FABULA LVIII.
A Faia e a Cananoura.
A Faia alta e direita não queria dobrar-se ao vento, antes vendo a Cananoura, que se maneava facilmente, a conselhava que estivesse sem dobrar-se. Respondeo a Cananoura: Tu podes resistir, eu não, que não tenho raizes compridas, nem sou forte como tu es. Dizendo isto, veio hum pé de vento com braveza, que arrancou a Faia com raizes e tudo; mas a Cananoura, que se dobrou, ficou em pé.
MORALIDADE.
Mostra bem esta Fabula quão sujeitos estão a desastres os soberbos e os que a ninguem querem dobrar-se, e por outra parte, que segura he a humildade; porque os que soffrem com discrição, e obedecem aos tempos, ainda que pareção Cananouras fracas, permanecem mais que os soberbos.