A coruja e a aguia

Coruja e aguia, depois de velha dissenção, resolveram fazer as pazes.

— Basta de guerra, amiga. O mundo é grande e tolice maior andarmos uma a comer os filhos da outra.

— Perfeitamente, retrucou a aguia. Tambem eu não quero outra cousa.

— Nesse caso assentemos nisto: d'ora em deante nunca paparás os filhos meus.

— Muito bem. Mas como posso distinguir dos outros os teus filhotes?

— Cousa facil. Sempre que déres com uns borrachos lindos, bem feitos de corpo, alegres, vivos, cheios dum encanto especial que não existem em filhotes de nenhuma outra especie, já sabes, são os meus.

— Feito! rematou a aguia.

Dias depois, andando á caça, encontrou a aguia um ninho com tres mostreguinhos dentro, a piar, de bico aberto.

— Horriveis bichos! disse ella. Vê-se logo que não são os filhos da coruja. E papou-os.

Mas eram os filhos da coruja, e a triste mãe, ao regressar, chorou amargamente o desastre, indo justar contas com a rainha das aves.

— Quê? disse esta, admirada. Teus filhos, aquelles monstrozinhos? Pois, olha, não pareciam nada com o retrato que delles me fizeste!...


Para retrato de filho ninguem acredite em pintor pae. Lá diz o dictado: quem o feio ama bonito lhe parece.


Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.


Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.