A Manuel d'Oliveira Monteiro
No principio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lynce em olhos de Morcego.
Mas um dia, brincando, a Demencia, irritada,
Num impeto de furia os seus olhos vazou;
Foi a Demencia logo ás feras condemnada,
Mas Jupiter, sorrindo, a pena commutou.
A Demencia ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ella o cegou,
Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisiveis laços,
Quando o Amor emprehende a mais simples jornada,
Vae a Demencia adeante a conduzir-lhe os passos.