo,
Ou d’aurea Praxithea os filhos charos!
Se alguem tentar sobrepujar teu nome,
De inveja prenhe e de lethal veneno,
Soberba aponta para o vulto herculeo
Do Pirulista de assombroso aceno.
Héroe fulgente, qual nao viu Athenas
Em almos dias que a sciencia esmaltam;
Professor magnus de purgantes acres —
Em piruletas que curando matam!
Impando affirma — que com bravas hervas
Sarou morphéa, e tudo mais que diz,
Tornou formosos carcomidos corpos,
Com pelle e carne, e magistral nariz.
Famintos cura, de dinheiro a falta,
Cabeças ôcas, de juizo ausencia,
Barriga dura, catarrhal defluxo,
A hydropsia e perennal demencia!
E para assombro, do renome, amostra,
Em um — Correio Paulistano — antigo,
O sello, a prova d’esta gran verdade,
Depois o prega em besbelhal postigo.
Caducas velhas de viver cansadas,
Que teem na coma claraboya immensa,
Tomando as dóses do doctor chamfana
Concebem, parem, sem temer doença!
Eis troam, rugem na rotunda pansa
Trovoens soturnos, sibilantes ventos,
Farpados rayos coruscantes ardem
Na cava estreita, em barrigaes tormentos!
Tomou aquella, por debique ou luxo.
Das taes pirúlas seis massitos — só!
Da pansa em fóra descretou bramindo
Maçada horrenda, ventania e pó!
E de improviso, por mysterio occulto,
Ou previdencia do remedio sancto,
Sentiu crescer-lhe a barrigaça a velha —
Um filho teve por fatal encanto!
Lá mais dous casos de eternal memoria
Um velho rengo, uma viuva annosa;
Purgado aquelle se transforma em joven,
A velha em moça virginal, formosa!
Silencio, oh povos! que lá vem milagre,
Repiquem sinos badalar tem-tem!
Attentos mirem da gazeta o caso;
— Lá parem veihas de janeiros cem!
Estende as azas, oh Galeno herculeo,
Adeja em tomo da virente Clio;
Despreza os parvos, a sandice estulta,
Berrar de sapos e da inveja o pio.
Em throuo calhandral erguido aos ares,
Entre nuvens de incenso purgantino,
Recebe as ovaçõens da gente enferma,
Nas salvas do ribombo tibertino.
Exulta, oh Paulicéa, a fronte eleva,
Sorri da Grecia e de Esculapio estulto
Affronta o velho mundo, ousada rompe
Nas aras da memoria ergue o teu vulto.
Rasgando os ares, da victoria certa,
Varrendo as ondas co’os prodigios teus,
Sacode os astros, as montanhas quebra,
Renome imprime nestes versos meus.
E o tal Galeno de purgar sedento,
Que as vidas troca por eterno sonho,
Eleva ao cume das espheras lucidas,
Nas crespas azas do tufão medonho.
Em torno monte de fecaes materias,
Quaes dundaras montanhas solevadas,
Receba altivo a coruscante aureola
Das mãos da fera Parca descarnadas!
S. Paulo.