FABULA LIII.


A Porca e o Lobo.

Estava huma Porca com dôres de parir, e hum faminto Lobo se chegou a ella, dizendo que era seu amigo, e tinha dó de a vêr desamparada, que queria servir-lhe de parteira. Bem entendeo a Porca que vinha elle por lhe comer os filhos, e dissimulando disse que não pariria em quanto elle alli estivesse, que era mui vergonhosa e que se pejava delle que era seu affilhado; por tanto que se fosse e a deixasse parir, e que depois tornaria. Fêlo o Lobo assim, mas em se desviando dalli, a Porca tambem se foi buscar hum lugar seguro em que parir.

MORALIDADE.

O que tem fama de Lobo, quando faz affagos se ha de fugir mais delle, porque os taes nunca fazem bem por virtude, senão por seu interesse. E destes quem não póde livrar-se por força, deve apartar-se com dissimulações, que tanto estará mais seguro de se queimar, quanto estiver mais longe de seu fogo.